Em artigo publicado no dia 18 de fevereiro, a Revista Veja, um dos veículos mais rasteiros da imprensa burguesa brasileira, afirmou que o ex-presidente Lula estaria perto de conseguir anular seus processos junto ao STF. Embora muito desmoralizada por toda a campanha de calúnias durante o golpe, a revista segue sendo uma das porta-vozes oficiais da burguesia — portanto, suas informações devem ser levadas em conta.
Segundo a revista, “a ala de ministros que defendem as investigações da Lava-Jato no STF já vislumbrou toda a queda da operação na Corte”. Um dos ministros ainda teria dito que “toda a obra de Moro acabará” e que “será uma vergonha nacional”. A conclusão lógica diante da derrubada da Operação Lava Jato seria, naturalmente, a anulação de todos os seus processos. Para a revista, haveria uma grande chance de os processos de Lula serem também derrubados: “os atos de Sergio Moro no tríplex serão anulados pela Segunda Turma do tribunal e Lula usará essa decisão para pedir, logo na sequência, uma revisão criminal também no caso do Sítio de Atibaia”.
A Revista Veja conclui: “como a maré contra a Lava-Jato é forte em Brasília, se os casos forem ao plenário, para julgamento dos onze ministros, não há mais certeza de que Moro e sua turma terão maioria para sustentar as condenações contra Lula”.
Até o momento, trata-se de pura especulação. Não se sabe, ainda, quais as pretensões da burguesia ao jogar esse tipo de fofoca dos bastidores do Judiciário. No entanto, pode-se tirar duas conclusões. A primeira é a de que a manutenção da condenação de Lula é uma grande preocupação dos golpistas. Foi feito um esforço monumental para condená-lo, prendê-lo e cassar seus direitos políticos. Tudo isso, no entanto, está cada dia mais difícil de sustentar, uma vez que a Lava Jato foi desmoralizada por completo. Ficou comprovado nos mínimos detalhes que Sérgio Moro e Deltan Dallagnol foram contratados pelo Departamento de Estado norte-americano para conspirar contra o povo, colocar um governo direitista no poder e manter o maior líder popular do País atrás das grades.
Outra conclusão é a de que a burguesia, imitando o que fez durante todo o período em que Lula esteve preso, pode estar se preparando para, diante do aumento da crise da Lava Jato, cooptar a esquerda pequeno-burguesa para a defesa do STF. Essa política, de caráter paralisante, serve para impedir que a esquerda se mobilize e fique esperando o dia de são nunca quando o STF decidirá, por conta própria, restituir os direitos políticos de Lula. Ao mesmo tempo, essa campanha de que o STF estaria inclinado a anular os processos também acaba estimulando a extrema-direita mais militante a sair às ruas.
Independentemente dos motivos que levaram a Revista Veja a publicar o artigo, é preciso levar a sério a preocupação da burguesia com a candidatura de Lula. Se ela está tão preocupada, é mais uma comprovação de que o ex-presidente é uma alavanca para a luta dos trabalhadores contra o regime. Ao mesmo tempo, se há o interesse de dar pistas falsas para dispersar a mobilização, é preciso responder a isso com a única política capaz de garantir os direitos políticos de Lula: as ruas.
O próprio ex-presidente já afirmou, em entrevista recente, que está disposto a se candidatar. Segundo disse, “se for necessário para derrotar o tal do bolsonarismo, não tenha dúvida nenhuma que eu me colocaria à disposição”. E vai ser necessário. Para derrotar a extrema-direita, a classe operária precisa dispor de todas as suas ferramentas para impulsionar uma gigantesca mobilização contra o regime. E Lula, como maior líder popular do País, é fundamental.
Por isso, é preciso aproveitar o dia 27, quando estão sendo chamados atos pela anulação dos processos, para organizar uma grande manifestação em defesa dos direitos de Lula.