Os setores da esquerda nacional que demoraram um ano e meio para tirar o pijama e saírem às ruas, que só descobriram que o País estava caindo aos pedaços quando quase meio milhão de corpos já estavam enterrados, agora não só alardeiam por aí que são os donos do movimento, como querem fazer de tudo para que a mobilização seja derrotada. O PSOL, o PCdoB, a UP e as alas mais direitistas do PT, representadas por aqueles que foram a favor do golpe e que torcem para que Lula pendure as chuteiras, estão recebendo todo o espaço na imprensa golpista para dizer que o povo está nas ruas pelo impeachment de Bolsonaro.
É uma mentira descarada, que só pode vir de quem não sabe nada de política ou de quem está muito mal intencionado. O movimento que está nas ruas no Brasil é o mesmo do Chile, do Peru, da Bolívia: é uma revolta generalizada contra o regime político. O povo quer atirar Bolsonaro e todos os golpistas pela janela, e não esperar que os próprios golpistas façam alguma encenação na Câmara dos Deputados em torno de um improvável impeachment.
Mas o que está por trás da “confusão” que fazem esses senhores, substituindo a palavra de ordem combativa de “fora Bolsonaro” por “impeachment“, vai muito mais além do que simplesmente levar a disputa para as instituições golpistas. Trata-se de uma abertura para que a direita entre nos atos. De início, convidaram a direita para assinar um “super pedido” de impeachment. Quanto a isso, já há acordo entre todos os partidos citados. Todos, inclusive, estão de acordo em chamar absolutamente qualquer direitista, incluindo o ator pornô bolsonarista Alexandre Frota, que agora tem a oportunidade de participar da maior orgia de sua vida.
Imitando seu mais novo aliado, PSOL, UP, PCdoB e outros setores da esquerda alegam uma “orgia política técnica”. Dizem que não tem nada a ver assinar o impeachment no colo de Frota com defender sua participação nos atos… Bem, não é exatamente assim. Primeiro que ninguém diz expressamente que é contra a participação desses bandidos profissionais nas manifestações da esquerda. Segundo que, conscientemente, estão tentando transformar as manifestações que surgem de um movimento real, de massas, em um palanque eleitoral agradável para todo tipo de oportunista.
Esse palanque se consolida na tentativa descarada dessas organizações em enfiar o verde e amarelo em todos os materiais de convocação dos atos. Não o fazem por qualquer patriotismo, obviamente, mas sim porque é exatamente aquilo que a burguesia pediu. A imprensa capitalista fala abertamente em “deixar a bandeira vermelha em casa” — afinal, em uma manifestação verde e amarela, a “frente ampla” se alarga tanto que cabe qualquer um. Cabe, inclusive, os bolsonaristas.
Nem os trabalhadores, nem a esquerda têm algo a ganhar com esse circo. As carícias entre os deputados do PSOL e Alexandre Frota não interessa a ninguém que esteja na luta pelo Fora Bolsonaro, assim como também não interessa a ninguém o desejo da UP de baixar as suas bandeiras para levantar o mastro do deputado bolsonarista. Pelo contrário: a participação da direita nos atos e o verde e amarelo são o caminho da derrota.
Convidamos todos aqueles que estão na luta contra o golpe de Estado, que neste momento tem como palavra de ordem central o Fora Bolsonaro, a não tolerar a infiltração dos golpistas nas manifestações e a pintar as ruas de vermelho.