Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Governo ds trabalhadores

As armas da esquerda

Duas esqeurdas, uma que defender a opressão estatal, outra que buscar a mobilização popular

Nos primeiros dias de novembro, tivemos um debate no mínimo desanimador, num grupo com dirigentes locais de tendências do PT e outros partidos da esquerda, dirigentes sindicais e demais militantes, onde articulamos os Comitês da Campanha Lula 2022. A divergência deu-se após minha proposta de organizar manifestações em defesa do governo Lula na cidade João Pessoa, onde ocorrem manifestações bolsonaristas. 

Houve abertamente duas posições divergentes, a primeira do companheiro do Trabalho, sindicalista do ANDES, que achou mais prudente esperar até o início da semana posterior por orientações nacionais da sua corrente. Passadas duas semanas, e até o momento, não foi repassado esse posicionamento no grupo, e sequer tomei conhecimento de qualquer nota pública dessa tendência sobre o tema.

Esses participantes seguem no ostracismo, e quanto aos demais, a única discussão do grupo é sobre a equipe de transição para a educação. Tem-se a impressão de que essa equipe ou vai acabar com o golpe e definir o futuro da classe trabalhadora, ou está para decidir o futuro pessoal deles.

O segundo posicionamento chama atenção, sendo extremamente nocivo à classe trabalhadora. A posição era de pressionar os governos, estadual e municipal, para acionarem as polícias e a guarda municipal para reprimir os manifestantes da direita.

O dono das armas

Uma questão básica da política levantada por Nicolau Maquiavel no livro O Príncipe, em 1513, é a quem pertencem as armas. O autor colocava que: “As mercenárias e as auxiliares são inúteis e perigosas”, um estado ou grupo político apoiado em forças que não são suas está em perigo.

O autor aponta que num Estado, ou qualquer outra entidade política que está apoiado em forças que não lhe pertencem torna certo seu infortúnio. Pelo contrário, no Estado com cidadãos armados, esse são livres, como o foram na Comuna de Paris, no breve período em que ela resistiu ao cerco.

Estado burguês

O Estado de Direito é uma expressão política do capitalismo, do Estado burguês, uma ditadura da classe burguesa sobre as demais. Todas as instituições do Estado têm esse caráter, suavizando ou agudizando de acordo com a luta das classes.

Não precisa muito esforço para perceber que o Estado burguês não está oposto às manifestações, pelo contrário, ele as alimenta. A política da burguesia é claramente de desenvolver as forças da extrema-direita, mantendo-as em condições de ação caso necessário.

A extrema-direita não é uma força política sem lastro social, ela é alavancada pela burguesia burguesia que mantém a direita tradicional e fala em Estado de Direito. Ela também é uma arma da burguesia contra a classe operária, que não é utilizada continuamente em razão da oposição da classe trabalhadora.

Sendo assim, é óbvio que não utilizaram uma força sua contra outra, no máximo há um teatro de perseguição para satisfazer a pequena burguesia e fortalecer o apoio operário à extrema-direita. Bolsonaro teve uma postura bastante beligerante contra as instituições, mas não nada sofreu, os “peixes pequenos” da extrema-direita, porém, sentiram na pele a sanha persecutória das instituições.

O pior tratamento, como não poderia deixar de ser, coube ao setor mais ativo da esquerda antiimperialista no Brasil, o Partido da Causa Operária. Nós tivemos nossas redes sociais bloqueadas, mais que uma censura foi um verdadeiro empastelamento, todo um patrimônio de comunicação foi destruído, tendo reflexo inclusive na manutenção econômica do partido.

As armas da esquerda

Defender que a esquerda, a classe trabalhadora, venha a depender das armas da direita, do Estado burguês, é infrutífero e criminoso. Essa política acaba por confundir os trabalhadores, deixando-os desarmados perante a burguesia.

A esquerda pequeno-burguesa acredita que o Estado burguês também lhe representa, e por isso defende seus interesses. Um erro que demonstra seu caráter e sua incapacidade como classe de liderar a luta política contra a burguesia.

Para a esquerda, apoiar a repressão estatal é dar poderes ao Estado que serão utilizados de forma amplificada contra a própria esquerda. Esse, inclusive, é um erro que os trabalhadores mais oprimidos da periferia não cometem, eles conhecem o real papel social das polícias. 

Galinha que choca pato

A pequena burguesia naturalmente é avessa à mobilização da classe operária, estando sempre disposta à conciliação. Além de que, em sua maioria, nos momentos de polarização a pequena burguesia busca o amparo da burguesia e do seu Estado, sempre oferecendo-se como uma administradora do mesmo.

Esse cenário espanta os trabalhadores e coloca-os a reboque da extrema-direita, que demagogicamente posiciona-se como antissistema. O destino da esquerda pequeno-burguesa que segue essa política de frente popular é afundar junto com os políticos tradicionais da direita, que acaba se utilizando da esquerda para ter alguns dos membros ressuscitados.

A realidade impõe a luta de classes, a polarização tem uma raiz na realidade econômica concreta sendo por isso inevitável. O erro dessa esquerda que tenta evitar a polarização quando deveria impulsioná-la, rejeitando essa realidade ela acaba desmoralizada com os trabalhadores.

As manifestações bolsonaristas

Logo após o segundo turno, a militância de extrema direita saiu às ruas em manifestação contra o resultado. Houve bloqueios de estradas e manifestações com milhares de manifestantes que permanecem ainda em diversos pontos.

As manifestações demonstraram haver uma base militante de extrema-direita e que conta com o apoio de parte da classe operária. Esse movimento real faz seu lastro na desmoralização da esquerda pequeno-burguesa e na impulsão dos patrões.

Um verdadeiro movimento massivo, que foi base de 58.206.322 votos no segundo turno e das manifestações, ao qual já se somaram centenas de milhares de participantes. A política da esquerda de querer desmoralizar a extrema-direita como alucinada e não debater politicamente a situação, é um erro que custará caro.

A crise da esquerda pequeno-burguesa é tamanha que o Partido Socialismo e Liberdade na Paraíba (Psol/PB), que na figura do seus representantes Adjany Simplício, Alexandre Soares e Tárcio Teixeira, abriu uma representação de queixa-crime contra os manifestantes da extrema-direita, resultando na notícia-crime n° 0827485-79.2022.8.15.0000.

Um endurecimento do regime proposto pelo Psol/PB, aprofundará a opressão aos trabalhadores que lutam pela terra, que já são alvejados, e também os indiciados. O poder estatal burguês sempre colocará seu jugo sobre os trabalhadores. Como podemos constatar, ainda hoje sobram chacinas como as de 89.

Como evitar o próximo golpe

Os diversos golpes que sofremos nas últimas décadas demonstram o papel da esquerda pequeno-burguesa no apoio a esses golpes. Partidos como o Psol e PSTU, foram essenciais nas campanhas golpistas do Mensalão, Não vai ter Copa, e no Fora Dilma.

Eles ignoraram os indicadores concretos dos golpes de Estado e aderiram à posição do imperialismo norte-americano. No mínimo essa esquerda se omitiu perante os golpes, emperrando o desenvolvimento da classe trabalhadora.

Nesse momento, não podemos descartar ações do imperialismo para um golpe no Lula após sua posse, primeiro tentando engessar o governo, em uma disputa encarniçada que teve início na própria chapa Lula Alckmin. Algo que pela movimentação da extrema-direita lembra o cenário do segundo mandato de Dilma.

Essa manobra não é novidade, o imperialismo a encenou em todos os governos do PT, sempre mobilizando a extrema-direita, contando com o apoio da esquerda pequeno-burguesa. Todas as vezes a pedra de toque da situação foi a mobilização popular, o que evitou o golpe em outros momentos e  o que garantiu os segundos mandatos dos governos do PT foi a mobilização popular, esse é o caminho.

Barrar a extrema-direita

Apenas a classe operária organizada pela esquerda pode derrotar a extrema-direita, essa demanda não pode ser delegada ao Estado burguês. As organizações da classe trabalhadores devem mobilizar as suas bases em torno das suas necessidades, trazendo para as suas fileiras os trabalhadores que estavam sob a influência da extrema-direita.

A orientação da esquerda nunca deve ser de reprimir, mas de mobilizar, organizar e se defender lutando pelos seus interesses. Na Paraíba não é diferente, a CUT, sindicatos e partidos de esquerda, em vez de processar manifestantes ou esperar pela repressão das polícias, devem ir às bases mobilizar na defesa de um governo dos trabalhadores. Quanto ao teatro da extrema-direita, a primeira manifestação massiva da esquerda determinaria o deste.

Um governo dos trabalhadores será fruto da força mobilizada dos trabalhadores. Os trabalhadores não recebem nada de graça do Estado, tudo que os trabalhadores conseguem é através da luta. A repressão estatal termina sempre contra a classe operária.

A primeira vitória da mobilização popular do período

O resultado das eleições presidenciais de 2022 foi uma vitória da mobilização popular. Superando a política equivocada do PT e da maioria da esquerda, a popular, mesmo ainda em refluxo, desmontou o regime de exceção imposto pelos golpes de 2016 e 2018.

Não há como luta contra o imperialismo sem lutar pelas condições de vida da classe trabalhadora. A única forma do governo Lula conseguir atender as necessidades da população, será através da mobilização popular.

__________
*As opiniões dos colunistas não expressam, necessariamente, as deste Diário.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.