O jornal O Globo é uma das principais vozes do imperialismo no Brasil. Não à toa, diversos setores da esquerda pequeno-burguesa expressam as mesmas concepções políticas e ideológicas que este veículo de imprensa.
Abriu-se um debate sobre o significado político da queima de estátuas nos últimos meses. Os identitários, orientados pela política do imperialismo, destruíram as estátuas do bandeirante Borba Gato (SP) e de Pedro Álvares Cabral (RJ). Na sua visão, é preciso combater as homenagens aos “opressores” do passado.
A imprensa imperialista estimula esse tipo de discussão puramente ideológica. A queima de estátuas pode servir para determinados setores identitários da esquerda fazerem propaganda, porém é absolutamente inofensiva na luta de classes. A queima da estátua de Borba Gato não mudou, sequer um milímetro, a situação dos povos indígenas brasileiros na atualidade. Estes últimos continuam a ver suas terras serem atacadas pelos jagunços dos latifundiários e mesmo as demarcações das terras paralisadas pelo governo Jair Bolsonaro. Para acrescentar, entrou em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF), na última semana, o Marco Temporal.
O ataque à estátua de Pedro Álvares Cabral significa também um ataque à história e à cultura brasileiras. Afinal, a chegada das embarcações portuguesas deu início a um processo histórico complexo e contraditório que daria origem, cerca de 300 anos depois, à nação brasileira independente de Portugal. Para os identitários, a história brasileira é única e tão somente uma história de opressão sobre os povos indígenas, como se não tivesse havido um progresso que resultou na construção de um dos países mais importantes do mundo.
No Artigo “ Pero Vaz de Caminha, o ouro e as vozes indígenas silenciadas”, publicado no jornal O Globo no dia 15 de agosto, são feitas diversas falsificações da história brasileira. Uma interpretação é construída sobre o silenciamento das vozes indígenas. O ruído das ondas na carta de Pero Vaz de Caminha, diz a autora, funciona como uma metáfora do silenciamento.
É muita coincidência que uma das principais vozes do imperialismo esteja impulsionando a discussão sobre os povos indígenas – sob a ótica do identitarismo – e setores da esquerda pequeno-burguesa, particularmente vinculados ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), se dediquem a atacar e queimar estátuas de personagens históricas. Como é comum na história, pode-se perceber que não é uma mera “coincidência”, algo aleatório.
O jornal O Globo tem preparado o terreno ideológico para desviar a luta política de reivindicações reais -mesmo por parte dos indígenas – em direção aos símbolos, que se expressou na queima de estátuas. Não se pode afirmar que há uma ligação direta entre a Globo e os identitários da esquerda e do PSOL. Contudo, o estímulo à discussão pela imprensa capitalista evidencia que a própria burguesia apoia o assunto.
Se se tratasse de uma ação política que ameaçasse os interesses econômicos e políticos da burguesia, seguramente sua imprensa faria o que sempre fez, classificando os manifestantes de “bandidos” e “terroristas” e pedindo sua cabeça às autoridades.
A queima da estátua de Borba Gato serviu como uma manobra de propaganda para os políticos pequeno-burgueses identitários do PSOL, que precisam parecer radicais para conseguir votos para eleger algum vereador ou deputado. Uma vereadora deste partido em São Paulo colocou em discussão a proibição de determinados tipos de estátuas. Parece que o eixo central de toda a luta política que se desenvolve no País é a questão das estátuas e a revisão do passado histórico.
O imperialismo age para criar uma esquerda identitária, dócil e adaptada aos seus interesses políticos e econômicos. O identitarismo é a ideologia que cumpre essa função no momento atual e, ao penetrar nos partidos de esquerda, cria uma atmosfera de confusionismo e distracionismo. As lutas por reivindicações materiais, como salário, trabalho, terra são substituídas por reivindicações abstratas, sem qualquer fundamento na realidade. Pode-se discutir o passado, mas a luta nos dias de hoje deve se pautar na realidade.
Não faz sentido traçar uma política para combater as memórias de Borba Gato ou de Pedro Álvares Cabral. A população brasileira está passando fome e vê suas condições de vida se deteriorarem cotidianamente. Os combustíveis, alugueis, bebidas e alimentos estão com preços estratosféricos. É necessário ter clareza de que o imperialismo levou o País à atual situação. O diversionismo identitário é uma manobra para tirar o foco das questões fundamentais, materiais, para coisas insignificantes, como estátuas, o que levará à desmobilização do movimento popular.