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“Onda rosa” e “progressismo”

A falsificação da história para justificar uma política golpista

Na tentativa de justificar sua política pró-imperialista, PSTU inventa uma história da América Latina que simplesmente nunca existiu

Depois de ter apoiado o golpe pró-imperialista contra Dilma Rousseff e, com isso, desmoralizar-se completamente, o PSTU tentou se reciclar apoiando a candidatura de Lula no segundo turno das últimas eleições. Durou pouco. Agora o PSTU já está se preparando para fazer parte do bloco de direita na oposição ao governo do PT. Para isso é preciso argumentar sobre  a inconsistência da política do partido, que veio à tona no artigo “‘Governos progressistas’: uma onda que não será tão rosa” (de Ricardo Ayala, 10/11/2022).

Para o redator do PSTU, a eleição de Lula faz parte do “ciclo de vitórias de partidos chamados progressistas, que já havia conduzido ao governo Gabriel Boric (Chile) e Gustavo Petro (Colômbia)”. Sem compreender o caráter destes governos e a diferença fundamental da sua vitória com a de Lula, o autor recorre a uma história política da América Latina que nunca existiu para justificar sua tese: os governos “progressistas” são “o capitalismo ‘com face humana’”, uma variante latino-americana do neoliberalismo.

Nacionalismo burguês

Para o redator do PSTU, “na América do Sul, o ascenço de Chávez, na Venezuela, e o seu ‘Socialismo do século 21’, deu início a uma onda de governos que, em sua retórica, se colocavam contra o neoliberalismo no subcontinente.” Terá sido mesmo mera “retórica”?

Para PSTU, “cada um destes governos expressou de distintas formas o que seria a sua alternativa ao neoliberalismo” (…) “No governo, estas forças políticas defenderam uma gestão ‘civilizada’ do capitalismo semicolonial latinoamericano (ou do neoliberalismo, dentro da ordem), em contraposição à burguesia tradicional e seus partidos desgastados pela devastação social, produzida, até então, pela paralisia econômica decorrente da política de liberação econômica e financeira dos 1990.” Essa teria sido, segundo o autor, uma “primeira onda de governos supostamente antineoliberais.”

Que fenômeno político Kirchner, Chávez, Tabaré Vázquez, Evo Morales, Rafael Correa, Fernando Lugo e Lula representaram à época?

Trata-se do nacionalismo burguês dos países atrasados. Os governos que chegaram ao poder na primeira década do século 21 na Argentina, Venezuela, Uruguai, Bolívia, Equador, Paraguai e Brasil representavam os interesses de uma parcela da burguesia desses países que se contrapôs aos interesses do imperialismo e da ala pró-imperialista das burguesias nacionais. A contradição foi real, e não retórica.

O “progressismo”, tal como o articulista do PSTU se refere a esses governos, não é uma caracterização política concreta, determinada. É uma generalização abstrata. Esses governos burgueses foram mais ou menos à esquerda conforme a situação política em seus próprios países e conforme as relações com o imperialismo se estremeceram. Foram mais progressistas em determinados aspectos e mais conservadores no que diz respeito a outros, conforme a situação determinada em cada país. 

Sua origem, no entanto, está na contradição entre os interesses da burguesia dos países atrasados, apoiados na mobilização das massas trabalhadoras, por um lado, e o imperialismo e seus representantes nos partidos burgueses tradicionais destes países, por outro.

Ele caracteriza como “alternativas ao neoliberalismo” as políticas econômicas dos distintos governos, aquilo a que ele chama “neodesenvolvimentismo” do governo Lula de 2003; o “capitalismo sério” de Nestor Kirchner na Argentina; a “Frente Ampla” de Tabaré Vázquez no Uruguai. Mas, trata-se na realidade, de políticas que entraram em choque com os interesses do imperialismo na região. Políticas que, quando muito, foram aceitas a contragosto porque o imperialismo simplesmente havia perdido sua força – e sua base de apoio, os partidos tradicionais da burguesia liquidados no último período – nestes países. 

Golpes de Estado

Tanto é assim que, na primeira oportunidade, o imperialismo mobilizou suas forças e retomou esses governos em uma campanha avassaladora, com a derrubada dos governos nacionalistas por meio de golpes de Estado.

Para o PSTU, no entanto, esses golpes simplesmente não existiram. A alternância entre os governos é apresentada como um processo indolor, sem solavancos, produto da própria política dos governos “progressistas”: “Ao mesmo tempo, os programas sociais, como o Bolsa-Família, no Brasil, ou o estímulo aos pequenos negócios, foram incapazes de compensar o desemprego e o subemprego, quando se instalaram os efeitos da profunda crise do capitalismo mundial e os preços dos recursos naturais caíram. Resultado: os efeitos sociais foram devastadores em todo continente, assim como a decepção nas forças políticas que despertaram a ilusão de uma mudança real na vida das massas.” Sim, é a reprodução do cântico entoado nas passeatas verde-amarelas que precederam a derrubada de Dilma Rousseff, “o Brasil acordou”. 

Não houve golpes de Estado, mas “a crise destes governos” explicada por ele desta maneira: “As mudanças reais na vida das pessoas dentro da ordem burguesa nacional e internacional conduziram a uma crise social ainda mais profunda, de acordo com o grau de dependência e subordinação em cada um dos diferentes países.” Logo… “a burguesia tradicional também começou a lutar pelos governos e surgiram novas forças de ultradireita (…) E, aí, a via da mudança por dentro da institucionalidade cobrou seu preço: em 2015, o kircherismo foi derrotado nas eleições na Argentina e, no ano seguinte, Dilma Rousseff foi apeada da presidência pelo Congresso brasileiro.”

Para o PSTU, os governos nacionalistas “se enfrentaram diretamente com as massas”. Que massas? Notaram a sutileza? Forças de extrema direita que fizeram parte da luta “por dentro da institucionalidade” derrotaram os governos “progressistas” “dentro da institucionalidade”. Não houve golpe de Estado, não houve mobilizações golpistas, não houve um ascenso da extrema direita no País, houve “transição dentro da institucionalidade”. Que bela maneira de encobrir sua participação em todo o processo golpista que resultou na derrubada de Dilma Rousseff, na prisão de Lula, na fraude eleitoral de 2018, não?!

As diferenças entre os governos foram apagadas pelo PSTU. Assim, negam que o governo boliviano foi derrubado em 2016 por um golpe de Estado. Negam que Lenín Moreno sucedeu Rafael Correa e colocou em prática uma política diferente da de seu antecessor. Apagam as linhas que demarcaram a transição entre os governos, linhas que foram escritas por uma intensa luta política dos setores mais estreitamente ligados ao imperialismo contra os setores mais dependentes do mercado nacional e daqueles com maiores ligações com as classes trabalhadoras e suas organizações, como é o caso do PT no Brasil.

“Onda rosa”

A caracterização da história recente da América Latina, que está repleta de idas e vindas e golpes de Estado, feita pelo PSTU é bastante conveniente para um partido que apoiou a maior parte desses golpes de Estado, ativamente como é o caso no Brasil onde levantaram a palavra de ordem de “Fora Dilma”, ou ainda, como ocorreu com o apoio a manifestações golpistas e em processos fraudulentos de “luta contra a corrupção” em outros países latino-americanos.

Na mais recente etapa política, marcada pela crise dos governos pró-imperialistas que chegaram ao poder na década passada, o PSTU traça um sinal de igualdade entre figuras como Gabriel Boric (no Chile) e Lula, no Brasil. A “eleição de Fernandez, na Argentina, em 2019, abriu as portas para uma recomposição eleitoral das chamadas ‘forças progressistas’ (…) Desde então, estes três países [Peru, Chile e Colômbia] foram incorporados à nova onda de ‘governos progressistas‘, com as eleições de Castilho (Perú), de Boric (Chile) e Petro (Colômbia). Um processo que, agora, no final de 2022, atingiu o Brasil, com a eleição de Lula.”

Não, a eleição Lula não é o mesmo fenômeno que as eleições de Castilho, Boric e Petro. Esses três últimos são governos burgueses pró-imperialistas com uma fachada de esquerda, uma vitória do imperialismo sobre as manifestações que os precederam, ao passo que a eleição de Lula foi uma vitória das massas contra o golpe de Estado no Brasil, que o PSTU apoiou.

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