A esquerda parece ter memória curta. O PSDB, indubitavelmente o principal partido inimigo do povo brasileiro, agora está sendo apresentado como “democrático”. É nesse sentido que um setor minoritário – no qual estão os oportunistas profissionais da política nacional e ideólogos “bem-pensantes” da esquerda pequeno-burguesa – elogiam a possibilidade de uma chapa presidencial liderada pelo ex-presidente Lula (PT) com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) como vice.
Apesar da presidenta do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann, ter desmentido, em entrevista à TV 247, a aliança eleitoral já dada como certa pela imprensa golpista, é fato que seu partido discute com Geraldo Alckmin. Por isso, é importante desde já repudiar que o esgoto político representado pelo ex-governador paulista esteja presente na chapa presidencial de Lula, candidato do povo e da luta contra o golpe.
Para isso, é preciso lembrar quem é Alckmin. O que melhor expressa a política do tucano foi sua atuação durante as jornadas de junho de 2013. Foi durante o governo Alckmin que ocorreram as brutais repressões policiais às manifestações que lutavam contra o aumento do custo do transporte.
Junho de 2013
As cenas foram horríveis. Foi a maior repressão contra atos de rua registrada desde a ditadura militar (se é que não foi maior…). Apenas para se ter uma ideia, no quarto dia das manifestações, no dia 13 de junho, o ato em São Paulo terminou com diversos jornalistas feridos e mais de 240 detidos pela Polícia Militar de Alckmin. Isso em apenas um dia. Foram registrados olhos arrancados por tiros de bala de borracha, pessoas sufocando diante das bombas arremessadas pela polícia, que realizou uma verdadeira tática de guerra contra os manifestantes.
A PM de Alckmin cercou manifestantes, impedindo a fuga dos ativistas após o início da repressão. Correndo da repressão, manifestantes eram encurralados pela PM, espancados e presos. O então governador de São Paulo deixou sequelas para sempre em algumas vítimas da repressão. Alguns, por exemplo, perderam a visão permanentemente.
Alckmin fascista
Apenas com este acontecimento, percebe-se que Alckmin não é nada democrático, conforme alegam os ideólogos da esquerda pequeno-burguesa e da direita golpista. Vale lembrar que, em 2018, antes do ex-presidente Lula ser preso ilegalmente pela Lava Jato, o tucano comemorou o atentado contra a caravana do petista, que foi atingida por tiros no Paraná.
“Acho que eles estão colhendo o que plantaram”, disse o então governador paulista sobre o atentado à vida do ex-presidente, antes de assistir à pré-estreia de “Nada a Perder”, cinebiografia do bispo Edir Macedo.
Em 2015, durante as ocupações de escolas em São Paulo, quando estudantes ocuparam mais de 200 escolas do estado, Alckmin mobilizou seu então secretário de Segurança Pública, o atual ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para usar táticas de guerras contra os jovens, menores de idade, utilizando métodos de tortura, bloqueando as vias de entrada para comida e outros suprimentos.
Alckmin é ligado à Opus Dei, a organização mais reacionária da Igreja Católica. Em 2018, quando candidato à presidência da República, teve o resultado mais pífio da história do PSDB, pois é extremamente impopular. O “picolé de chuchu”, como é conhecido, é tão impopular que a burguesia teve de apoiar o inconveniente Jair Bolsonaro para derrotar o PT.
Lula só perde com Alckmin
O candidato do povo, Lula, não tem nada a ganhar numa aliança com Alckmin. Apenas perderá apoio dos setores que querem fazer uma campanha real a favor do petista. Se juntar com Alckmin é perder um pouco de votos, mas perder muita “mão de obra” militante. Isso porque boa parte da vanguarda combativa contra o golpe ficará desmoralizada caso essa aliança se concretize.
Ao contrário de Bolsonaro, que vai explorar o discurso “anti sistema”, isto é, contra o atual regime político totalmente desmoralizado diante do povo, Lula será apresentado – pelo o cinismo da imprensa burguesa e aos olhos de alguns trabalhadores – como candidato do “sistema”. Lula precisa de um vice combativo, um militante de luta, um homem que se contraponha ao regime golpista, e não que faça parte dele.