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OTAN

A guerra, a propaganda, e a cegueira

Na época moderna, a propaganda é uma arte que visa reconstruir a realidade para denegrir o adversário e engrandecer as suas próprias tropas.

Thierry Meyssan, editor do Voltairnet Quando irrompe uma guerra, os governos creem sempre dever reforçar o moral da sua população enchendo-a de propaganda. A parada é tal, vida ou morte, que os debates se agudizam e as posições extremistas ganham terreno. É isto exactamente que estamos testemunhando, ou talvez mais, a maneira pela qual nos transformamos. Neste jogo, as ideias defendidas por uns e por outros não têm qualquer relação com os seus pressupostos ideológicos, mas apenas com a sua proximidade ao Poder.

Em sentido etimológico, a propaganda, é apenas a arte de convencer, de propagar ideias. Mas na época moderna, é uma arte que visa reconstruir a realidade para denegrir o adversário e engrandecer as suas próprias tropas.

Contrariamente a uma ideia feita no Ocidente, não foram os nazis, nem os soviéticos que a inventaram, mas os Britânicos e os Norte-Americanos durante a Primeira Guerra Mundial [1].

Hoje em dia, a OTAN coordena os esforços na matéria a partir de seu Centro de Comunicações Estratégicas em Riga (Letónia) [2]. Este identifica os pontos sobre os quais quer agir e monta programas internacionais para os concretizar.

Por exemplo, a OTAN identificou Israel como um ponto fraco: enquanto o antigo Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu era amigo pessoal do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, o seu sucessor, Naftali Bennett, reconheceu o fundamento da política russa. Ele aconselhou-o mesmo a devolver a Crimeia e o Donbass e, acima de tudo, a desnazificar a Ucrânia. O actual Primeiro-Ministro, Yaïr Lapid, é mais hesitante. Não quer apoiar os nacionalistas integralistas que massacraram um milhão de judeus pouco antes e durante a Segunda Guerra mundial.Mas também deseja ficar às boas com os Ocidentais.

Para trazer Israel de volta ao “bom caminho”, a OTAN tenta persuadir Telavive que, em caso de vitória russa, Israel perderia a sua posição no Médio-Oriente [3]. Para isso, difunde o mais amplamente possível a mentira de que o Irão seria aliado militar da Rússia. A imprensa internacional não para de afirmar que, no campo de batalha, os drones russos são iranianos e em breve os mísseis de médio alcance também o serão. Ora, Moscovo (Moscou-br) sabe muito bem como fabricar essas armas e jamais as encomendou a Teerão. A Rússia e o Irão (Irã-br) desmentem repetidamente estas alegações. Mas os responsáveis políticos ocidentais, apoiando-se na imprensa e não sobre uma simples reflexão, impuseram já sanções aos comerciantes de armas iranianos. Em breve, Yair Lapid, filho do presidente do memorial Yad Vashem, será pressionado e forçado a alinhar ao lado dos criminosos.

Os Britânicos, esses, destacam-se tradicionalmente na activação dos média (mídia-br) em rede e na utilização de artistas.

O MI6 apoia-se num grupo de 150 agências de notícias que trabalham na PR Network [4]. Eles convencem todas estas empresas a retomar as suas imputações e os seus slogans (eslogans-br).

Foram eles que sucessivamente os convenceram que o Presidente Vladimir Putin estava a morrer, depois que tinha ficado louco, ou ainda que enfrentava uma forte oposição e que ia ser derrubado por um Golpe de Estado. O seu trabalho prossegue hoje com entrevistas cruzadas de soldados na Ucrânia. Vocês ouvem os soldados ucranianos dizer que são nacionalistas e os soldados russos que têm medo, mas devem defender a Rússia. Vocês ouvem que os Ucranianos não são nazis e que os Russos, vivendo sob uma ditadura, são forçados a combater. Na realidade, a maior parte dos soldados ucranianos não são « nacionalistas » no sentido de defensores da pátria, mas « nacionalistas integralistas » no sentido dos dois poetas, Charles Maurras e Dmytro Dontsov [5]. O que não é de forma alguma a mesma coisa.

Só em 1925 é que o Papa Pio XI condenou o « nacionalismo integralista ». Nessa altura, Dontsov tinha já escrito o seu Націоналізм (Nacionalismo) (1921). Maurras e Dontsov definem a nação como uma tradição e idealizam o seu nacionalismo contra os outros (Maurras contra os Alemães e Dontsov contra os Russos). Ambos abominam a Revolução Francesa, os princípios da Liberdade, Igualdade e Fraternidade e denunciam sem descanso os judeus e os mações. Consideram a religião como sendo útil à organização da sociedade, mas parecem agnósticos. Estas posições levaram Maurras a tornar-se petainista e Dontsov hitleriano. Este último mergulhará num delírio místico Varangiano (vikings suecos). O Papa seguinte, Pio XII, revoga a condenação do seu predecessor, pouco antes da guerra rebentar. Com a libertação, Maurras será condenado por convénio com o inimigo (ele que era germanófobo), mas Dontsov acabou recuperado pelos Serviços Secretos anglo-saxões e exilou-se no Canadá e mais tarde nos EUA.

Quanto aos soldados russos que vemos entrevistados durante os nossos jornais televisivos, não nos dizem que são obrigados a combater, mas que, ao contrário dos nacionalistas integralistas, eles não são fanáticos. Para eles, a guerra, mesmo quando se defende os seus, é sempre um horror. É por nos repetirem até à exaustão que a Rússia é uma ditadura que entendemos outra coisa. Não aceitamos que a Rússia seja uma democracia porque, para nós, uma democracia não pode ser um regime autoritário. No entanto, por exemplo, a Segunda República Francesa (1848-1852) era ao mesmo tempo uma democracia e um regime autoritário.

Somos fáceis de convencer porque ignoramos tudo da história e da cultura ucraniana. No máximo sabemos que a Novorossia foi governada por um aristocrata francês, Armand-Emmanuel du Plessis de Richelieu, amigo pessoal do Czar Alexandre Iº. Ele prosseguiu a obra do Príncipe Grigori Potemkin que queria edificar esta região no modelo de Atenas e de Roma, o que explica que ainda hoje em dia a Novorossia é de cultura russa (e não ucraniana), e sem nunca ter conhecido a servidão.

A propósito da Ucrânia, ignoram-se as atrocidades do período entre guerras e da Segunda Guerra Mundial, e tem-se uma vaga ideia das violências da URSS. Ignora-se que o teórico Dontsov e o seu discípulo Stepan Bandera não hesitaram em massacrar todos aqueles que não correspondiam ao seu « nacionalismo integralista », os Judeus em primeiro lugar, neste país khazar, depois os Russos e os Comunistas, os Anarquistas de Nestor Makhno, e ainda muitos outros. Os «nacionalistas integralistas», que se tornaram admiradores do Führer e profundamente racistas, voltaram ao primeiro plano com a dissolução da URSS [6]. Em 6 de Maio de 1995, o Presidente Leonid Kuchma viajou para Munique (para as instalações da CIA) para se encontrar com a Chefe dos nacionalistas integralistas, Steva Stesko, a viúva do Primeiro-Ministro nazi. Ela tinha acabado de ser eleita para a Verkhovna Rada (Parlamento), mas não tinha podido aí tomar assento porque fora destituída da nacionalidade ucraniana. Um mês depois, a Ucrânia adoptou a sua actual Constituição, a qual dispõe no seu Artigo 16 que: « preservar o património genético do povo ucraniano é da responsabilidade do Estado » (sic). Posteriormente, a mesma Steva Stetsko inaugurou por duas vezes a sessão da Rada, concluindo as suas intervenções com o grito de guerra dos nacionalistas integralistas: « Glória à Ucrânia! ».

A Ucrânia moderna construiu pacientemente o seu regime nazi. Depois de ter proclamado o « património genético do povo ucraniano », ela promulgou diversas leis. A primeira concede o benefício de Direitos do Homem pelo Estado apenas aos Ucranianos, não aos estrangeiros. A segunda define o que constitui a maioria dos Ucranianos e a terceira (promulgada pelo Presidente Zelensky) quem faz parte das minorias. O truque é que nenhuma lei fala de russófonos. Por rotina, os tribunais não lhes reconhecem pois o benefício dos Direitos do Homem.

Desde 2014, uma guerra civil opõe os nacionalistas integralistas às populações russófonas, principalmente as da Crimeia e do Donbass. Cerca de 20. 000 mortos depois, a Federação da Rússia, aplicando a sua « responsabilidade para proteger », lançou uma Operação Militar Especial para aplicar a Resolução 2202 do Conselho de Segurança (Acordos de Minsk) e pôr fim ao martírio dos russófonos.

A propaganda da OTAN enche-nos com os reais sofrimentos dos Ucranianos, mas ela ignora os oito anos de torturas, assassínios e massacres que a precederam. Fala-nos dos «nossos valores comuns com a democracia ucraniana», mas que valores partilhamos nós com os nacionalistas integralistas e onde está a democracia na Ucrânia?

Nós não temos que escolher entre uns e outros, mas apenas devemos defender a paz e, portanto, os Acordos de Minsk e a Resolução 2202.

A guerra enlouquece. Dá-se então uma inversão de valores. Os mais extremistas acabam triunfando. Alguns dos nossos ministros falam em « sufocar a Rússia » (sic). Não se quer ver que estamos a apoiar as ideias que dizemos combater.

* Os artigos aqui reproduzidos não expressam necessariamente a opinião deste Diário

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