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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

Cinema brasileiro

“A cor do seu destino”, filme de Jorge Duran

O filme “A cor do seu destino”, de 1986, mostra o quê e em quem jogar coisas em sinal de protesto.

No filme brasileiro “A cor do seu destino”, lançado em 1986, com direção de Jorge Duran, conta-se o drama da família de Victor, sua esposa Laura e os filhos Vitor e Paulo, vividos, respectivamente, pelo ator chileno Jorge Caicedo e por Norma Bengell, Chico Díaz e Guilherme Fontes. Em resumo, Victor é chileno casado com uma brasileira; devido ao envolvimento com a resistência ao governo fascista e criminoso de Augusto Pinochet, a família se exila no Rio de Janeiro. Embora criança na época da morte de Vitor, vítima da polícia política, o irmão Paulo, agora adolescente, recorda-se dolorosamente do irmão, vivenciando com dificuldade a indignação dos pais com o regime chileno, ainda dominado pela ditadura.

Paulo é adolescente pequeno burguês em vias de despertar para a luta política; essa trajetória no filme é mediada por duas moças, também adolescentes: Helena, a namorada da faculdade, vivida por Andréa Beltrão; e Patrícia, a prima chilena, vivida por Júlia Lemmertz, quem é obrigada, novamente por atividades contra a ditadura de Pinochet, a se refugiar no Brasil, na casa dos tios.

O filme é muito bem montado; com ritmo moderado, predominam as cenas reflexivas em que Paulo busca ordenar as memórias confusas da infância passada no Chile. Apesar dele não se lembrar exatamente da casa onde morava, ainda são bastante vívidas as recordações dolorosas da invasão do lar, na calada da noite, pela polícia política da ditadura chilena, tais e quais as humilhações sofridas pelo irmão e o pai, ambos detidos para interrogatório, e as provocações do chefe de polícia, de cuja face ele não se esqueceu. Se o passado lhe incomoda, no presente ele não compreende bem o namoro com Helena, quem lhe propõe relação aberta; no início também confusa, mas depois bastante esclarecedora, é sua relação Patrícia, a prima chilena, responsável por aclarar sua mente a respeito da luta política.

Certa tarde, passeando pelos arredores do consulado do Chile, Paulo se depara com o cônsul, vivido pelo ator argentino Antônio Ameijeiras, saindo de automóvel, reconhecendo nele o antigo chefe de polícia, o torturador do irmão e do pai. Nessa passagem, a denúncia feita pelo filme é revoltante; quantos criminosos, semelhantemente àquele cônsul, escapam impunemente, alcançando cargos importantes nas ditaduras e nas ditas democracias burguesas, tudo se passando como se a criminalidade fosse prerrequisito para a distribuição e ocupação desses cargos.

Paulo e Patrícia, jovens e bonitos, dormindo no mesmo quarto, tornam-se amigos íntimos e terminam enamorados; após algumas aventuras e desencontros, próprios da juventude, numa bela manhã o casal de primos e Helena se deparam. Embora enciumada, Helena continua fiel a sua proposta de relação aberta, juntando-se aos primos para uma manifestação no consulado do Chile, pois ambos pretendem, com a desculpa de serem estudantes fazendo pesquisa, entrar na sala do cônsul, lançando sobre ele latas de tinta vermelha.

Nesse momento, o filme se torna exemplar por, pelo menos, dois motivos: (1) Helena, Patrícia e Paulo superam a crise dos namoros pequeno-burgueses em função de causas mais importantes; (2) nos tempos quando meia dúzia de infelizes, todos bons viventes em países imperialistas, supostamente protestam lançando massa de tomate em obras de arte ou fuçando no lixo dos países ricos em busca de frutas podres, o filme mostra o quê e em quem jogar na hora do protesto. Evidentemente, não se trata ainda da revolução proletária, mas de agir contra os verdadeiros inimigos da liberdade; tratou-se, no filme, de denunciar um torturador e não de agredir o trabalho de artistas, na maioria das vezes, explorados durante a vida e reconhecidos apenas após a morte.

Na trama, o cônsul saca sua arma contra os três manifestantes; o final, porém, eu preservo para quem se sentir motivado a assistir a “A cor do seu destino”, disponível integralmente no Youtube, neste endereço:

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