A reintegração de posses sempre envolve muita luta e, também, muita injustiça também. No Pará, isso não seria diferente. Entretanto, no território paraense, a luta é contra uma das maiores empresas de óleo de palma do Brasil, a Biopalma Reflorestamento S.A.
De acordo com as informações fornecidas pelo ITERPA – Instituto de Terras do Pará – a área ocupada, que pertence à comunidade Virgílio Serrão Sacramento, fica distante cerca de 4 km da “Fazenda Sumaúma”, utilizada pela Biopalma para tentar justificar a reintegração de posse do local.
Biopalma
A Biopalma Reflorestamento S.A, é uma empresa da Vale em sociedade com o Grupo MSP, que inaugurava em 2012 sua primeira usina extratora de palma (popularmente conhecido como dendê). A usina fica no município de Moju, a 150 km de Belém, no Pará, e é a primeira de duas unidades que serão construídas para extrair o óleo de palma. Segundo a Vale, o investimento total do projeto é de US$ 500 milhões
O óleo pode ser usado em diversos setores como cosméticos, produtos farmacêuticos, lubrificantes e alimentos. Segundo a Vale, para o uso de biocombustível, está comprovado que a palma tem a melhor produtividade (tonelada por hectare) entre as oleaginosas. A soja, principal matéria-prima do biodiesel brasileiro, tem produtividade dez vezes menor que a palma e é mais intensiva no uso da terra, explica a Vale. No Brasil, cerca de 80% da produção de óleo de palma é destinada à indústria alimentícia, como matéria-prima para produtos de grande consumo, como biscoitos, sorvetes, bebidas lácteas, temperos e alimentos pré-fritos. Ou seja, fica claro que é extremamente valiosa aos capitalistas.
Vale notar que a Biopalma foi fundada em 2007, mas, em 2020, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça, aprovou, sem restrições, a aquisição da Biopalma pela Brasil Bio Fuels (BBF).
A BBF atua em todas as etapas do processo de produção energética, desde o cultivo e manejo do insumo (palma ou dendê), utilizado para a produção de biodiesel e biomassa, até a geração de energia. Em dezembro de 2020, agindo de forma sorrateira e agressiva, entrou na área ocupada pelas famílias em um carro com 2 seguranças e um funcionário tirando fotos das casas, plantios e das famílias, dizendo que a empresa era dona da área e que deveriam se retirar do local. Isso ocorreu no pico da pandemia de Covid-19.
As famílias estão nessas terras há mais de 7 anos por 38 famílias, as quais tem um pedido de regularização fundiária feito no ITERPA em 2016, com conhecimento do INCRA, EMATER e outros órgãos.
“Desde de o final de 2015 as famílias moram e ocupam a área de forma pacífica, realizando atividades agrícolas com respeito ao meio ambiente e aos recursos naturais” dizem os camponeses ligados ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)
Segundo levantamentos feitos pelo MPA, não incidem títulos de propriedades particulares na área ocupada, ou seja, pertencem ao patrimônio público do Estado do Pará. Este histórico pode ser comprovado através de fotos, atas de reuniões e ocupações realizadas na sede do INCRA e do ITERPA em Belém.
As famílias da comunidade sempre denunciaram as intimidações e ameaças feitas por funcionários desta empresa através de drones e caminhonetes percorrendo a área, sempre tentando identificar as lideranças amedrontando as famílias para abandonarem o local. Por isso, o Movimento e as famílias sempre pediram para que o ITERPA se manifestar sobre a questão, o que não ocorreu até o início da pandemia causada pelo Covid-19.
“Repudiamos a ação criminosa e desumana desta empresa que vem grilando terras no estado do Pará, cometendo crimes ambientais, violando direitos trabalhistas e causando danos irreparáveis aos nossos rios, igarapés e nascentes em nossa região do Baixo Tocantins nos município de Moju, Igarapé-mirim, Acará e Tailândia, Além disso, percebemos que se trata de uma tentativa de legitimar a grilagem de terras públicas que vêm ocorrendo no município”, dizem integrantes da MPA.
O estranho incidente:
Uma balsa em 2019, à serviço da empresa Biopalma, do grupo da gigante multinacional Vale, derrubou 70 metros da ponte sobre o rio Moju, interrompendo por longos meses o tráfego na Alça Viária e provocando enormes prejuízos à economia e ao povo paraense, terra do então governador Helder Barbalho, que é filiado ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
É uma longa briga
Desde 2012, em reuniões feitas tanto com a empresa Biopalm quanto com a comunidade, o MPF registrou várias denúncias de contaminação, com a morte de animais e peixes e a proliferação de doenças. Em comunicado à sociedade, o MPF (Ministério Público Federal) relata: “Adultos e crianças sentem muita dor de cabeça, febre, diarreia e vômito. Estão dispostos a negociar e a ouvir as propostas da empresa. Os alimentos estão ficando contaminados. A comunidade foi procurar a empresa para reivindicar saneamento e a empresa se recusou, disse que não tinha nada a ver com isso.“
No Brasil, de um modo geral, a relação entre propriedade e uso da terra segue um padrão: em regime de agricultura familiar são produzidos alimentos para subsistência e abastecimento regional, enquanto os grandes latifúndios monocultores agroindustriais destinam sua produção à exportação.
Embora a agricultura familiar seja, se comparada ao grande agronegócio, negligenciada pelas políticas públicas, é ela quem garante a produção brasileira de gêneros alimentícios.
O Pará apresenta um alto índice GINI (instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo ) de concentração de terras de 0,82324 . É a unidade federativa que lidera as estatísticas de apropriação ilegal de terras através da falsificação de títulos de propriedade, crime conhecido como grilagem.
Fica claro, portanto, que o judiciário burguês serve unicamente para garantir os interesses da burguesia. Ou seja, fazem de tudo, inclusive usar de uma brutalidade sanguinária, para oprimir o povo e expulsá-lo das terras que são suas por direito. Por isso, é imprescindível que a população sem terra forme comitês de autodefesa no campo e se armem contra as investidas fascistas da burguesia nacional.