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Defesa dos tucanos

O apoio do centrismo à frente ampla

Breno Altman faz malabarismo para condenar expulsão do PSDB dos atos

Em participação no programa Bom Dia 247, o articulista Breno Altman, filiado ao Partido dos Trabalhadores, revelou ser contrário à expulsão de infiltrados da direita golpista dos atos Fora Bolsonaro. Para defender sua posição, Altman lançou mão de uma série de argumentos que, na verdade, só comprovam que o articulista integra uma ala centrista do movimento diante do problema da “frente ampla”.

Ao contrário dos setores mais direitistas e histéricos da esquerda nacional, que escondem seu apoio ao PSDB por meio de acusações policialescas contra o PCO ou fazem uma pregação demagógica em defesa do “pacifismo”, Breno Altman entrou direto na polêmica: a discussão sobre a expulsão violenta do PSDB na Avenida Paulista é a discussão sobre que tipo de relação o movimento deve ter com a burguesia.

Isso torna Altman mais honesto na discussão, mas não o torna correto. Pois, segundo ele próprio admite, a ideia de uma frente com a burguesia seria tolerável. No entanto, como expressão centrista da “frente ampla”, Altman procura embelezá-la, dizendo que as coisas não são como de fato são.

O grande argumento de Breno Altman para justificar a frente com o PSDB nos atos é que a participação dos partidos golpistas nos atos não seria o mesmo que uma verdadeira “frente ampla”, conforme visto nas décadas de 1970 e 1980 contra a ditadura militar. Isto é, Altman se livra da acusação de frente-amplista usando o argumento de que, como a situação não seria exatamente igual ao período em que a “frente ampla” foi estabelecida, essa frente seria, na atual conjuntura, impossível.

Obviamente, trata-se de um argumento sem valor algum. Se assim fosse, chegaríamos à conclusão de que o Brasil jamais pode ser acometido por uma ditadura fascista, pois a classe operária e a burguesia brasileiras não são exatamente iguais à classe operária e a burguesia italianas. Na verdade, o que qualquer marxista diria é que aquilo que é essencial no fascismo italiano — isto é, a ofensiva da burguesia contra a democracia operária em tempos de crise — pode se manifestar no Brasil, apesar de haver diferenças secundárias — como o fato de que a extrema-direita brasileira seja, em grande parte, apoiadora do Estado sionista de Israel.

Neste sentido, a diferença entre a “frente ampla” organizada durante a queda da ditadura e a “frente ampla” defendida nos dias de hoje têm, entre si, uma série de diferenças em aspectos secundários, mas convergem para o mesmo ponto: ambas são parte de um esforço para retirar o protagonismo da mobilização popular na situação política e entregá-lo à atuação parlamentar de elementos do regime.

Segundo Breno Altman, a diferença principal entre a “frente ampla” montada durante a ditadura militar e a “frente ampla” que está sendo costurada hoje é que, no primeiro caso, haveria um “terreno sólido” para uma aliança. E esse “terreno sólido” teria sido gerado pelo longuíssimo tempo em que a oposição de direita e a oposição de esquerda teriam “lutado” contra um inimigo comum. Essas “lutas” em comum que só Breno Altman e os pelegos stalinistas daquela época viram teriam gerado uma “confiança mútua” que permitiria formar aquele tipo de frente.

Essa colocação não só mostra como a defesa da atual “frente ampla” se dá por uma caracterização política equivocada, como que, finalmente, Breno Altman contemporiza barbaramente com toda a podridão que foi a política de “frente ampla” durante a ditadura militar. E é justamente por não compreender que essa “frente” foi um golpe contra o movimento que o articulista é incapaz de entender o perigo que a atual “frente ampla” representa.

Ora, nunca houve um acúmulo de “lutas” em comum durante a ditadura militar. O que houve, desde o início da ditadura, foi a completa marginalização de todos os setores que queriam lutar contra a ditadura. O que Breno Altman chama de “oposição de direita” era a burguesia organizada em torno do MDB — e posteriormente do PSDB —, que sempre teve sua participação consentida pela ditadura. Isto é, uma ala oportunista por natureza, que só se convenceu de que o regime precisaria mudar após uma crise econômica muito profunda que poderia levar, inclusive, a uma revolução social. Mas o objetivo dessa burguesia nunca foi derrubar de fato o regime, mas simplesmente garantir que seus negócios continuassem a prosperar, o que não aconteceria se as massas derrubassem violentamente a ditadura e impusesse um governo dos trabalhadores.

Toda a participação da direita na “frente ampla” teve como objetivo desmoralizar a mobilização. Aquela explosão social, que levou a centenas de milhares de greves, que construiu o maior partido de esquerda da América Latina, foi transformada em um movimento que levou ao poder José Sarney. A tal “frente ampla” fez com que a esquerda só conseguisse vencer uma eleição presidencial mais de 15 anos depois do fim da ditadura.

A “frente ampla” dos dias de hoje serve para o mesmo fim. É fato que se trata de uma “frente amplinha”, que não tem uma integração tão grande entre a esquerda e a direita, mas isso só a torna ainda mais ridícula. Pois a esquerda que aceita o PSDB nos atos está desmoralizando as manifestações em nome de setores que sequer têm um poder real no regime. Os 40 tucanos pingados no ato em São Paulo, bem como Alexandre Frota e outros, não têm poder algum sobre o regime, não “pesam” na luta contra o bolsonarismo. No entanto, confunde completamente o movimento, retira seu caráter radical de rompimento com o regime. É, como disse Trótski, a “sombra da burguesia” em ação para enganar a esquerda, enquanto que a burguesia verdadeira se abraça com o fascismo.

Altman acredita que a “frente ampla” do passado derrubou a ditadura e que a “frente ampla” do presente não atrapalha a luta pela queda do governo porque ignora uma questão muito simples: a participação da burguesia no movimento de massas nunca impulsiona a mobilização, mas a confunde, a desqualifica. Afinal, se a saída contra o bolsonarismo está nos setores que já estão no regime, para que seria necessária a mobilização?

É por causa dessa defesa da “frente ampla” que o articulista resolve chamar o PCO de “sectário”. Embora não explique o que seja sectarismo ou por que o PCO seria sectário, Breno Altman dá a entender que a atitude dos militantes do PCO de expulsar o PSDB dos atos Fora Bolsonaro seria desagregadora, infantil, nociva ao movimento. Trata-se exatamente do contrário: expulsar o PSDB dos atos é o mesmo que proteger as manifestações dos infiltrados, dos Cavalos de Troia que querem, assim como fizeram na ditadura, arrefecer a mobilização e colocá-la a reboque da burguesia para destruí-la.

Junto à acusação de “sectarismo”, Breno Altman ainda afirma que o PCO não poderia “agir em conta própria”. Trata-se de outra falácia para contrabandear a “frente ampla”. Isso porque se os partidos políticos não podem “agir em conta própria”, agirão sob que critérios? Se um partido não pode agir com base em seu programa, então, na prática, ele não existe. E se ele não existe enquanto partido, se não tem um programa a defender, é porque estará a reboque de um programa alheio.

O argumento é o de que os militantes do PCO teriam agido à revelia dos organizadores do movimento, ou, em palavras mais exatas, dos “donos” do movimento. Mas quem são essas pessoas? Quem lhes conferiu autoridade para falarem em nome do movimento? Quem decidiu que o PSDB poderia participar? Simplesmente não houve nenhuma discussão e muito menos acordo entre os participantes do movimento de que a direita poderia se infiltrar. Os que dizem que “não pode isso, não pode aquilo” da própria cabeça, sem discutir com ninguém, não são democráticos. E os participantes do movimento não deliberaram, em nenhum momento, que os atos seriam da direita também. Isso porque as bases não querem compartilhar os atos com a direita porque sabem que ela é sua inimiga. Tanto é que os militantes do PCO não foram os únicos a participarem da Revoada dos Tucanos Amarelos na Avenida Paulista: companheiros da base do PT e manifestantes avulsos também colocaram os infiltrados para voar. O povo odeia o PSDB e qualquer decisão que não leve o sentimento popular em conta é uma decisão antidemocrática.

Neste caso, o PCO não agir é estar a reboque do programa da “frente ampla”, uma política inimiga do povo. E não só é uma política que trai os interesses das massas — o que em si só já deveria ser suficiente para que fosse rechaçada — como é uma política sem qualquer respaldo popular. O “acordo” que Breno Altman quer que o PCO respeite sem ter sido assinado, na verdade, é uma política imposta de maneira antidemocrática por uma coordenação que ninguém nunca viu, nem sabe quem é. É a frente ampla que se amplia recebendo a burguesia de braços abertos e que, na medida em que os braços se abrem, afastam os trabalhadores e os excluem das decisões dessa mesma frente.

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