Nos últimos dias, Lula mostrou que está rompendo com a política que levou durante todo o primeiro turno de sua campanha. Diferente dos comícios controlados, com cercadinho, proibições e revistas feitas pela Polícia Federal, agora as atividades de Lula tornaram-se verdadeiras manifestações políticas. Lula esteve no meio do povo, que lotou as ruas de vermelho.
Essa guinada é muito importante porque impulsiona uma mobilização real dos militantes na campanha, coisa que será fundamental se a esquerda realmente quiser ganhar essa eleição.
Lula não apenas foi para a rua, chamando as mobilizações, como visitou bairros da periferia, como o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Tudo indica que Lula percebeu que os setores mais importantes da população, os trabalhadores, os moradores das periferias, estão sendo perdidos para o bolsonarismo. E isso é um fato.
Não que a maioria da população pobre tenha deixado de votar em Lula, mas há uma grande quantidade do povo que está sendo levada pelo bolsonarismo. Esse foi um dos efeitos colaterais da política da esquerda pequeno-burguesa, preocupada com questões que mobilizam apenas a classe média, como as questões identitárias.
Se Lula e a esquerda querem ganhar a eleição, é preciso recuperar totalmente o apoio na periferia, nos locais de trabalho, nos bairros populares. O PT só é o que é graças a esse povo. Precisa mostrar que Bolsonaro é inimigo do povo pobre, que ele é o candidato da burguesia, que ele quer destruir as condições de vida da população. Ao contrário, mostrar que Lula é o candidato do povo pobre, que vai impedir as privatizações, que vai revogar a reforma trabalhista e da Previdência etc.
Nesse sentido, a mobilização impulsionada por Lula deve se materializar numa ação efetiva da militância nos bairros, na campanha corpo a corpo, de casa em casa. É preciso deixar a internet para segundo plano e ir conversar com as pessoas, explicar, argumentar, convencer.
Não dá para acreditar nas pesquisas, a eleição será decidida voto por voto. Quem tiver melhores condições de convencer o povo terá mais chances de vencer. Bolsonaro pode contar com a máquina da burguesia, a esquerda precisa contar com a força militante e do povo.
A esquerda pequeno-burguesa, por conta de uma política errada levada adiante pelas direções das organizações e partidos, se desacostumou a fazer uma campanha eleitoral de verdade. Os antigos militantes sabem fazer isso. É preciso disputar voto a voto e, para tal, abandonar as manias de classe média, as preocupações identitárias que não apenas não têm nada a ver com o povo, como o afasta da esquerda que precisa tratar de assuntos que, de fato, sejam de interesse da população.
A campanha de Lula precisa recuperar a periferia, essa é a hora.