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Literatura Brasileira

19/11/1967: 55 anos da morte de Guimarães Rosa

19/11/1967: morria o escritor mineiro Guimarães Rosa

João Guimarães Rosa:médico, diplomata, escritor mineiro, nascido em 1908. Faleceu em 19/11/67 no Rio de Janeiro. Durante o tempo em que viveu, Guimarães produziu obras literárias geniais, originais e genuinamente construídas com todos os sons, cheiros, paisagens e reflexões que só existiam – e talvez ainda existam –  no sertão que se estende de Minas à Bahia, Tocantins, Goias. Uma realidade dura, cruel, mas nem por isso desprovida de beleza, de leveza e de reflexões profundas e universais sobre nossa própria existência, como faz Riobaldo, personagem da obra-prima de Rosa. 

“Tempo é a vida da morte: imperfeição”. Assim proseia Riobaldo, já se encaminhando para o fim de sua história em Grande Sertão: Veredas. As narrativas de Guimarães Rosa, seja em romances ou contos, brincam com o tempo ao brincar com as palavras, ao criar, ao modo dos sertanejos, palavras que se ajustem ao seu falar, ao seu tempo e ao seu lugar. Neologismos, ou usos de certos vocábulos que já caíram em desuso, mudaram de sentido, mas que soam naturais nas vozes e pensamentos de seus personagens, principalmente quando narram momentos tensos ou dramáticos: batalhas, perrengues no atoleiro, enfrentamento com bichos do mato e assombrações. Porém, mais do que o vocabulário, chama a atenção do leitor a sintaxe usada pelo escritor.

A construção de frases fragmentadas, cortadas por interrupções, reminiscências, outras conversas, tornam o ritmo da narrativa semelhante ao ritmo de pensar, falar e viver das personagens, tipos bem diferentes dos cosmopolitas das grandes cidades e das regras da gramática normativa da língua. O trabalho minucioso do escritor mineiro na lapidação da linguagem é comparável à de outro mestre da literatura universal: James Joyce.

A prosa de Guimarães Rosa é uma prosa, acima de tudo, poética. Vejamos um exemplo:

“De graça berra é o boi, tirante a vaca. Desta vez que tudo não acabava sem fim…. E há vero jeito de contar – uma vivência dessas! Os tiros, os gritos, eco, baque, boléu, urros nos tiros e essas coisas rebentaveis. ..Tempo que me mediu. Tempo? Se as pessoas esbarrassem – para pensar – tem uma coisa !-: eu vejo é  o puro tempo vindo de baixo, quieto, mole, como a enchente duma água…Tempo é a vida da morte: imperfeição” ( Riobaldo,Grande Sertão : Veredas).

“E há vero jeito de contar – uma vivência dessas”, afirma Riobaldo.  Guimarães Rosa sabia disso mais do que ninguém. Sabia contar as histórias que nasciam de suas vivências e experiências no sertão, usando não apenas o argumento, personagens e expressões locais, mas todo um universo de pessoas, culturas, tempos e políticas cuja tensão e sentido só existem dentro de seu contexto de origem. Sem isso, as obras de Rosa não seriam o que são: universais e extremamente locais simultaneamente. O conteúdo da prosa não se dissocia de sua expressão, de sua linguagem.

Na passagem acima, Riobaldo fala de balas, tiros, gritos. As cenas em que descreve batalhas entre jagunços são de uma plasticidade cinematográfica. Perseguições, fugas para o mato, morte a queima roupa, a mando de coronéis, políticos ou mortes por pura vingança passional. No romance, admiramos tais cenas. Porém, infelizmente, tais barbaridades ainda acontecem no interior do Brasil, com jagunços matando e perseguindo camponeses, vaqueiros e índios. No sertão de Guimarães Rosa, o agro ainda não era o que é hoje, mas já tinha suas raízes políticas desenhadas. Algumas, infelizmente, se mantém: imperfeição…

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