Todas as propostas de Lula apontam para uma mesma necessidade: o rompimento do teto de gastos imposto pelo governo golpista de Michel Temer. A medida, implementada para limitar o orçamento para investimentos em setores como saúde, educação e outros, impede que determinado orçamento seja gasto a mais do que o limite imposto pelo teto, impedindo que diversas políticas prometidas por Lula e que realmente fariam alguma diferença para o povo fossem aplicadas.
A cada declaração de Lula em entrevistas ou discursos surgem notícias de que a bolsa caiu em tantos pontos e o dólar subiu em uma determinada porcentagem. É um fator constante e que, no fim das contas, faz parte da campanha da imprensa burguesa e do capital financeiro para que Lula faça o que o “mercado” quer, ou seja, o que a burguesia e o imperialismo querem.
Felizmente, Lula parece não estar ligando muito para as declarações da burguesia, impulsionadas pela imprensa burguesa: “Eu nunca vi um mercado tão sensível quanto o nosso. É engraçado que esse mercado não ficou nervoso com quatro anos de [Jair] Bolsonaro”, afirmou o futuro presidente em um discurso na semana passada.
“Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país? Por que que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos? É preciso fazer superávits? É preciso fazer tetos de gasto? Por que as mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gasto não discutem a questão social do país?”, afirmou Lula no mesmo discurso.
A imprensa tem papel fundamental nessa propaganda – é sempre a primeira a noticiar em destaque uma matéria afirmando que o dólar subiu e a bolsa caiu após alguma fala impactante de Lula. Um exemplo disso foi a capa da Folha de São Paulo da última quinta-feira (17), como demonstrado na imagem abaixo.
Como bem disse Lula durante a Conferência do Clima da ONU (COP 27): “Você tenta desmontar tudo aquilo que faz parte do social e você não tira um centavo do sistema financeiro (…). Se eu falar isso, vai cair a bolsa, o dólar vai aumentar, paciência… o dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores que vivem especulando todo santo dia.”
Na realidade, é possível afirmar que a bolsa cai e o dólar sobe por coisas sérias, mas só se o que for sério for o dinheiro no bolso do capitalista — de resto, a bolsa assim como o preço do dólar são coisas artificiais, completamente controlada por “especuladores que vivem especulando todo dia” para causar determinados impactos no chamado “mercado” e, assim, influenciar a situação política, como vem acontecendo na questão do teto de gastos.
Na imprensa, é possível ver uma série de artigos escritos em economês, afirmando que a PEC da Transição prevê R$175 bilhões fora do teto e que esse número pode chegar até mesmo a R$198 bilhões, ainda fora do teto — jogam uma série de números estrondosos como se o Brasil estivesse simplesmente perdendo esse dinheiro, jogando-o no lixo para absolutamente nada, sem citar que grande parte disso vai para a melhoria de programas sociais e para tentar reverter o desastre causado pelo governo Bolsonaro nos últimos 4 anos.
Outro ponto que a imprensa fala muito é sobre a falta de dinheiro do País para sustentar tudo isso — primeiramente, é importante observarmos que o Brasil é um País cheio de riquezas e áreas para serem exploradas, assim como com muito indústria para ser desenvolvida, as quais são monopolizadas pelo imperialismo, que leva todas essas riquezas produzidas para o exterior. Não só isso, mas uma solução óbvia e simples é retirar o dinheiro que a burguesia rouba da população, sobretudo dos bancos, que retiraram bilhões do Brasil para seus bolsos todos os anos.
O que todo esse conflito revela é que há, neste momento, uma crise política cada vez maior entre Lula e o grande capital. E o motivo da crise é facilmente compreensível: os banqueiros precisam que o próximo governo brasileiro seja uma continuidade do governo de Michel Temer, que se comprometa com a devastação do País e a submissão aos Estados Unidos, enquanto Lula, eleito com grande base popular, expressa à tendência ao enfrentamento a essa política.