Nesta semana, a temperatura da situação política voltou a subir. Pouco tempo depois da anulação dos processos contra o ex-presidente Lula, que impactou duramente as projeções para as eleições de 2022, uma série de movimentações envolvendo o governo Bolsonaro e as Forças Armadas vieram à tona. De um lado, Bolsonaro convocou, recebendo o aval de todas as instituições do Estado, atos em celebração à ditadura militar. De outro, exonerou os três principais comandantes das Forças Armadas.
Os acontecimentos deram lugar a muita especulação. No entanto, nem mesmo a grande imprensa capitalista demonstra saber o que de fato está acontecendo. As análises são, todas elas, desencontradas e pouco fundamentadas. Uma das hipóteses mais correntes é a de que os comandantes teriam sido demitidos por se recusarem a dar um golpe de Estado. Isso, contudo, não tem qualquer lastro na realidade. Em primeiro lugar, porque toda a cúpula das Forças Armadas é golpista, como visto nos casos de Eduardo Villas Bôas e Hamilton Mourão. Em segundo lugar, porque a conclusão óbvia seria a de que, uma vez que o general “democrático” tivesse sido demitido, o País estaria à beira de um golpe militar. Se houvesse de fato essa divergência nas Forças Armadas, o general não sairia assim tão pacificamente. Além disso, certamente haveria um levante no setor das Forças Armadas sob seu controle.
A hipótese de que Bolsonaro estaria encurralado ou de que o “centrão” passou a dominar o governo também não possuem fundamento. Ao que tudo indica, Bolsonaro está procurando fortalecer o seu governo, trazendo pessoas de confiança para seu entorno. As pessoas que estão sendo convocadas pelo presidente ilegítimo são elementos de uma “linha dura” — isto é, mais abertamente bolsonarista. E o objetivo disso seria, portanto, aumentar a autoridade do governo sobre os setores da burguesia que não o apoiam diretamente para garantir que Bolsonaro seja o candidato da direita já no primeiro turno.
Outro aspecto importante que indicaria esse fim eleitoral é o recuo visto nas manifestações golpistas do dia 31 de março. Evidentemente, o governo Bolsonaro recuou nessas manifestações, que poderiam ter sido muito maiores, provavelmente por exigência de algum setor com o qual está tentando negociar o apoio à sua candidatura.
Apesar de a crise entre Bolsonaro e os comandantes parecer revelar uma disputa eleitoral, é fato que tem havido muita movimentação da extrema direita e das Forças Armadas. Isso, por sua vez, seria o resultado da crise total em que o País está imerso: a pandemia está totalmente fora de controle e a situação social é explosiva. Diante disso, as Forças Armadas devem estar se preparando para alguma ação de grande envergadura cujo fim seria o de conter uma futura explosão popular.
Tendo isso em vista, é papel da esquerda e do movimento operário organizar o povo para impedir que os militares avancem no regime. A tendência à repressão é cada vez maior, uma vez que a crise só piora e a direita se torna cada vez mais impopular. É preciso, portanto, seguir o caminho apontado nos contra-atos do dia 31 de março: mobilização permanente contra o governo Bolsonaro, os militares e todos os golpistas!
