Tem ganhado destaque na imprensa burguesa o termo “tridemia”, neologismo para designar três pandemias ocorrendo ao mesmo tempo, as variantes ômicron e delta do novo coronavírus e a gripe influenza. Parte da pequena-burguesia se presta ao papel de passar pano para a classe dominante, a burguesia propriamente dita, e impulsiona o autoritarismo estatal com a questão da obrigatoriedade da vacina, transferindo a responsabilidade pelo fracasso no combate à pandemia de covid para o cidadão comum. Enquanto isso, as grandes empresas demitem a rodo, os bancos seguem se apropriando dos orçamentos públicos e os Estados não investem o que deveriam para prevenir e remediar a crise sanitária.
Crise do capitalismo ou das “consciências”
Em qualquer situação social, por mais diversa que seja, setores dessa pequena-burguesia desnorteada aparecem com alguma explicação moral para justificar todo tipo de barbaridade. Luta contra a corrupção que entrega o poder para notórios corruptos, aumento da repressão policial para combater “perversos” criminosos, veganismo para salvar os animais enquanto milhões de pessoas passam fome mundo afora.
Diante da pandemia de covid, a todo momento procuraram jogar a culpa no povo. Primeiro com a farsesca campanha do “fique em casa”, inacessível para a maioria da população, que não teve a opção do teletrabalho e seguiu lotando os transportes públicos, fábricas e empresas em geral. Depois atacaram aqueles que após um ano trabalhando normalmente resolveram esbanjar uns poucos dias nas praias com a família. Para encher os bolsos dos patrões, tudo bem sair de casa, para gozar um raro momento de lazer, não.
Antes mesmo do desenvolvimento das vacinas, não cobraram testagem em massa, distribuição de materiais como máscaras e álcool em gel. Para quem não teve a possibilidade de receber seus salários ficando em casa, nada de auxílio digno ou de exigência dos governos para que as grandes empresas mantivessem os pagamentos. Nada de congelamento das contas de água e luz. Nada de cobrar do Estado e dos capitalistas por ações concretas e positivas, apenas mais repressão aos trabalhadores.
Tão logo apareceram as primeiras vacinas, a esquerda pequeno-burguesa ingressou num apoio bizarro e inconsequente à obrigatoriedade da vacina. Pois bem, nesse primeiro momento os postos de saúde nem tinham vacina para oferecer, foi necessário seguir um confuso calendário, que ora usava como critério a idade, ora a profissão, ora o grupo étnico.. Essa ânsia por levantar bandeiras morais, leva inevitavelmente esses setores a apoiar o que há de mais punitivista nessa sociedade falida e decadente.
Capitalismo ladeira abaixo
Como Lênin apontou certeiramente no início do século XX, a fase imperialista do capitalismo expressa inequivocamente a decadência desse modo de produção e os sintomas não param de se acumular, como num paciente em fase terminal. Em pleno século XXI a humanidade ainda padece de doenças infectocontagiosas como se não houvessem transcorrido décadas, ou seja, tempo de sobra para avanços tecnológicos e sociais num ritmo normal de desenvolvimento.
Não fosse tão profunda a crise capitalista, seria razoável que os governos investissem minimamente na saúde pública, não por amor à humanidade mas ao menos para otimizar o funcionamento da economia. A receita neoliberal é um sinal claro da absoluta impossibilidade de reverter o desmonte dos serviços públicos em benefício do capital mais parasitário possível, representado principalmente pelos bancos privados.
Caso se tratasse de uma mera opção da classe dominante, ao menos diante de uma pandemia como a desencadeada pelo novo coronavírus, que atrapalhou o funcionamento econômico em nível mundial, poderia ter ocorrido alguma resposta de emergência. Novamente, em benefício do próprio sistema capitalista. O prognóstico é bastante claro, o capitalismo não consegue socorrer nem a si próprio, muito menos a humanidade a qual flagela irracionalmente.
Beco sem saída
Não adianta tentar tapar o Sol com a peneira, o fracasso no combate à pandemia não foi obra do acaso ou de um ou outro “negacionista”. Nem nos países capitalistas desenvolvidos a testagem em massa foi adotada plenamente, na Itália médicos tiveram que escolher quais pacientes tratar e foram socorridos por profissionais de um pobre país do caribe, a Cuba revolucionária.
Enquanto a classe média assustada avaliza o autoritarismo estatal, os capitalistas seguem especulando em cima das vacinas, omitem informações e defendem criminosas patentes que inviabilizam uma ampla vacinação de fato em nível mundial. Fosse para escolher uma bandeira moral mais humana, por que não fizeram campanha pela quebra das patentes? Por que não destinar o orçamento público para socorrer as massas famintas mundo afora?
Dentro do sistema capitalista não há qualquer chance de escapar desse quadro de terror, a marginalização de enorme contingente da população mundial cria um sinistro laboratório para novas variantes do coronavírus e para o surgimento de novas doenças. É nosso dever lutar pela superação da pré-história da humanidade e avançar para uma sistema de abundância, o socialismo.
