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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Oposição

Lula voltará pelas mãos do povo, não por concessão da burguesia

A direita, malandramente apelidada de centro, é a voz da ponderação, do equilíbrio, do bom senso, da razão. Será?

É preciso combater Bolsonaro, representante máximo da extrema direita, mas é tarefa tão urgente quanto essa combater a pseudo-oposição “coxinha” ao governo federal. Nenhum desses dois lados em disputa está a serviço dos interesses do povo. Embora a imprensa use a palavra “oposição” para se referir à burguesia bem-vestida, aquela que fala inglês corporativo e sabe se comportar à mesa, não deve haver dúvida de que não é para melhorar a vida da população que essa “oposição” quer o poder. Será, então, que esse pessoal merece ser tratado como “oposição”?

Aos partidos de esquerda cabe esclarecer as pessoas sobre o que, de fato, está em jogo. A parcela truculenta da burguesia apoia Bolsonaro, enquanto a parcela bem-educada apoia a “terceira via”, ou seja, qualquer aventureiro que tire Lula do caminho. A imprensa bolsonarista usa como método as chamadas notícias falsas (“fake news”), enquanto a imprensa coxinha usa os métodos de sempre, mais sutis, temperados por uma aparente neutralidade – tanto é que, quando lhe convém, aciona as chamadas “agências de checagem”.

Essas agências, em tese bem-intencionadas, são especializadas em desmentir notícias inventadas, mas, na prática, podem ser usadas como o “detector de mentiras” de que falava Pedro Bial, aquele ex-apresentador do Big Brother Brasil, quando sugeriu o uso desse aparelho (muito eficaz nos filmes policiais norte-americanos) como condição para entrevistar o ex-presidente Lula.

A imprensa faz melhor do que Bial. Se Lula faz um discurso, por exemplo, os grandes jornais acionam essas agências para verificar, ponto por ponto, se ele disse a verdade, se exagerou ou se errou. Um discurso de improviso pode conter dados imprecisos por traição da memória, expressões que modalizam a fala, indicando que a própria pessoa está incerta quanto à precisão da informação (como “parece que” e outras semelhantes) ou figuras de linguagem, modos subjetivos de dizer. Tudo isso, desde que apurado pela checagem como diferente da verdade, transforma-se em manchete do tipo “fulano mentiu” ou “errou” etc.

Um exemplo concreto pode ajudar a entender: na entrevista coletiva que deu no dia 10 de março deste ano, depois da decisão do ministro Fachin que anulou suas condenações, Lula disse, em dado momento, acerca do coronavírus: “A cepa de Manaus parece que é dez vezes mais contagiante do que a outra cepa”. A agência de checagem avisou que era cedo para dizer que a cepa de Manaus era mais contagiante, pois os pesquisadores da Fiocruz disseram que ela é potencialmente mais contagiosa e que ainda não existiam dados oficiais sobre o assunto. Bem, o próprio Lula começou a frase com “parece que”, expressão que deixava claro que ele sabia tratar-se de uma possibilidade. Foi, no entanto, suficiente para que o título da reportagem dissesse que “Lula erra sobre variante de Manaus”, numa tentativa de desqualificá-lo.

Quem vê tamanho esmero na busca da verdade há de imaginar que tudo o que se publica passa pelo mesmo crivo. Um doce de coco para quem encontrar uma checagem assim tão bem-feita dos textos dos “coxinhas” nas páginas dos jornais. As informações que precisam ser checadas pelas agências são as da extrema direita, que produz “fake news”, e as da esquerda, pois a direita, malandramente apelidada de centro, é a voz da ponderação, do equilíbrio, do bom senso, da razão, em suma, da “verdade”.  Alguém duvida?

Essa ideia (falsa) de que existe um centro é sempre usada pela direita. Recentemente uma publicação parecia querer resgatar até mesmo a imagem do “centrão”, ao qual se referiu como agrupamento “conhecido pelo pragmatismo e pelo senso de oportunidade”. A escolha das palavras é bastante sugestiva. Se não estivesse em um jornal da ala dita democrática, o texto poderia estar na rede de apoio a Bolsonaro, que, aliás, já se queixou do sentido pejorativo dado à palavra “centrão”. De vez em quando, a direita bem-comportada mostra que não é tão diferente assim do “capetão”.

Há duas parcelas da burguesia em disputa, mas uma delas tenta atrair para o seu campo certa parte da esquerda, que, não por acaso, é a esquerda pequeno-burguesa. Esta parece ter memória curta ou talvez ache muito civilizado conviver com os autores do golpe de 2016, que depôs Dilma Rousseff, como se fossem os seus amigos. Quer a todo o custo que o Lula volte mediante conciliação com aqueles que o puseram na prisão. É como se a burguesia limpinha tivesse de dar o aval para a volta do Lula, o que é, no mínimo, estranho se considerarmos que povo, majoritariamente, quer Lula de volta, como mostram as pesquisas de intenção de voto em qualquer cenário.

Essa ideia de moderação, representada pelo conceito abstrato de “centro”, influencia a própria esquerda, que não se cansa de fazer o seu elogio, em contraposição ao que seria uma danosa polarização. Esse é exatamente o estratagema dos artífices da “terceira via”, mestres em mascarar a pópria identidade com uma boa camada de verniz. A polarização expõe os dois lados que, de fato, estão em disputa. Não é hora de moderação. Lula deve voltar pelas mãos do povo, não por concessão da burguesia.       

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