A semana começou com a notícia da morte do petista Marcelo Arruda durante seu aniversário, que também tinha como tema o Partido dos Trabalhadores. Marcelo era Guarda Municipal e Tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu (PR), e foi assassinado com dois tiros no último domingo (10) pelo bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, que é Agente Penal. O Guarda Municipal estava armado e reagiu ao ataque, mas não foi suficiente.
Diante da notícia, a esquerda repercutiu assustada, denunciando a extrema-direita, que usa de violência para implantar terror e intimidar politicamente seus adversários. Houve pedidos insistentes da prisão do bolsonarista assassino, e defesa obstinada da atuação da polícia em atos de violência dos bolsonaristas contra a esquerda. Esse tipo de propaganda é tudo que a direita deseja, pois fortalece a ideia de que a polícia deve estar presente nos embates políticos, com justificativa de garantir sua legitimidade.
A histeria da esquerda foi a tal ponto que o senador Humberto Costa (PT-PE), representante da ala direita do Partido dos Trabalhadores, apresentou um projeto para tornar qualificado o homicídio por “motivo de ideologia, intolerância ou inconformismo político, ou com o objetivo de interferir no processo político eleitoral ou de impedir o livre exercício de mandato eletivo”. Ou seja, o senador petista está literalmente contribuindo com mais uma arma de perseguição política da direita e da justiça golpista à esquerda.
A polícia bolsonarista não vai defender a esquerda contra os ataques da direita bolsonarista. Pelo contrário: é notório que o núcleo duro do bolsonarismo é formado em grande parte por homens que atuam no aparato de repressão do Estado. Ora, o próprio assassino de Marcelo Arruda é um policial!
A música ‘Acorda, amor’, de Chico Buarque, feita como crítica ao período da Ditadura Militar aborda o tema. Chico conta a história de um trabalhador que, assustado com a possibilidade de a polícia entrar ilegalmente em sua casa a qualquer momento, sugere: “Chame o ladrão!”. Quer dizer, a presença ilegal da polícia, como representante dos interesses da direita golpista e dos militares, significa a repressão do Estado.
E, enfim, quando o compositor fala “Ladrão!”, o intuito é que a própria população se mobilize para que, organizada, ela mesma resolver o problema. Ou seja, há aí a ideia de que a própria esquerda deve se organizar no intuito de bater de frente com seus adversários políticos, pois a polícia não representa, em nenhum momento, a ideia de segurança para a esquerda.
A política pacifista de não enfrentamento é tudo que a direita e a polícia querem, pois levará a esquerda a ficar cada vez mais acuada. Não há porque confiar a justiça nas mãos de instituições golpistas à serviço da direita. E, o pior, esse acuamento leva a esquerda à desmobilização. O medo, que é um eco da repressão de Estado e da violência dos bolsonaristas, precisa ser diretamente combatido proporcionalmente à altura do ataque, e a resposta a ele deve ser uma atitude reativa, que ocorra através de uma esquerda organizada em seus próprios grupos de defesa.