Após a morte de Lênin, o avanço da burocracia soviética para controlar o Estado operário tinha como principal obstáculo a liderança de ninguém menos do que Leon Trótski. Organizador do Exército Vermelho e figura mais importante das Revoluções de 1905 e 1917 depois do próprio Lênin. Para impedir o desenvolvimento da luta política, que tinha na Oposição de Esquerda a defesa da revolução mundial da classe operária, a burocracia primeiro expulsou Trótski do Birô Político, depois do partido e, em seguida, da União Soviética.
Não se tratou de uma mera divergência estratégica, como ficou bastante claro nos anos que se seguiram, a burocracia promoveu uma espécie de “caça às bruxas” contra todos os elementos revolucionários. Nesse sentido as lideranças da Revolução de 1917 foram perseguidas com especial ferocidade. A maioria dos que integraram o Comitê Central do Partido Bolchevique em 1917 foi assassinada, incluindo Trótski.
As implicações políticas dessa guinada direitista e oportunista são enormes. Um exemplo bastante significativo foi a política diante dos esforços revolucionários na China. A burocracia stalinista fez com que o Partido Comunista Chinês ficasse a reboque do Kuomintang, o Partido Nacionalista Chinês. Nesse momento, o Kuomintang liderado por Chiang Kai-shek já havia sido responsável por violentas repressões contra o movimento operário chinês.
Em 1927, a evolução da situação política coloca os operários de Xangai em greve, um verdadeiro levante popular, armado, na cidade mais industrializada e importante do país. Foi um ponto de ruptura entre a classe operária e o nacionalismo burguês na China, episódio conhecido como o Massacre de Xangai. A repressão do Kuomintang, além de prisões e assassinatos, contou com uma perseguição aos comunistas que haviam sido integrados ao partido sob orientação dos burocratas soviéticos.
Mais um massacre não serviu para abalar a absurda posição da União Soviética com o Kuomintang. Logo em seguida, o líder da ala esquerda dos nacionalistas burgueses se juntou a Chiang Kai-shek na perseguição aos comunistas. Muito sangue dos revolucionários chineses foi derramado em nome da mesquinhez dos burocratas soviéticos.
Essa crise foi o estopim para a expulsão de Trótski, que apresentava uma alternativa concreta a essa política sem pé nem cabeça. Ao contrário do líder do Exército Vermelho, os burocratas não tinham atrelado seus destinos ao destino da classe operária, não dominavam a doutrina marxista para elaborar sua política e Trótski precisava desaparecer do debate.