Com o estabelecimento da Santa Inquisição, adotou-se o suplício com pena para os pecadores. A Contrarreforma, movimento mais tardio da Igreja, dá novo ímpeto ao suplício dos condenados em praça pública. Os espetáculos da morte eram a principal atração das aldeias e cidades. O pecador, depois de passar por uma interminável seção de tortura, era vestido com uma camisola e passava em meio à multidão para ser hostilizado a caminho da fogueira.
Muito dos suspeitos, no entanto, evadiam-se antes de serem capturados pela Inquisição. Mesmo assim, eram condenados à morte e executados em efígie. Ou seja, fazia-se uma imagem do pecador, queimavam-na e acreditavam queimar a própria alma do pecador, já que não lhe tinham o corpo.
Entre o final do século XVIII e começo do XIX, foram-se extinguindo os suplícios corporais e, com o tempo, as execuções públicas. A fogueira extinguiu-se e apenas os povos incivilizados continuaram a utilizá-la.
Mas, ao que parece, a moda voltou. Borba Gato foi queimado em efígie. Talvez a alma dele comece a arder no inferno, já que antes residia no céu. A única diferença entre o suplício de ontem e o suplício de hoje é que Borba Gato, desta vez, não teve julgamento. Foi condenado pelo crime de antipatia.
Se fosse submetido a um juízo, deveria ser considerado inocente, visto que não se dedicou em momento algum à preação do índio. A atividade de Borba Gato, durante o ciclo das Bandeiras foi a da mineração. Nada mais do que isso.
Contudo, nem mesmo aqueles bandeirantes que o fizeram, como Raposo Tavares e Fernão Dias Pais, deveriam ser execrados por isso. Foram desbravadores. E esses desbravadores deram ao Brasil o mapa que tem hoje. Se capturaram índio ou não, isso não vem ao caso. A importância histórica deles não é essa. A importância histórica dos bandeirantes e do Bandeirismo foi o alargamento do território nacional.
Os que acham que o bem causado depois não apaga o mal causado antes vivem ainda no cenário de filmes de Hollywood em que há sempre uma luta entre o bem e o mal. São moralistas. Ou é preto ou é branco. É preciso lembrar, fazendo uma referência a Hollywood, que entre o branco e o preto existem cinquenta tons de cinza.