Depois de muita enrolação, o PSDB finalmente anunciou quem irá concorrer às eleições presidenciais de 2022 pela sigla. O governador de São Paulo João Doria, em campanha há, pelo menos, um ano e meio, quando teve início a pandemia de coronavírus, derrotou Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul que é mais lembrado por ter se assumido gay do que qualquer outro feito. Doria obteve 53,99% dos votos, contra 44,66% conquistados pelo gaúcho. Arthur Virgílio Neto, candidato “café com leite” das prévias, ficou em 1,35%.
Formalmente, Doria ainda não poderá ser chamado de “candidato”, uma vez que a antidemocrática legislação do TSE não permite. Seu nome ainda terá de ser confirmado em Convenção Nacional e registrado na Justiça Eleitoral alguns meses antes das eleições. No entanto, a definição, já em 2021, é um problema central na situação política. O PSDB é o partido mais importante da burguesia brasileira e terá, a partir de agora, quase um ano para tentar viabilizar o seu candidato.
Essa foi a primeira vez que o PSDB realizou prévias para a escolha de um candidato presidencial. O presidente da sigla, o pernambucano Bruno Araújo, chegou a dizer que se tratava do “maior processo democrático da história de um partido político na escolha de um candidato à presidência da República”. O mais espalhafatoso, talvez tenha sido. Mas dizer que foi minimamente democrático é uma verdadeira piada.
A decisão de realizar prévias se deu, por um lado, para que o PSDB antecipasse a sua campanha eleitoral, tendo sua cobertura feita pela Rede Globo de Televisão, e, por outro, porque a burguesia estava muito dividida em relação ao processo eleitoral. Qual a diferença entre Eduardo Leite e João Doria? A princípio, nenhum: são dois delinquentes políticos, privatizadores e genocidas. No entanto, o grande impasse pouco tinha a ver com as características individuais de cada um deles, e sim a incerteza diante das condições em que o fascista Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula chegariam às eleições.
Um setor do PSDB, do qual Aécio Neves é a principal expressão, queria que o partido entrasse em um acordo com Bolsonaro logo no primeiro turno. Para esse setor, o ideal seria uma candidatura que fosse facilmente dissolvida, caso o partido decidisse abrir mão da própria candidatura para favorecer Bolsonaro. Outro setor, no entanto, do qual Doria é a principal expressão, tinha verdadeiras intenções em concorrer à presidência da República, apoiando-se no aparato estatal sob controle do PSDB, na demagogia identitária e nas relações com os setores mais importantes do imperialismo.
Essa divisão acabou dando lugar a uma briga de enormes proporções, que o PSDB não conseguiu varrer para debaixo do tapete. Os discursos de “unidade” logo deram lugar às trocas de acusações entre um candidato e outro. O ponto mais crítico, no entanto, foram as discussões sobre o processo eleitoral em si. Doria, sentindo-se ameaçado pela máfia que apoiava Eduardo Leite, passou a defender o voto impresso contra o voto eletrônico. Seria, então, uma confissão de que a urna eletrônica é uma fraude?
Os gângsteres de João Doria não conseguiram impedir que o sistema de votação fosse aquele defendido por Eduardo Leite. O gaúcho, no entanto, não levou a melhor. As negociatas por baixo dos panos — aquelas que nunca reles mortais, como você, leitor, e a redação deste Diário, terão acesso — inverteram a situação e deram uma vantagem a João Doria. Eduardo Leite tentou adiar a votação, mas não conseguiu.
Ontem (27), no dia da votação, a briga de gangues continuou. Apenas pela manhã, técnicos identificaram nada menos que 26 mil tentativas de acesso ao aplicativo oriundas de outros países e acabaram bloqueando os acessos do exterior. Ao final da votação, foram identificadas 30 milhões de tentativas de ataque hacker. E quem garante que nenhuma foi bem sucedida?
A votação das prévias do PSDB segue a tradição de toda votação na qual o PSDB está metido. Nas eleições de 2018, que elegeu João Doria, a apuração misteriosamente parou durante um longo período. A burguesia estava profundamente dividida ali, entre o apoio ao PSDB e ao então governador Márcio França. No fim das contas, a máfia de João Doria venceu a queda de braço nas negociações e garantiu a vitória quando a apuração foi retomada.