A sequência de Copas do Mundo realizadas em países atrasados tem criado situações inéditas. Um caso triste de se lembrar, por exemplo, foi o movimento “Não Vai Ter Copa”, financiado pela Ford Fundation e que lançou a figura de Guilherme Boulos para a política eleitoral. No país do futebol, o imperialismo conseguiu fomentar uma campanha contra o evento, que serviu inclusive para atrapalhar o desempenho da Seleção Brasileira.
No Catar, as primeiras movimentações davam conta de as equipes europeias, principalmente, viajaram à Península Arábica para fazer manifestações no melhor estilo Psol. Braçadeiras com as cores do arco-íris, fotos oficiais com as mãos tapando as bocas e por aí vai, jogadas de propaganda para a imprensa imperialista explorar contra o país sede. A jogada casada combinava ações dos jogadores com manifestações teatrais nos países centrais do capitalismo.
No entanto, muita coisa acaba vindo a tona num evento com proporções gigantescas como esse, coisas que acabam escapando. No jogo entre Tunísia e Dinamarca, que terminou num empate sem gols, teve uma contundente manifestação pró-Palestina na torcida tunisiana. A mensagem “Palestina Livre” ou “Libertem a Palestina” estava presente numa enorme faixa e nos cantos puxados pelos torcedores. Um twitteiro sionista escreveu espantado:
“No Catar, é proibido protestar contra violações dos Direitos Humanos, é proibido protestar contra a corrupção, é proibido protestar contra danos à comunidade LGBTQ, é proibido protestar contra qualquer questão política. Tudo é proibido, exceto protestar contra um coisa: Israel”
E o que poderia ser pior para os povos do Oriente Médio e Norte da África do que um estado terrorista apoiado pelo imperialismo? Obviamente, o twitteiro não considera o estado de apartheid como uma violação dos direitos humanos que atinge homens, mulheres, héteros, homos, crianças, grávidas, idosos e etc. Os povos de cultura árabe da região, no entanto, não têm dúvidas de qual é o maior problema da região: o imperialismo e seu entreposto.
Assim como a maioria da população dos países da região, o palestinos têm na cultura árabe um pilar da sua identidade. Também em comum têm a opressão de décadas no formato atual, com os Estados Unidos liderando o bloco imperialista contra os povos do mundo. Sua cultura funciona como facilitador na identificação ente os povos oprimidos do Oriente Médio e a campanha de propaganda do imperialismo atinge de certa forma todos eles.
Sem programa político para se orientar, a esquerda entrou de cabeça (mais uma vez) na campanha imperialista. Sem levar em conta que quem criou as condições para o atraso na região foram os mesmos países que agora se apresentam como porta-vozes do bem e da civilização. Boa mesmo será a Copa novamente nos Estados Unidos e na parte desenvolvida da Europa, os países que mantém a maioria da população mundial na pobreza e explodindo nas guerras que fomentam vão dar uma aula de boas maneiras para os povos que eles mesmo oprimem.