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Confusão política

Antes de criticar, é preciso ler

Uma breve leitura revela que a Esquerda Marxista, do PSOL, não se deu nem o trabalho de se informar acerca do posicionamento do PCO sobre o conflito na Ucrânia

Já deve ser de comum conhecimento que, ao criticar, ou até mesmo comentar sobre determinado assunto, é preciso, antes de qualquer coisa, se informar acerca do que se está falando. Mais precisamente, ao rebater um posicionamento, é óbvio que o primeiro passo a se tomar é conhecer e compreender este posicionamento.

Apesar de senso comum, parece que os companheiros da Esquerda Marxista não conseguiram seguir os primeiros passos na redação de uma polêmica. Nesta quinta-feira (10), em seu sítio na internet, o grupo publicou um artigo intitulado “PCO e o apoio a Putin contra a Ucrânia: uma caricatura do internacionalismo”.

No texto, a Esquerda Marxista (grupo interno do PSOL) critica a posição do PCO em relação ao conflito na Ucrânia, afirmando ser um abandono de “toda a política do marxismo de independência de classe e de defesa da classe operária”.

Vejamos, então, o que dizem.

O problema da “desnazificação”

Um dos principais argumentos da Esquerda Marxista é o de que a desnazificação da Ucrânia, objetivo declarado da Rússia, seria uma farsa, um pretexto para invadir o país. Entretanto, o autor não enumera absolutamente nenhum motivo pelo qual isso seria uma mentira. Pelo contrário, o texto cai em sua própria crítica:

“O partido também se apoia no argumento de que o objetivo de Putin é a ‘desnazificação’ da Ucrânia – o que Putin não faz nem no próprio país –, aceitando todas as ‘justificativas’ apresentadas por Putin, como se ele fosse uma figura honesta e ilibada, que não representasse os interesses da classe que explora e oprime os trabalhadores”, escreve o grupo.

Mais adiante, o autor chega até mesmo a afirmar que “Por mais que as ilusões do PCO digam que esta guerra é contra a “nazificação” da Ucrânia, nenhum fato corrobora para essa afirmação. Pelo contrário, há grupos fascistas também apoiados pela Rússia lutando nas autoproclamadas repúblicas do Donbass.”

Estaríamos, então, aceitando cegamente as justificativas de Putin. Aqueles que acompanham nossa imprensa, nem que seja por um dia, sabem que se trata de um absurdo. Afinal de contas, absolutamente todas as análises feitas pelo partido se baseiam em fatos e por uma análise da situação material concreta.

A Esquerda Marxista, na realidade, mostra que eles são os ingênuos. Afinal, de quem é a posição de que o nazismo ucraniano seria apenas um pretexto para Putin? Da imprensa capitalista. Sem contar na acusação vazia de que, supostamente, a Rússia apoia grupos fascistas em Donbass. Para isso, nenhuma prova foi apresentada por parte do grupo. Devemos, então, aceitar essa caracterização?

A confusão se mostra ainda mais profunda quando o autor afirma que o “governo de Zelensky foi apoiado por grupos fascistas na Ucrânia e dá suporte e armamento a esses, com o aval dos EUA”. Em um momento existem nazistas na Ucrânia que são sustentados pelos EUA. Em outro, é apenas uma mentira de Putin. Uma verdadeira esquizofrenia.

A realidade é que a Ucrânia está infestada por forças nazistas. Na realidade, ela exporta o nazismo para todo o mundo e, à medida que as forças russas avançam sobre o território da Ucrânia, mais e mais escândalos são descobertos. E não é preciso tomar a palavra dos russos como definitiva, a conjuntura política ucraniana após o golpe de 2014 confirma de maneira cabal as denúncias da Rússia contra o fascismo no país.

Eles não sabem qual a posição do PCO

No meio do artigo, uma frase em particular chama atenção:

Ao contrário do que afirma o PCO, a Ucrânia está muito longe de ser considerada um país imperialista”, e o mais vergonhoso é que gastam um parágrafo inteiro acerca dessa questão.

Afirmar que o PCO considera a Ucrânia um país imperialista é de uma canalhice sem igual. É tão absurda a afirmação que entra em contradição com o esforço do PCO para mostrar que a própria Rússia, um país muito mais rico que a Ucrânia, não é um país imperialista, como afirma a imprensa capitalista e setores da esquerda nacional para justificar o apoio à OTAN.

Se o PCO não considera, como de fato não é, a Rússia imperialista, como iria considerar a Ucrânia um país imperialista. Trata-se mesmo de uma tentativa de enganar o leitor desavisado. Nem a Rússia, nem a Ucrânia são um países imperialistas, apenas é preciso dizer que a Ucrânia está sendo usada pelo imperialismo para atacar a Rússia.

Acima de qualquer coisa, é mais uma prova de que a Esquerda Marxista não se deu nem o trabalho de ler e considerar as posições do PCO. Em suas análises acerca da situação, o PCO não coloca a Ucrânia dentre os países imperialistas, de fato não faz sentido.

A moralização da luta política

Ao decorrer de todo o texto, a Esquerda Marxista utiliza de um moralismo característico da política pequeno-burguesa. Ou melhor, um falso-moralismo. Isso mostra sua forma mais acabada quando o grupo afirma que “Não há bons moços nessa história” ao tentar justificar sua grotesca política do “nem-nem”.

Que valor existe em afirmar tal consideração? O que isso implica para a situação material? Absolutamente nada. Não faz a menor diferença se Putin é mau ou não, se a OTAN é má ou não. Finalmente, é uma moralização da luta política que simplesmente não cabe dentro do marxismo. Afinal, parecem categorizar a morte dos trabalhadores em geral como um ato maléfico.

Durante a Revolução Russa, os soldados do exército vermelho mataram milhares de pessoas, inclusive muitos trabalhadores. Seriam eles malvados? A morte, por si só, não é indicativo de absolutamente nada, muito menos a classificação de bondade de determinado elemento. A luta política se baseia em relações materiais, não abstratas, relativas. A situação real das coisas é que determina os acontecimentos, estes acontecem independente da intenção de alguém.

A Revolução Russa não aconteceu porque os revolucionários eram “bons”. É uma simplificação que esconde uma verdadeira análise acerca da situação, análise essa que, pelo visto, está longe do alcance da Esquerda Marxista.

O anacronismo na interpretação de Lênin

A Esquerda Marxista cita Lênin, um dos maiores revolucionários de todos os tempos, numa tentativa de dar autoridade aos seus argumentos, mas acaba perdendo de vez qualquer autoridade. Como era de se esperar, a citação não cabe ao momento atual apenas serve, oportunamente, aos interesses do autor. Vejamos a citação:

“O social-chauvinismo é a defesa da ideia de ‘defesa da pátria’ na presente guerra. Dessa ideia decorrem, seguidamente, a renúncia à luta de classes durante a guerra, a votação dos créditos de guerra etc. De fato os social-chauvinistas praticam uma política antiproletária, burguesa, pois de fato preconizam não a ‘defesa da pátria’ no sentido de luta contra a opressão estrangeira, mas o ‘direito’ de tais ou tais ‘grandes’ potências de pilhar as colônias e de oprimir outros povos. Os social-chauvinistas repetem a mistificação burguesa do povo segundo a qual a guerra é travada pela defesa da liberdade e da existência das nações, e passam assim para o lado da burguesia contra o proletariado.”

Com isso, o grupo afirma que Lênin estaria do lado deles na crítica contra o PCO, que o Partido estaria sendo nacionalista (nacionalista com a Rússia?) e, com isso, ficando do lado da burguesia contra os trabalhadores.

Eles só esqueceram de um fato extremamente importante: o contexto. As palavras de Lênin foram ditas durante a Primeira Grande Guerra. Ou seja, diziam respeito à defesa da participação russa na guerra naquela época, naquele contexto. É uma situação completamente diferente dos dias de hoje, já que, na Primeira Guerra Mundial, de fato existia uma competição por territórios, uma disputa entre potências que visava angariar a maior quantidade de terras possível. Hoje, a situação é completamente outra, até porque o imperialismo existe de uma forma muito mais concreta do que à época.

É até irônico que, no mesmo texto utilizado pela Esquerda Marxista, Lênin explica que a deturpação de Marx para a defesa de posições – de fato – social-chauvinistas era uma aberração. Para isso, ele chega a explicar detalhadamente a posição de Marx que consistia, basicamente, na consideração de que, a depender da situação, guerras deveriam sim ser defendidas pelos revolucionários. Nesse sentido, Marx e Engels chegaram a defender várias guerras ao longo da história, exatamente por se tratarem de movimentos progressistas que, no final, resultaram em um avanço para os trabalhadores.

A guerra trará efeitos positivos aos trabalhadores?

Um dos principais argumentos da Esquerda Marxista é o de que a guerra na Ucrânia não trará nenhum efeito positivo aos trabalhadores, que é uma guerra entre impérios. Eles afirmam que “não há portanto chance alguma de a OTAN sair chamuscada dessa guerra”. Mais uma vez, vem à tona sua total incompreensão do marxismo, principalmente da obra de Lênin.

Nos dias de hoje, a luta contra o imperialismo não é uma simples questão de trazer benefícios aos trabalhadores. É a principal luta para a classe operária de todo o mundo. Prova clara disso é que o imperialismo já se desestabilizou frente ao confronto na Ucrânia. E, uma vez que o imperialismo está enfraquecido, não consegue, de maneira eficiente, massacrar os trabalhadores em outros lugares do mundo. Não é atoa que Biden recorreu a Maduro, da Venezuela, para solucionar a crise energética no país.

E mais, é óbvio que a OTAN sairá absolutamente desmoralizada desta guerra. Em grande medida, ela já está! O papel da OTAN como uma força provocativa, ofensiva, ficou ainda mais evidente para as massas, principalmente quando a mesma não foi à defesa da Ucrânia. Sem contar no recuo absurdo que foi imposto sobre a Organização na Europa com o avanço das tropas russas.

Por fim, a Esquerda Marxista afirma que o papel dos revolucionários nesta guerra é o de oposição ao conflito:

“Pelos motivos expressados acima, o papel da Corrente Marxista Internacional (CMI) nesta guerra é o de consistente oposição a esse conflito que não trará nenhum resultado positivo para os trabalhadores […]”

A pacificação da luta de classes é o ápice do identitarismo que, por meio dessa ideologia sórdida, desqualifica a luta histórica da classe operária. Para um grupo que utiliza tanto Lênin para sustentar suas posições anti-marxistas, falta o estudo de um texto fundamental, pois eles sim personificam, no Brasil, a doença infantil do comunismo, o esquerdismo.

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