A imprensa burguesa promoveu intensa propaganda contra o regime cubano diante das supostas mobilizações espontâneas do povo que aconteceram no último 11 de julho nas províncias de Artemisa, Havana, Pinar del Río, San Antonio de los Baños e Santiago de Cuba. A notícia veiculada foi de que a população teria ido às ruas protestar contra a fome, pela vacina, contra os apagões e, principalmente, pelo fim da “ditadura” no país. As mobilizações foram apresentadas como resultado de uma campanha realizada nas redes sociais sob a hashtag “#SOSCuba” e teriam sido fortemente reprimidas por tropas especializadas incluso com prisões de diversas pessoas. O cenário apresentado foi de crise sanitária no país e até mesmo Yoani Sánchez reapareceu para defender uma saída proposta pelo imperialismo de criar corredores humanitários em Cuba.
Para esclarecer os acontecimentos, no dia 13 de julho, Pedro Monzón Barata, Cônsul Geral de Cuba em São Paulo, participou como entrevistado no programa “Conexão América Latina” da Causa Operária TV, onde denunciou a artificialidade dos atos financiados contra o governo cubano e a ditadura criminosa imposta pelo governo dos Estados Unidos. Não havia completado sequer um mês da aprovação de mais uma resolução da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, votada no dia 23 de junho pelo 29° ano seguido, contra o bloqueio econômico criminoso imposto contra Cuba pelo governo norte-americano, que segundo nosso entrevistado está no centro do desenvolvimento da atual situação em Cuba.
Sobre as manifestações, Pedro explica que “há muita falsificação”, que “apesar de acontecer em distintas províncias, não há manifestações multitudinárias em Cuba, ainda que isso nos preocupe” e que “a imensa maioria do povo é revolucionário”. Sobre a campanha na internet, diz que se trata de um “bosque de mentiras gerado nas redes sociais e que estão manipuladas diretamente pelos Estados Unidos”. Denuncia que os conflitos são provados para serem “filmados e colocados nas redes sociais para criar uma Cuba virtual e caótica” e partir disso dar “declarações como fez (Joe) Biden sobre intervenções humanitárias e outras soluções militares”.
As manifestações não tiveram nada de espontâneas como se afirmou, uma simples analise a partir dos fatos torna irrefutável a ação coordenada em Cuba e nas redes sociais. O primeiro protesto aconteceu em San Antonio de los Baños e logo depois nas demais províncias, a experiência prática demonstra que mobilização desse tipo necessita ser organizada previamente. Os Estados Unidos gastam milhões de dólares no financiamento de contrarrevolucionários, desta maneira blogueiros “independentes” tem seus canais impulsionados nas redes socais assim como perfis anônimos (robôs) que mentem descaradamente.
Foram divulgadas dezenas imagens de vítimas de acontecimentos em outros países, de moradores de rua incluso dos próprios Estados Unidos e vídeos de manifestações que nada tem a ver com o que ocorre em Cuba. É importante destacar que operações desse tipo aconteceram no Brasil no impulsionamento da organização fascista Movimento Brasil Livre (MBL). Até mesmo artistas estão sendo financiados pelo imperialismo para atacar o regime cubano, a música “Patria y Vida” ultrapassou 1 milhão de visualizações em menos de 72 horas no YouTube.
O bloqueio econômico contra Cuba foi imposto ainda pelo governo de Dwight D. Eisenhower após a revolução de 1959 e aprofundado pelo governo de John F. Kennedy em 1962. Apesar da ONU ter emitido resoluções formais pelo fim das restrições à ilha nos últimos 29 anos, o bloqueio que existe há mais de 60 anos se intensificou ainda mais. Ao ignorar as decisões desde 1992, os Estados Unidos demonstram não existir democracia alguma no mundo e que a ONU serve somente para impor políticas de interesse dos países imperialistas aos países atrasados.
Segundo nosso entrevistado, os impactos são muito negativos para os cubanos: “Isso reflete sobre os alimentos, Cuba não tem como comprar porque não os vendem, ou tem que comprar assim como outras importações de lugares distantes e pagar comissões enormes que multiplicam os custos das operações. Isso reflete no consumo do povo. Tem sido bloqueado o petróleo, o turismo, financiamentos, as remessas aos cubanos. Tem sido feito o impossível, cada vez que detectam uma fonte de ingresso a bloqueiam para acabar conosco criminosamente”.
No centro das questões sociais utilizadas como pretexto para impulsionar atos orquestramos pelo imperialismo contra o governo de Cuba está o bloqueio econômico que restringe a importação dos produtos que permitiriam resolver esses problemas. A tentativa de asfixiar economicamente Cuba tem como objetivo colocar o povo contra o regime, nos conta Monzón: “…eles sabem que é o povo quem sofre, por que a tese é fazer o povo sofrer, para que o povo rechace o governo e fazer romper a relação governo-partido/estado e povo. Essa é a tese que em Cuba não tem funcionado, não vai funcionar porque o povo é revolucionário e acima de tudo queremos a independência”.
Cabe destacar que os Estados Unidos buscam também sufocar economicamente a Venezuela com o mesmo objetivo, as condições de vida da população são atacadas fortemente devido o bloqueio igualmente criminoso, tal situação serviu de pretexto para uma tentativa frustrada de invasão no país disfarçada de ajuda humanitária. A mesma campanha nas redes socias aconteceu contra o governo chavista de Nicolás Maduro por meio da hashtag “#SOSVenezuela”, as denúncias, que evidentemente se tratam de mentiras, também são as mesmas: a fome e a ditadura contra a população.
Sobre a semelhança do método aplicado em diferentes países, Monzón denuncia que “corresponde aos manuais da CIA (sigla em inglês para Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos). Os anos passam e as invasões continuam, na verdade com medidas brandas, golpes brandos, e também mistos que envolvem pressão econômica e militar. Isso é aplicado contra Venezuela, no Oriente Médio, e muitos outros países. É um sistema agressivo para derrubar governos e mudar regimes”. É importante salientar que os Estados Unidos são responsáveis por inúmeros ataques contra governos anti-imperialistas, o que inclui atentados terroristas como aconteceram contra população de Cuba e Venezuela e operações de guerra como promove também contra os países do Oriente Médio.
Nosso entrevistado relata a dificuldade em adquirir as peças necessárias para colocar fim aos apagões elétricos, também para comprar alimentos e insumos para produção de medicamentos e vacinas no país. Pedro denuncia que os Estados Unidos de maneira criminosa impedem a entrada de doações e impõem dificuldades para combater a COVID-19: “foram comprados ventiladores respiratórios de uma empresa suíça e, após ser adquirida por capital dos Estados Unidos, foi enviada uma nota literal dizendo que havia a indicação de não vender mais à Cuba”.
Sobre a repressão contra os opositores em Cuba que imprensa capitalista noticiou, Monzón disse: “Cuba conhece a repressão com mangueiras de bombeiros, com gases lacrimogênios, com balas de borracha e etc. pelos filmes de Hollywood. Em Cuba, isso não existe, não se faz a menor ideia disso. Cuba é um dos países mais tranquilos, mais estáveis, mais seguros do mundo. Isso dizem os turistas. Em Cuba se quiser sair às 2 horas da manhã ou às 3 horas na rua, ficar num banco de parque conversando, não tem problema”. E conclui: “Não existe essa repressão de carros blindados… Que tipo de ditadura tem num país que está continuamente consultando as massas?”
A denúncia de crise sanitária revela o mau-caratismo da imprensa burguesa, que não passa de uma caixa de ressonância do imperialismo, pois Cuba tem o menor índice de mortes por milhão de habitantes em decorrência da COVID-19, além de ter desenvolvido cinco vacinas e ter enviado milhares de médicos a diversos países do mundo. É fato que existe uma crise sanitária em âmbito global, que é resultado fundamentalmente da política imperialista, a qual impede o progresso da humanidade e impõe a miséria material a maior parte dos países do mundo. Ao apresentar os números divulgados pela Universidade Johns Hopkins, Monzón revela que, se há países que mereçam uma maior atenção no que diz respeito aos impactos produzidos pela pandemia, Cuba não seria um deles incluso em comparação aos países imperialistas.
Relação de países | Mortes por milhão de habitantes |
Brasil | 2.706 |
Argentina | 2.447 |
México | 1.956 |
Estados Unidos | 1.884 |
França | 1.731 |
Cuba | 331 |
Diante da campanha golpista dos Estados Unidos, o presidente Díaz-Canel convocou o povo cubano a dar uma resposta nas ruas e, no dia 17 de julho, mais de 15 mil manifestações aconteceram em todo país, milhões de pessoas em todo país saíram a defender o regime de Cuba. Apesar das mobilizações desmontarem toda farsa criada pelo imperialismo, evidentemente não ganham o mesmo destaque na imprensa burguesa e, no dia 22 de julho, o governo norte-americano impôs mais sanções contra Cuba, desta vez contra o ministro das Forças Armadas, Álvaro López, e contra a Brigada Especial Nacional (Boinas Negras) sob justificativa de suposta violência governamental. As manifestações golpistas serviram de pretexto para intensificar ainda mais as sanções do contra Cuba e demonstram que o “mal menor”, Joe Biden, é ainda mais agressivo do o ex-presidente de extrema-direita, Donald Trump.
O estado operário cubano está cada vez mais sufocado pelos Estados Unidos, o prejuízo econômico acumulado pelo país caribenho devido o bloqueio imperialista está na casa dos trilhões de dólares. A continuidade do governo operário em Cuba depende de uma ampla luta dentro de Cuba e no restante do mundo como aconteceu no Brasil, onde os partidos de esquerda defenderam a embaixada de Cuba e expulsaram os gusanos, traidores cubanos pró-imperialistas, bem como a direita golpista. Assim como o capitalismo não pode existir em um único país, um estado operário isolado tende a ser derrotado no capitalismo. Se levantar contra os ataques criminosos contra o povo de Cuba é um dever de todas organizações operária do mundo. É preciso impulsionar gigantescas mobilizações das organizações operárias contra os golpes imperialistas em países atrasados.
CONFIRA NA ÍNTEGRA A ENTREVISTA COM PEDRO MONZÓN BARATA, CÔNSUL GERAL DE CUBA EM SÃO PAULO, NO PROGRAMA “CONEXÃO AMÉRICA LATINA” DA CAUSA OPERÁRIA TV (13/07/2021).
Causa Operária TV: Como começaram esses protestos em Cuba?
Pedro Monzón: Em primeiro lugar, tenho que dizer que Cuba é um país seguro e estável, que a revolução tem profundas raízes no povo, de maneira que não há por que se preocupar, a revolução cubana não vai cair, ela vai continuar. A falsificação tem estado junto com a revolução incluso desde antes do triunfo, se não fosse pelas notícias falsas não haveria triunfado a revolução cubana. Quantas vezes disseram que Fidel (Castro) estava morto nas primeiras páginas da imprensa antes do triunfo revolucionário e depois da revolução sistematicamente disseram que Fidel estava à beira da morte. É certo que houveram mais de 630 tentativas de assassinato, nenhuma teve sucesso e Fidel morreu aos 90 anos deixando uma obra, um capital enorme de ideias e ações revolucionárias.
Esclareço que se deve abrir a mente para as informações certas, verdadeiras… há muita falsificação. É necessário ser capaz de buscar a verdade dessa maleza, dentro desse bosque de mentiras gerado nas redes sociais e que estão manipuladas diretamente pelos Estados Unidos. Isso está mais que provado. De dentro dos Estados Unidos dão as ordens, as senhas, os sinais. Se iniciou recentemente uma investigação de como foi gerado esse conflito em Cuba e como se implantou o chamado “SOS Cuba”, que foi uma hashtag (#SOSCuba) utilizada por pessoas que insuflaram os conteúdos.
COTV: Quando houve a tentativa de invasão da Venezuela também utilizaram “SOS Venezuela” mostrando que realmente é uma campanha do imperialismo.
Monzón: Claro, isso corresponde aos manuais da CIA (sigla em inglês para Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos). Os anos passam e as invasões continuam, na verdade com medidas brandas, golpes brandos, e também mistos que envolvem pressão econômica e militar. Isso é aplicado contra Venezuela, no Oriente Médio, e muitos outros países. É um sistema agressivo para derrubar governos e mudar regimes.
COTV: Biden apoiou os supostos protestos populares em Cuba, várias organizações que possuem ligações estreitas e que são controladas pelo governo dos Estados Unidos como é o caso da OEA (Organização dos Estados Americanos), o próprio governo Bolsonaro e a direita brasileira. Há muitas evidências que os opositores que vivem em Cuba são financiados pelos Estado Unidos, várias reportagens e documentos foram exibidos que comprovam a ligação com agências do governo americano. São essas pessoas que estavam protestando contra Cuba?
Monzón: Sim. As declarações dos Estados Unidos são hipócritas e cruéis, são manipulações que estão causando este fenômeno assim como o bloqueio. E agora aparecem dizendo que não se pode permitir a violência, que se deve defender os interesses do povo cubano, quando na verdade estão gerando violência, essas declarações são ameaças ademais.
Cria-se um conflitivo por grupos relativamente pequenos através dos quais se reúnem incluso revolucionários que são ingênuos, que não conhecem a realidade que está por trás e acabam gerando um grupo maior, mas nunca massivos. Apesar de acontecer em distintas províncias, não há manifestações multitudinárias em Cuba, ainda que isso nos preocupe.
Esses conflitos são filmados e colocados nas redes sociais para criar uma Cuba virtual e caótica, que não existe. A partir dessa Cuba caótica e fantasiosa que não existe, dão declarações como fez (Joe) Biden sobre intervenções humanitárias e outras soluções militares.
Em Cuba, a imensa maioria do povo é revolucionário. Sobre isso, não fica a menor dúvida, depois das manifestações onde o povo tem saído às ruas em apoio a revolução. Nosso presidente (Miguel Díaz-Canel) disse claramente que as ruas são dos revolucionários, que não vamos entregar a revolução, que não vamos permitir que se abale a revolução.
Tratam de criar uma realidade artificial caótica, nos ameaçam para não tomarmos medidas para tudo siga acontecendo, mas isso não vai passar. Isso vai parar definitivamente.
Em primeiro lugar, estamos dando ao povo informações corretas, o presidente fez intervenções junto a um numeroso grupo de membros do governo esclarecendo detalhes por detalhes sobre o que está acontecendo. O primeiro a fazer é dizer a verdade para o povo em detalhes e seguir dizendo, ante esta conjuntura dar informações adicionais para que o povo entenda.
Em segundo, não permitir que isso siga avançando, as ruas são dos revolucionários, o povo cubano é revolucionário. Evidentemente, eles tratam de explorar a situação econômica geral criada pelo bloqueio há mais de 60 anos. Um bloqueio reforçado, enorme e brutalmente durante o governo de John (Kennedy). Já se falava das 200 e tantas medidas que somavam a infinidade de medidas e sanções de todo tipo contra Cuba.
COTV: A situação de desabastecimento de produtos e de apagões em Cuba são motivados pelo bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos?
Monzón: Evidentemente. O presidente Díaz-Canel, ao lado dos ministros, falou em detalhes sobre os problemas que estão causando apagões e das soluções que estão buscando ainda dentro do bloqueio para eliminá-los, que tem a ver com o desabastecimento de peças necessárias cujo ingresso a Cuba é travado. Ademais como existe uma tentativa de asfixia econômica, a disponibilidades de divisas para adquirir produtos é muito limitada.
Isso reflete sobre os alimentos, Cuba não tem como comprar porque não os vendem, ou tem que comprar assim como outras importações de lugares distantes e pagar comissões enormes que multiplicam os custos das operações. Isso reflete no consumo do povo. Tem sido bloqueado o petróleo, o turismo, financiamentos, as remessas aos cubanos. Tem sido feito o impossível, cada vez que detectam uma fonte de ingresso a bloqueiam para acabar conosco criminosamente.
O povo é quem sofre, os idosos e as idosas, os adultos, mulheres e homens, as crianças. E eles sabem que é o povo quem sofre, porque a tese é fazer o povo sofrer, para que o povo rechace o governo e fazer romper a relação governo-partido/estado e povo. Essa é a tese que em Cuba não tem funcionado, não vai funcionar porque o povo é revolucionário e acima de tudo queremos a independência.
Eu me recordo na Crise de Outubro/Crise dos Mísseis, quando Cuba foi ameaçada por uma invasão dos Estados Unidos, até mesmo contrarrevolucionários correram às armas para lutar, porque se algo temos em comum é que Cuba jamais voltará a ser dominada pelos Estados Unidos.
Os Estado Unidos não mandam em Cuba, nunca venderíamos a revolução. Perderíamos tudo, nossa nação seria apagada do mapa. Nunca permitiriam ao povo cubano renascer, se é que restaria algo porque se invadirem Cuba, todos vamos lutar até a morte. Todas propriedades do povo que são escolas e hospitais desapareceriam ao aplicar medidas neoliberais, que geram desemprego e fome.
Não vamos permitir jamais que isso aconteça e o povo pensa assim. O povo é revolucionário e anti-imperialista. Acima de tudo, quero dizer que estamos (em defesa) da independência, soberania e autodeterminação. Não vamos nos render. Ademais Cuba tem cultivado a dignidade, a revolução tem representado dignidade para o povo. Este sentimento é mais importante entorno do qual se agrupam outros fatores da revolução.
COTV: Qual a posição dos opositores do governo sobre o bloqueio econômico?
Monzón: Apoiam o bloqueio literalmente, não indiretamente, não sutilmente. Apoiam inclusive invasões dos Estados unidos em Cuba. Estas pessoas, que tem essas posições e que nasceram em Cuba, não são cubanas de fato. Não tem sentimentos nacionais, não as interessa o povo. Não tem interesses em programas políticos de desenvolvimento, somente interesses econômicos. A imensa maioria recebe dinheiro para fazer o que fazem, são financiados por dezenas e cento de milhões de dólares pelas agências do governo dos Estados Unidos. Por isso, continuamente tratam de provocar conflitos internos que geram derramamento de sangue entre nós. E, por isso, continuamente se vê gravando vídeos como no caso do Consulado (em São Paulo) para receber dinheiro e colocar nas redes (sociais).
Os vídeos são para que apareçam, não há programa político, ética ou moral, nada em absoluto, não há sentimento patriótico ou nacional. Essa é a realidade dessa gente, são inimigos que pensam somente em seus interesses individuais, como encher os bolsos e como sobreviver dão combate da revolução através de mentiras. São escórias. É impossível que um país ou um fenômeno seja uniforme, sempre há traidores. Dentro de Cuba, uma minoria. A maioria fora de Cuba e nos Estados Unidos também querem uma boa relação com Cuba, estão contra o bloqueio. Mas alguns que estão pensando em benefícios pessoais, traem o lugar onde nasceram. Não são legítimos.
COTV: A imprensa internacional e a brasileira, que uma caixa de ressonância da norte-americana, diz que Cuba é uma ditadura militar e que nesses protestos dos opositores houve repressão da polícia. Aconteceu isso mesmo?
Monzón: São mentiras óbvias, eles sabem que estão mentindo, fazem de propósito segundo um desenho dos manuais da guerra híbrida, uma guerra adequada à quarta geração, um desenho estável produzido em laboratório centralmente e que depois se espalham a partir de robôs e da manipulação de muita gente. Todo isso é absolutamente mentiroso.
Cuba conhece a repressão com mangueiras de bombeiros, com gases lacrimogênios, com balas de borracha e etc. pelos filmes de Hollywood. Em Cuba, isso não existe, não se faz a menor ideia disso. Cuba é um dos países mais tranquilos, mais estáveis, mais seguros do mundo. Isso dizem os turistas. Em Cuba se quiser sair às 2 horas da manhã ou às 3 horas na rua, ficar num banco de parque conversando, não tem problema.
Agora como é possível que num país em crise haja semelhante tranquilidade? Não há repressão, os policiais estão nas ruas conversando com as pessoas. Não existe essa repressão de carros blindados e coisas incríveis que os cubanos conhecem somente através de filmes. Que tipo de repressão é essa? Que tipo de ditadura tem num país que está continuamente consultando as massas?
A última Constituição foi um referendo popular, não há outra no mundo com mais apoio popular do que a cubana, onde a população votou 100% pelo socialismo. Não existe nenhuma constituição tão apoiada de maneira participativa pelo povo. E continuamente Cuba está consultando as massas, tanto pelo Presidente como pelo aparato do governo. Estado/partido estão nas províncias e municípios vendo o que passa com o povo. Interessa o povo, não o capital.
COTV: O presidente Díaz-Canel foi pessoalmente ao local onde aconteceu essa pequena manifestação, em Santo Antonio de los Baños, e a população o recebeu contra a tentativa de desestabilização pelos opositores.
Mozón: Isso para mim é simbólico porque em 1994, período especial onde havia uma situação econômica trágica em Cuba, aconteceu incidente em Malecón envolvendo delinquentes. Fidel foi até o lugar e as massas se reuniram ao redor dele para gritar “Viva Fidel”. O que o presidente Días-Canel fez agora foi o mesmo, compareceu com um grupo pequeno que poderia ser atacado pelo povo, se quisessem, e o aconteceu foi que o povo se reuniu com ele para discutir os problemas que tinham, que está certo e que no grosso resultam do bloqueio.
Entre outras coisas, estão os apagões que são resultado do bloqueio. E outra demanda é que queriam a chegada da vacina, que não havia chegado vacina e queriam ser vacinados. Queriam ser vacinados com vacina cubana porque os cubanos respeitam sua vacina. Os que estão dentro (de Cuba) querem vacinas cubanas e todos que estão fora queríamos porque nos sentimos mais seguros.
COTV: Sabemos que Cuba está desenvolvendo pelo menos quatro vacinas, sendo que duas são comprovadamente eficazes, a Soberana 2 e a Abdala. Como está o combate ao coronavírus em Cuba e qual o efeito do bloqueio econômico para esse combate? Existe dificuldade na importação de seringas e equipamentos? Qual o prejuízo a saúde e a vida dos cubanos?
Monzón: Aqui na imprensa (brasileira) e em outros lugares publicaram que havia uma crise sanitária em Cuba, daí se falava sobre a necessidade de uma intervenção humanitária. Cuba tem as menores cifras de infecção de coronavírus do mundo. Dados da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, a partir de um parâmetro que permite fazer comparações independente da população, registram 1.870 mortos por milhão de habitantes nos EUA, no Brasil 2.480 mortos por milhão habitantes, na França 1.702 mortos por milhão de habitantes, na Argentina 2.159 mortos por milhão habitantes, no México 1.803 mortos por milhão habitantes e em Cuba 132 mortos por milhão habitantes. Uma outra cifra recente, incluso mais favorável, traz que os Estados Unidos teriam por milhão de habitantes 1.724 falecidos e Cuba 47.
Qual a crise sanitária? Em cuba teve um novo surto muito perigoso por conta das novas cepas, incluso da indiana, e estamos preocupadíssimos por não queremos uma só morte. Os cubanos não estão acostumados que acidentes epidemiológicos ou acidentes naturais prejudiquem a população. Mas nossas cifras são ínfimas em todos os terrenos com relação a cifra mundial. Dizer que em Cuba há uma crise sanitária é risível, um descaramento. E a partir disso se fala de intervenções e etc. Como se sabe isso agrupa outros elementos, “que não há produtos de consumo” e demais que são causados indiscutivelmente pelo bloqueio ianque.
Quanto a vacina, a cifra geral considerando a primeira, segunda e terceira doses é de 7.275.137 pessoas. Sendo a menor cifra de aproximadamente 2 milhões de pessoas que tomaram a terceira dose. Naturalmente como passa no mundo inteiro, tem que se cuidar, não é suficiente a vacina, as pessoas podem se infectar depois da primeira dose e transmitir a outros. É necessário seguir as orientações da Organização Mundial da Saúde sobre uso de máscaras, isolamento, distanciamento, etc.
COTV: Esse número que você disse é para uma população de 11 milhões de habitantes. Mas quais prejuízos concretamente sobre a saúde foram provocados pelo bloqueio, para entender como o sofrimento dos cubanos são causados pelos Estados Unidos?
Monzón: Esses milhões foram vacinados com vacinas inteiramente cubanas. Não há vacinados com vacina russas, chinesas ou norte-americanas. Já temos uma aprovada que é Abdala, outra que está à beira de ser aprovada com alta efetividade que é a Soberana 2 e outras três vacinas cubanas em processo de desenvolvimento.
Como a saúde cubana é afetada? Por exemplo, foram comprados ventiladores respiratórios de uma empresa suíça e, após ser adquirida por capital dos Estados Unidos, foi enviada uma nota literal dizendo que “havia a indicação de não vender mais à Cuba”. Nós tivemos que inventar nossos respiradores, não nos permitiram devido ao bloqueio comprá-los. Alibaba (empresa de eletrônicos chinesa) enviou aviões com doações para distintos países incluso Cuba e não pôde aterrissar com os recursos para luta contra à pandemia.
Recentemente, os Estados Unidos cassaram as licenças de duas linhas aéreas que pretendiam levar materiais para apoiar Cuba no combate à pandemia. Continuamente estão bloqueando os ingredientes necessários para produzir vacinas, alguns são importados e nos custa muito trabalho adquirir. Temos que pagar muito caro. Mais que tudo isso, estamos conseguindo sobreviver porque temos encontrado soluções auto-suficientes.
Conseguimos buscar em Cuba, sobretudo, com a inteligência humana e a iniciativa no coração, a paixão revolucionária, para encontrar dentro de Cuba as soluções para seus problemas. Somente assim, pode ser explicado o que Cuba, um país pobre que assim é mantido pelo bloqueio que sofre há 60 anos, tem feito pela educação, pelo esporte, pela saúde, pela ciência em geral, pela biotecnologia. Temos que buscar recursos dentro de nós mesmos e pagar muito mais pelos recursos que importamos.
Mas continuamente o bloqueio afeta muito especialmente à saúde, temos muitos equipamentos nos hospitais que dependem de peças de reposição produzidas nos Estados Unidos ou ingredientes com mais de 10% de produtos dos Estados Unidos, que um país muito potente e com uma economia muito desenvolvida. Não podemos comprar, para adquirir é preciso fazer em segredo porque, se a embaixada dos Estados Unidos do lugar se inteira, bloqueiam a entrada. Tem que ser feito em segredo e muitas vezes pagando comissões pelo risco, ou pagar altos fretes por comprar em lugares muito distantes no hemisfério ocidental.
Claro que nos afeta, afeta a todos e não há nada em Cuba que não esteja afetado pelo bloqueio. Não se pode fazer nada em Cuba sem ter em conta o bloqueio, não se pode planejar um programa de desenvolvimento em Cuba sem considerar o bloqueio. Isso gera muitas deformações, muitas dificuldades, muitas necessidades de se buscar alternativas. Saídas inteligentes como dizia o presidente em relação as tendas para adquirir produtos em dólares, que é uma maneira de buscar financiamento para resolver os problemas de saúde pública, de alimentação popular, etc.
Agora temos a tremenda limitação, ficando cada vez mais difícil de usar os dólares para comprar no exterior, pelo bloqueio. Neste momento, não estamos aceitando depósitos em dólares em Cuba porque não se pode usar, se congela, não se pode usar. Se vás a comprar, não te permitem em dólares. Isso tem a ver com a política do bloqueio e medidas trás de medidas como essa que nos considera um país que patrocina o terrorismo ou que trafica seres humanos. Tudo isso tem implicações econômicas e financeiras, não somente a imagem. Tratam de manchar a imagem de Cuba.
COTV: São quase 30 anos de rechaço pela Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) ao bloqueio econômico dos Estados Unidos contra Cuba, somente Israel votou junto a favor. O recente impedimento a participação de Cuba na Copa Ouro da CONCACAF (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe), torneio de futebol mais importante da região, demonstra que se trata de mais que um bloqueio econômico, um bloqueio a todos os setores da vida aos cubanos?
Monzón: Há 29 anos é votado a favor de Cuba contra o bloqueio e os Estados Unidos ignoram como fizeram agora de novo. Este mundo não é democrático apesar de se falar muito me democracia. Quando invadiram o Irã fizeram dando as costas das Nações Unidas. A política contra Cuba há 20 anos de maneira manifesta é aplicada dando as costas para Nações Unidas e todos polos do mundo.
Isso acontece também com a cultura, bloqueiam quando entram nos Estados Unidos, sobretudo, em Miami, quando agridem aos cubanos ou tratam de cooptá-los para os converter contrarrevolucionários. O que aconteceu no futebol é inadmissível, como se politizar o esporte dessa maneira? O grupo de jogadores ficaram tristes, não puderam jogar por razões políticas. Fazem isso porque querem nos fazer dano e a população fica descontente.