A esquerda pequeno-burguesa e as direções das organizações populares tiraram férias longas, muito maiores do que qualquer trabalhador brasileiro possa sonhar. Estamos falando do recesso das manifestações contra Bolsonaro que aconteceram no ano passado, movimentaram milhões de pessoas nas ruas. A última ocorreu em novembro. Foram, portanto, mais de quatro meses com atividade próxima de zero.
Agora, como que despertando lentamente do sono, com muita preguiça, marcou-se um ato para o próximo dia 9 de abril, sábado. Despertando, mas ainda bêbadas de sono, as organizações marcaram um ato, mas sem nenhuma convocação e divulgação. Poucos sabem de sua existência.
A esquerda pequeno-burguesa está muito preocupada com as eleições que se aproximam, nas aliança com direitistas e garantias de que o cargo público não seja ameaçado.
É exatamente o clima eleitoral que vigora no chamado para o próximo ato. Os organizadores trocaram a palavra de ordem de “Fora Bolsonaro” por “Bolsonaro nunca mais”. Substituíram, assim, um chamado combativo por um de tipo eleitoral.
O povo que encheu as ruas no ano passado o fez porque queria e quer que Bolsonaro e os golpistas saiam fora do governo. Querem que o Brasil fique livre dessa corja. É uma palavra de ordem que chama para a mobilização do povo.
Chegadas as eleições, inventaram o “Bolsonaro nunca mais” que pode ser propaganda eleitoral para a esquerda ou para a terceira via. Quer dizer o seguinte, que se o povo quer “Bolsonaro nunca mais”, basta ir lá e votar, não precisa se mobilizar, não precisa derruba-lo na marra.
O real conteúdo dessa mudança na palavra de ordem é a presença da terceira via infiltrada no movimento. Se no ano passado tentaram, sem sucesso, enfiar a terceira via nas manifestações convidando a escória do PSDB, Ciro Gomes e outros golpistas, agora, aproveitando a desmobilização que eles mesmo causaram, querem colocar a terceira via no próprio chamado do ato.
Segundo eles, Bolsonaro tem que sair, mas o PSDB terceira via pode continuar dando o golpe à vontade.
Por isso, desde sempre, as pretensas lideranças do movimento, se esquivaram de chamar outra palavra- de ordem central para o momento: “Lula presidente”. Não se quer falar o nome de Lula porque querem a terceira via no ato.
E para piorar tudo, a manifestação está sendo chamada para a Praça da República, um local que não tem nem de longe o mesmo potencial de mobilização do que a Avenida Paulista. Assim é difícil.
Mas tudo pode ser ainda pior. A arte de convocação do ato é verde e amarela, ao melhor estilo coxinha golpista. A cor vermelha foi abandonada, e mais ou menos como abandonar o povo que lutou contra o golpe e contra a tentativa da direita de sufocar a esquerda e suas cores.
Aos trabalhadores e ativistas que querem verdadeiramente se mobilizar contra Bolsonaro e todos os golpistas, resta se esforçar para novamente – como já foi feito no ano passado – passa por cima da modorra das direções desse movimento. É preciso colocar o povo na rua! E para os viciados em eleições, fica um alerta: o que estão fazendo com o movimento é a receita para o fracasso eleitoral.