O impeachment de Bolsonaro, em si, não é algo negativo, logicamente. É uma maneira pela qual o presidente fascista e ilegítimo poderia ser chutado para fora do governo.
No entanto, é preciso ser muito reticente com relação à maneira como ele é tratado.
Por exemplo, ontem (24) ocorreu a plenária sobre o superpedido de impeachment de Bolsonaro, que reuniu lideranças de toda a esquerda, da pseudoesquerda e da direita. Nela, falaram bolsonaristas arrependidos (mas que certamente votariam nele novamente contra a esquerda) como Alexandre Frota, Joice Hasselmann e o MBL.
Suas falas foram no sentido de ampliar os atos para outros setores que não sejam os trabalhadores e a esquerda, seguindo exatamente as ordens que a burguesia está dando à frente ampla. Joice Hasselmann, por exemplo, disse que a direita deveria ter mais espaço no movimento, porque as manifestações estavam “vermelhas demais”.
É o que quer a burguesia e a direita golpista: se apossar dos atos populares para destruí-los e levar a luta para dentro das instituições, dominadas pela burguesia, onde o povo nunca teve vez.
Por isso a burguesia tenta manobrar com a questão do impeachment. Enquanto o povo grita nas ruas “Fora Bolsonaro”, a imprensa golpista manipula as notícias sobre os atos afirmando que o povo pede o impeachment. E usa inclusive suas marionetes dentro da esquerda, como Guilherme Boulos, que escreveu na Folha de S.Paulo que as ruas querem o impeachment.
Na verdade, o impeachment é o caminho menos seguro para derrubar Bolsonaro. Há cinquenta pedidos sobre os quais o Congresso Nacional está sentado. Mesmo que fosse razoável que a Casa finalmente votasse o impeachment, seria bem possível que não o aprovasse, uma vez que Bolsonaro controla a maioria dos parlamentares.
Assim, o movimento nas ruas seria canalizado para uma esperança vã no Congresso e, sendo derrotado, jogaria um balde de água fria na população. Seria a derrota do movimento pelo Fora Bolsonaro.
Foi assim que terminou a onda de características revolucionárias que derrubou a ditadura militar: a burguesia, com o apoio da esquerda frente-amplista, levou a luta para a Constituinte de 1988, que foi uma verdadeira farsa e manteve todo o regime de dominação da ditadura, mas com um afrouxamento com o afastamento dos militares do governo – embora tenha permanecido seu poder. Aquilo poderia ter se transformado em uma revolução social se a esquerda tivesse investido nas ruas e não nas instituições. E hoje voltamos a um cenário parecido com o de décadas atrás, com um governo golpista dominado pela extrema-direita, inclusive com sérias ameaças de golpe militar.
É preciso aprender com o passado. A luta da esquerda deve ser nas ruas, longe das instituições viciadas e da direita golpista. A direita não é aliada, é inimiga da esquerda e do povo.
Tudo o que a direita e a burguesia querem é derrotar a esquerda e os trabalhadores, muito mais do que o próprio Bolsonaro. Por elas, Bolsonaro permanecerá no poder, caso não haja nenhuma outra opção para derrotar a esquerda nas eleições de 2022.
É preciso apostar na mais poderosa e ampla mobilização das massas populares, com protagonismo das organizações operárias e sociais como a CUT, o MST e os partidos da esquerda. Para derrubar Bolsonaro e toda a direita golpista. Para não deixar pedra sobre pedra do apodrecido regime político.