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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Venezuela

Os dilemas do chavismo

Dominando todas as instituições do Estado e com um forte apoio operário, as condições estão dadas para a tomada do poder pelo chavismo de forma independente da burguesia

O presidente Nicolás Maduro fez uma bela homenagem a Marx e Engels ao produzir um vídeo sobre o aniversário do Manifesto Comunista. O “presidente obrero”, como é chamado pelo povo venezuelano, se colocou como revolucionário e como um membro legítimo da classe operária, reivindicando o legado marxista.

Esse posicionamento de Maduro é digno de aplausos, no momento em que a maior parte da esquerda latino-americana e internacional recusa o marxismo e a revolução e aposta na mais indecente colaboração de classes.

É exemplar a respeito do papel que a Venezuela cumpre na luta de classes. Trata-se do polo mais à esquerda no continente e mesmo no mundo neste momento, com uma mobilização de massas que já dura duas décadas. Polariza com o imperialismo e seus fantoches de extrema-direita, contrastando também com a política de frente ampla levada a cabo na Bolívia, Argentina, Chile e Equador e também esboçada no Brasil.

A força da classe operária é constatada pelo fato de ter vencido todas as tentativas de golpe, invasão, desestabilização e bloqueio executadas pelo imperialismo nesses 20 anos.

Neste momento, em especial, a correlação de forças no país é favorável à revolução. O imperialismo e a direita venezuelana, sua vassala, estão momentaneamente neutralizados. A paz, tão rara nos últimos anos no país, foi conquistada parcialmente após o esgotamento da opção Guaidó.

As eleições legislativas do ano passado demonstraram isso claramente. Diante da inevitável derrota acachapante, a direita golpista decidiu boicotar o pleito, como de costume. Mas desta vez ela não conseguiu causar o mínimo de desestabilização política que permitisse uma retomada do avanço golpista.

Como resultado, as forças chavistas conquistaram nada menos do que 91% da Assembleia Nacional, a quase totalidade dos deputados. O PCV mostrou sua verdadeira face pequeno-burguesa centrista, de colaboração com a direita, ao romper a aliança com o bloco chavista, que já vinha de anos.

Como é típico da esquerda pequeno-burguesa centrista quando a polarização política se agudiza e a direita avança, o PCV justificou o rompimento com um discurso pseudorrevolucionário, oportunista em objetivo e sectário na forma. O apoio do PCB a essa política é significativo. À medida que as forças populares se colocam em um polo e a direita em outro, e o nacionalismo burguês agrupa o polo operário, a esquerda pequeno-burguesa, como resultado de sua posição social, procura se deslocar desse polo e, muitas vezes, propor uma “terceira via” com fisionomia esquerdista mas que, na prática, vai ao encontro da conciliação de classes. No Brasil, PCB, PSTU e PSOL afastaram-se do PT quando este polarizou as forças populares contra a direita, e vemos hoje que são partidos que se aliam com blocos que representam setores minoritários da burguesia, como o PSB, PDT e Rede. Ao se afastarem do nacionalismo burguês, recusando uma aliança tática, afastam-se, ao mesmo tempo, da classe operária, e boicotam a unidade dos trabalhadores e demais explorados contra a direita. O aprofundamento da luta de classes está levando, portanto, a uma delimitação mais clara dos setores políticos em disputa.

Com a vitória na Assembleia Nacional, o chavismo consolida sua hegemonia política institucional. Além dos 91% dos deputados, ele controla 92% das prefeituras (308, do total de 335 existentes na Venezuela), 19 dos 23 estados são governados pelo PSUV, as forças armadas se mostraram firmes em sua fidelidade a Maduro devido ao expurgo de elementos direitistas em posições importantes promovido por Chávez, e o Judiciário, ao contrário do Brasil, tem um predomínio legalista e alinhado ao nacionalismo. Além disso, o sistema de milícias populares é peça chave para a garantia da continuidade do processo chavista e ele vem sendo impulsionado com o aumento do efetivo de milicianos e o treinamento constante da população civil.

O próprio Partido Socialista Unido da Venezuela é um termômetro para medir o nível de polarização e acirramento da luta de classes. Todas as pesquisas e eleições comprovam que é o partido mais popular do país. Atualmente, tem 7 milhões de filiados, o que representa 35% do eleitorado nacional. Nos últimos cinco anos, o PSUV incorporou 2 milhões de membros. Ao contrário do PT, os filiados do PSUV desempenham um papel militante, ativo, não apenas passivo, o que é fundamental para balancear o domínio da burocracia no aparato partidário. Apesar disso, logicamente é um partido mergulhado em contradições inextirpáveis, como todo partido nacionalista.

Isso coloca o chavismo em uma posição não somente de hegemonia institucional, mas além. Outro fator primordial para o predomínio das forças populares em sua luta contra a burguesia e o imperialismo é a presença das comunas. Impulsionadas no governo Hugo Chávez, elas sempre tiveram como potencial o surgimento de um poder paralelo ao Estado, apesar das pressões da burocracia chavista e governamental.

Para muitos venezuelanos, o que está salvando a economia venezuelana da crise é justamente a produção comunal.

As forças chavistas, se pretendem, como expressou Maduro, colocar em prática o exemplo de Marx e Engels, precisam aproveitar a hegemonia institucional, somá-la ao predomínio na população – em especial na classe operária – e radicalizar de uma forma revolucionária a luta contra a direita golpista, a burguesia e o imperialismo.

Com o controle de praticamente todo o aparato estatal do país e o apoio popular, o chavismo se encontra em uma posição incrivelmente favorável para implementar aquilo que Maduro diz se inspirar – isto é, o socialismo de Marx e Engels. Seria uma forma um tanto quanto sui generis de revolução, uma via prussiana aplicada à América Latina. Mas não seria de todo absurda, visto a experiência cubana de transformar a revolução democrática de 1959 em revolução socialista, com a evolução política de seus quadros dirigentes, como Fidel Castro e Che Guevara diante da pressão das massas. Cuba é a principal fonte de inspiração dos venezuelanos e se realmente eles querem seguir o exemplo da ilha, o exemplo de Marx e Engels, precisam, necessariamente, expropriar a burguesia.

As condições estão dadas. A tomada do poder pelos trabalhadores na Venezuela, além de pôr um fim à chantagem constante da direita, da burguesia e do imperialismo contra o chavismo, permitiria quebrar a coluna vertebral da paralisia econômica imposta pelos capitalistas ao país, que é a propriedade privada dos meios de produção.

Além disso, a tomada do poder pelos trabalhadores e a formação de um governo operário, sem os capitalistas e com a estatização da economia, abriria certamente uma nova etapa na situação política da América Latina, em que a correlação de forças se tornaria mais favorável para os trabalhadores de todo o continente, que lutam neste momento contra os regimes golpistas, as ameaças de golpes de Estado, das forças armadas e do imperialismo e também contra a capitulação crescente da esquerda pequeno-burguesa que tem uma tendência crescente de ficar a reboque da burguesia em suas ilusões de voltar ao governo ou ao menos de derrotar a extrema-direita.

Para isso, Maduro e o bloco chavista precisam se apoiar, mais do que nunca, na mobilização dos trabalhadores, na mobilização revolucionária e independente das massas, entender a necessidade de travar um combate verdadeiro contra os inimigos do povo e da revolução, e romper todos os laços que ainda têm com a burguesia – que já comprovou integralmente seu caráter reacionário e golpista.

“Nossa revolução bolivariana assumiu desde o princípio, com o Comandante Hugo Chávez, as ideias fundamentais de Marx e Engels. A ideia do materialismo histórico, a ideia da dialética materialista e a ideia da busca da utopia possível, da utopia concreta até o futuro de uma humanidade com um socialismo com particularidades de acordo com todas as regiões e países e culturas do mundo. Nós tremulamos com muita força há 173 anos [da publicação] desse documento fundamental da história da humanidade, tremulamos as ideias da luta revolucionária, da luta de classes por uma sociedade superior, uma sociedade mais humana”, disse Maduro.

A classe operária venezuelana deu um passo importante para a luta revolucionária. Agora é preciso dar um novo passo. Após acumular forças na luta contra a burguesia e o imperialismo e alcançar um alto nível de mobilização, é preciso terminar a obra revolucionária com a tomada do poder e a construção de um verdadeiro governo operário. A Venezuela tem em suas mãos a possibilidade de fazer a diferença neste momento no nosso continente, um continente castigado por golpes e pilhagens recentes. Um continente, porém, que, com o impulso e a força da classe operária venezuelana e sua tomada do poder, pode se transformar naquilo que tantos latino-americanos sonham. Na Pátria Grande, operária e socialista. Tal é o tamanho da responsabilidade dos trabalhadores venezuelanos, os quais certamente os trabalhadores brasileiros estão dispostos a apoiar na luta pelo esmagamento da direita golpista e da burguesia entreguista, na luta pela expulsão dos espoliadores imperialistas.

 

Maduro homenageia O Manifesto Comunista

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