É difícil ser concisa ao tratar deste poeta, para leitores que o admiram. Muitas são as entradas que seus textos e biografa oferecem para reflexão e discussão. Arthur Rimbaud foi um poeta que, melhor do que ninguém, personificou e viveu o ideal ou a imagem do poeta rebelde, do jovem sensível, inteligente, inquieto e revoltado.
Seu talento poético e força intelectual já se mostram fortes em sua adolescência, ganhando prêmios por seus versos em latim e recebendo a orientação de um professor para aprimorar seu talento, cresceu em sua arte. Entre os dezesseis e dezenove anos (1870-1873), Rimbaud conheceu todo o repertório das ideias modernas, reagindo contra a educação severa e religiosa que recebera, tornou-se um ateísta romântico , envolveu-se também com paganismo e ideias sociais e revolucionários. Leu os livros de Darwin e outros evolucionistas. Segundo afirmou a um biógrafo, Rimbaud disse que, naquele período, “vivera em três anos a evolução literária dos tempos modernos.”
O poeta nascido no norte da França em 20/10/1854, filho de uma camponesa e um oficial francês, teve uma infância sem a presença do pai e sem a atenção materna. Na adolescência, fugia constantemente de casa. Há relatos de sua participação na Comuna de Paris, em 1871, em uma de suas fugas.
Ainda jovem, após corresponder-se com o poeta Verlaine, Rimbaud muda-se para Paris e vive um intenso relacionamento com Verlaine, que abandona sua família para viver com o jovem Rimbaud. O relacionamento conturbado e intenso entre os dois poetas, regado a absinto e ópio, levou a uma separação também conturbada, rendendo processo e dois anos de prisão para Verlaine.
Após o rompimento com Verlaine, em 1875, Rimbaud volta a sua cidade natal, onde escreve a obra “Uma temporada no Inferno”, considerada um dos marcos do simbolismo e influenciador de tendências vanguardistas, como, por exemplo, o surrealismo. Rimbaud esteve também várias cidades europeias e escreveu as suas “Iluminações”.
Rimbaud esteve na Indonésia, quando se alistou no exército holandês (1876). Ao retornar à Europa, o poeta passa a trabalhar em empresas, viaja por vários países da África até se estabelecer na Etiópia, como comerciante ilegal de armas e café. O viajante-poeta foi acometido de febre tifoide. Anos depois, ao sofrer de sinovite num joelho, é levado a Marselha, onde tem a perna amputada e se descobre que Rimbaud também sofria de câncer. Faleceu em Marselha, em novembro de 1891.
Sua vida intensa se materializa em seus poemas e em sua poética visionária, que dá base para uma doutrina simbolista. Dizia ele que “ O poeta se faz vidente através de um longo, imenso e meditado transtorno de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; ele se busca a si mesmo.”
Embora sucinta, a frase citada acima, traz uma questão vital para a virada moderna da poesia e das artes: transtorno de todos os sentidos, a dissolução de barreiras entre a razão, a linearidade e os sentidos, o pensamento não racional, as percepções não conscientes. Nada de novo, pode-se argumentar: os românticos já pregavam esses preceitos. Todavia, “o padrão clássico-científico”,” o ponto de vista objetivo do naturalismo e técnica mecânica que lhe era própria principiaram a tolher a imaginação do poeta” .
Rimbaud não encontra as ferramentas necessárias para se expressar nesse contexto e , por outro lado, o público se cansa do estilo. O simbolismo pode ser considerado uma forte reação aos padrões estéticos e literários de fins do século XIX, “uma contrapartida romântica”, porém em um contexto bastante diverso do romantismo. Após ficarem soterradas pelo peso do naturalismo e da linearidade burguesas, as forças latentes do que viria a ser denominado, décadas mais tarde, de inconsciente, explodem nas visões do jovem rebelde e alucinado, O vidente que via cores nas vogais, e que ilumina a nossa “temporada no inferno” do século XX. Essas mesmas forças latentes e o turbilhão de sentidos que se sobrepõem à linearidade das vidas e dos discursos burgueses que volta a emergir, em imagens, poemas e outras formas de arte surrealistas.
A cultura pop também bebeu nas fontes da poesia e da figura de Rimbaud. Um exemplo é o rock star Jim Morrison, entre outros. Mas esse tema fica para uma próxima ocasião.