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Atentado contra Imran Khan e a mobilização popular no Paquistão

O primeiro-ministro deposto do Paquistão, Imran Khan, sofreu um atentado ontem (03) enquanto participava de um comício na região de Punjab.

Um jovem disparou contra as pernas do líder do partido nacionalista Tehreek-e-Insaf. Felizmente, Khan não sofreu ferimentos de maior gravidade devido à região menos sensível que foi atingida.

“Um homem abriu fogo com uma arma automática. Várias pessoas ficaram feridas. Imran Khan também foi ferido”, disse um membro do partido.

Após ser detido, o atacante admitiu que seu único alvo era Imran Khan, porque ele estaria “enganando o povo”. Nenhum grupo político assumiu a autoria do atentado até o momento.

O comício era uma carreata acompanhada de uma multidão de pedestres que ia em direção à capital Islamabad para tentar forçar o novo governo, liderado por Shahbaz Sharif, a antecipar novas eleições.

Khan foi deposto em abril deste ano, quando sofreu um voto de desconfiança do parlamento. A votação foi precedida por uma campanha contra o então primeiro-ministro, que acusou os Estados Unidos de estarem por trás do que viria a ser um verdadeiro golpe de Estado.

Mesmo antes de ser derrubado, Khan iniciou um movimento popular entre os seus apoiadores ─ milhões de paquistaneses ─ na tentativa de evitar sua queda. Denunciou também a União Europeia e a OTAN por tentarem forçar o seu país a votar resoluções nos organismos internacionais e aderir às sanções contra a Rússia, o que, conforme argumentou, não era de interesse do Paquistão, que tem Moscou como um importante parceiro comercial. Ele disse que o imperialismo trata o país asiático como um vassalo.

Se o atentado de ontem procurava frear o movimento popular em torno de Khan, não conseguiu. Logo após o ataque, as multidões mantiveram-se na rua e protestam agora contra aquilo que veem certamente como uma conspiração política ─ articulada pelo imperialismo? ─ para colocar o hoje líder de massas para fora do jogo político.

Mobilização popular

Desde então, Khan tem percorrido o país denunciando o golpe e chamando à mobilização popular contra o governo golpista, sempre acusando os Estados Unidos por estar por trás do golpe.

Khan e seu partido nunca tiveram uma política verdadeiramente de esquerda, nem mesmo reformista no sentido nacionalista e social-democrática, tampouco socialista. O Paquistão sempre foi um aliado do imperialismo, apesar de suas contradições em alguns momentos ─ como nos anos 1990 e 2000, quando fornecia apoio ao Talibã. Tendo assumido em 2018, Khan não modificou praticamente em nada essa tradição.

Entretanto, após a derrota no Afeganistão ─ vizinho do Paquistão ─ para o Talibã, em 2021, e o golpe que sofreu com o início da operação militar especial da Rússia na Ucrânia, o imperialismo mergulhou em uma crise ainda maior. Isso fez com que vários países oprimidos tentem reduzir o controle que sofrem do imperialismo. A burguesia nacional e os clãs políticos de diversos países começaram a entrar em uma contradição mais profunda com o domínio imperialista na África, América Latina, Europa Central e Oriental e na Ásia.

Esse é o caso de Imran Khan e o grupo político que ele representa. Sendo um político ligado à burguesia nacional paquistanesa, e tendo os interesses dessa burguesia nacional se chocando com os interesses do imperialismo dentro do país, Khan foi derrubado e passou à oposição mais radical ao imperialismo.

Para isso, conta com o apoio dos trabalhadores paquistaneses. Porque neste caso os interesses da classe trabalhadora coincidem com os interesses da ala da burguesia nacional paquistanesa representada por Khan. O inimigo principal é o mesmo: o imperialismo. Como a burguesia nacional ─ tal qual essa mesma classe em qualquer país oprimido ─ é frágil, ela precisa se apoiar na força da classe trabalhadora e das massas populares para retomar o controle relativo da política do país.

O principal problema é que, precisamente devido à fragilidade da burguesia nacional paquistanesa, a classe trabalhadora acaba assumindo o protagonismo dessa luta contra o imperialismo. Porque ela é, de fato, a única força capaz de derrotar o imperialismo e seu governo golpista.

Assim, pressionado pela mobilização dos trabalhadores, Khan tem radicalizado o seu discurso, cada vez mais nacionalista e mesmo anti-imperialista. Ele precisa acompanhar a radicalização das massas para que o nacionalismo burguês não perca o controle sobre elas e seja ele também ultrapassado por uma mobilização revolucionária.

Os trabalhadores paquistaneses, em meio aos protestos, já sinalizaram essa radicalização ao invadirem empresas de distribuição de energia, privatizadas. A mobilização, que começou como uma reivindicação de retomada da liderança do país pelo primeiro-ministro deposto, passou a ter reivindicações de caráter anti-imperialista e até mesmo anticapitalista.

O Paquistão e o Brasil

São enormes multidões que tomam as ruas do Paquistão há meses na luta contra os golpistas e o imperialismo, em defesa do primeiro-ministro burguês que se tornou um líder popular de massas. Algo que guarda alguma semelhança do que ocorreu em Honduras, quando o latifundiário nacionalista Manuel Zelaya foi eleito e depois derrubado por um golpe policial e militar dos EUA, tendo assumido uma posição abertamente de esquerda e popular na luta contra o golpe, derrotado finalmente com o movimento popular que se desenvolveu nos anos que se seguiram e que levou à eleição de sua esposa, Xiomara Castro.

Essa movimentação no Paquistão é igual à que poderia perfeitamente ter ocorrido no Brasil em 2016, quando Dilma Rousseff foi derrubada pelo golpe imperialista. Contudo, a esquerda naquele momento demorou para reagir. Mas, apesar da demora na reação e de todos os erros, hoje conseguimos eleger o ex-metalúrgico Lula. Contra a vontade da maior parte da burguesia nacional e imperialista, que vai tentar colocar sob controle o seu governo e, se preciso, derrubá-lo ─ como quer uma parte dos capitalistas e dos setores de extrema-direita.

Por isso é necessário que o PT e a esquerda olhem o que está ocorrendo no Paquistão e sigam o exemplo das massas paquistanesas para impor o respeito à vontade popular pela burguesia e pela extrema-direita e organizar o movimento operário e social para prepará-lo para qualquer eventualidade golpista do imperialismo.

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