Mais de 60 milhões de brasileiros deram, no último domingo (30), a maior votação da história do País para Luiz Inácio Lula da Silva. Lula obteve 50,9% dos votos válidos e, assim, derrotou seu adversário único neste segundo turno, Jair Bolsonaro (PL).
A vitória de Lula é incontestável. Basta ver, por exemplo, a multidão que tomou conta das ruas após a sua vitória. No entanto, a eleição foi, ao mesmo tempo, a mais polarizada e mais disputada dos últimos tempos. Bolsonaro, afinal de contas, conquistou 49,1% do eleitorado, ultrapassando os 58 milhões de votos.
Esse resultado só foi possível porque as eleições se deram sob condições muito particulares. A votação altíssima de Lula não refletiu apenas um apoio genérico por parte da maioria da população, mas o resultado de uma mobilização e uma tendência de luta dos trabalhadores contra o regime. Foi a necessidade de dar uma resposta, ainda que nas urnas, ao golpe de Estado, à reforma trabalhista, ao desemprego, às privatizações, à fome e à repressão que fez com que os trabalhadores se envolvessem tão profundamente no processo eleitoral. Por outro lado, foi o interesse de classe, consciente, de um setor expressivo da burguesia que fez com que Bolsonaro alcançasse índices tão elevados. Temendo a reversão da política golpista dos últimos seis anos por um eventual governo Lula, os patrões também não se furtaram do pleito e mobilizaram todo o aparato que tinham à disposição para dar a vitória ao seu candidato.
Lula, durante as eleições e, principalmente, durante o segundo turno, se tornou a personificação da luta da classe operária contra a direita. Bolsonaro, por sua vez, expressou de maneira muito nítida os interesses da burguesia na atual situação, comprometendo-se cada vez mais com a classe que quer reduzir os trabalhadores a um regime de escravidão.
Lula só conseguiu vencer as eleições porque, de acordo com suas próprias palavras, derrotou “a máquina do Estado a serviço do candidato adversário”. Isto é, porque os trabalhadores conseguiram passar por cima da coerção dos patrões nas empresas, das operações da Polícia Rodoviária Federal, da manipulação do transporte público, enfim, de todo o aparato montado para impedir a vitória de Lula.
Lula foi eleito contra a vontade dos patrões. Sua vitória é, inegavelmente, uma vitória da classe trabalhadora. Embora não de maneira definitiva, a classe operária derrotou a burguesia. Trata-se de uma batalha vencida, uma vitória parcial. Agora, é preciso se preparar para a guerra.