De acordo com a própria imprensa golpista, o isolamento social promovido por João Doria em São Paulo não teve efeito nenhum. A “fase emergencial”, que previa medidas mais rigorosas e repressivas, não serviu para reduzir a contaminação, nem mesmo a ocupação dos hospitais.
Não se trata, contudo, de uma novidade. Assim como em todo o Brasil, o “lockdown” de Doria era um “lockdown” muito, mas muito “meia-boca”. Os ônibus continuam lotados, as indústrias continuam abertas, a construção civil foi transformada em “serviço essencial”. E até as igrejas, em um primeiro momento, receberam autorização para funcionar. Por fim, as escolas, que põe milhões de paulistanos em contato entre si, também ficaram de fora do “lockdown” inicial.
Supostamente, o “lockdown” serviria para conter o vírus. E, de fato, é preciso contê-lo. A pandemia corre a solto pelo País há mais de um ano e entrou, ao que parece, na sua fase mais grave. Mais de mil pessoas morreram em um único dia somente no estado governado por Doria. Segundo matéria do Valor Econômico, o País poderá registrar, nas próximas semanas, a marca de cinco mil óbitos diários!
O fato é que para conter a pandemia, não só é necessária uma política que isolasse de fato a população do vírus, como que, efetivamente, fosse compreendida e apoiada pelo povo. O “lockdown” de Doria, ao mesmo tempo em que é ineficiente, pois continua aglomerando as pessoas, é também odiado e impopular. Como o povo não foi convencido — e nunca vai ser, pois o plano é muito ruim —, nenhum isolamento real vai ser feito. Tanto é assim que, neste domingo (21), o índice de isolamentos social médio registrado foi de apenas 51%. No domingo passado, quando o estado estava na fase vermelha do Plano São Paulo, ele foi de 50%, segundo dados do governo paulista. Na semana anterior o valor também era de 51%.
A política repressiva de isolamento social forçado afeta seriamente ampla parcela da população, entre trabalhadores e setores da pequena burguesia, do ponto de vista econômico. O isolamento de Doria é feito sem garantir as contrapartidas econômicas que permitam aos afetados passarem pelo período de inatividade sem morrer de fome. É, portanto, uma medida burocrática e ditatorial: se o Estado quer obrigar as pessoas a ficarem em casa, teria de garantir a sua subsistência. Como isso não acontece, os trabalhadores não verão com bons olhos o isolamento social, pois lhes deixará na miséria.
É preciso, assim sendo, que, diante do fracasso da política da direita nacional, a esquerda levante um programa democrático de reivindicações que combatam, efetivamente, a pandemia e a crise econômica. É necessário, portanto, paralisar a atividade econômica por completo, deixando apenas os serviços que são verdadeiramente essenciais para que sociedade não entre em colapso. É necessário, ainda, suspender a volta às aulas, garantir um auxílio emergencial que compreenda as necessidades vitais para um trabalhador, oferecer linha de crédito para as pequenas empresas e abrir mais leitos hospitalares. É preciso vacinar a população de maneira massiva, o que a direita não tem interesse em fazer. Os capitalistas, no fim das contas, devem pagar a conta, e é obrigação das organizações do povo exigirem isso.