A imprensa burguesa dá conta, no início desta semana, de que o ex-presidente Lula estaria planejando iniciar viagens pelo Brasil após receber a segunda dose da vacina contra a COVID-19.
Lula já disse em mais de uma ocasião que gostaria de voltar a percorrer o País em caravanas nas quais possa ter contato direto com o povo pobre e trabalhador.
Esse é um sinal positivo. No entanto, para que isso se transforme em um eixo para a mobilização das massas, é preciso que Lula anuncie, imediatamente, sua candidatura à presidência da República. Do contrário, não há sentido em uma ação como essas.
Desde que o ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou a responsabilidade de Curitiba pelo julgamento de Lula e a transferiu a Brasília, o movimento em torno de sua candidatura ganhou muita força. Fachin, no entanto, não deu cabo da Operação Lava Jato, mas iniciou uma manobra judicial para retirar dos aloprados procuradores e juízes paranaenses a missão de impedir a candidatura do líder petista. A burguesia não quer Lula no páreo em 2022 e fará de tudo para impedir sua candidatura.
Logo após o anúncio de Fachin, cresceram as pressões em torno da palavra de ordem “Lula candidato”. O próprio chegou a declarar que poderia ser candidato, que gostaria de ser candidato, que seria candidato se a esquerda assim desejasse. Porém, não passou disso. Lula, efetivamente, não anunciou sua candidatura.
É evidente que há uma luta política interna no Partido dos Trabalhadores. De um lado, a ala esquerda se anima com a possibilidade de anulação de seus processos-farsa na Lava Jato e quer Lula como o candidato das forças populares. De outro, a ala direita, composta por oportunistas e carreiristas que veem Lula como um perigo para a pseudoestabilidade do regime, regime este que lhes garante seus cargos de parlamentares, governadores, prefeitos, vereadores, assessores etc. Uma ala direita que não quer Lula candidato, mas sim alguém que o substitua e que una a esquerda e a direita, uma política frente-amplista que abarque os maiores delinquentes políticos do País e que, no final das contas, eleja um Ciro Gomes, uma Marina Silva, um Luciano Huck no lugar de Bolsonaro. Isso seria um suicídio político do próprio PT.
Lula, com sua política centrista, é pressionado por essas duas alas, tentando conciliá-las. Por isso, alguns dias depois do fato político do ano que foi o anúncio de Fachin, a expectativa de que Lula anunciaria sua candidatura foi se esvanecendo.
Adiciona-se a isso a pressão externa sofrida por Lula. A burguesia, por um lado, luta a todo o momento contra ele, e a esquerda pequeno-burguesa, apêndice da burguesia, segue a mesma linha. Boulos, Dino e o corpo dirigente do PSOL e do PCdoB insistem que o candidato da esquerda deve vir de suas fileiras, se não das fileiras do PDT, do PSB, ou até mesmo do PSDB, na mesma política de frente ampla seguida pela ala direita do PT. Menos Lula! Lula jamais! Essa é a posição da esquerda abutre.
Entretanto, as bases cada vez mais rarefeitas dessas organizações vão ao encontro dos anseios das amplas bases do PT. Há uma pressão da própria militância de esquerda para que haja uma unidade em torno da candidatura de Lula.
A tarefa imediata da esquerda verdadeiramente combativa, da esquerda militante, é aumentar a pressão sobre Lula na luta contra a ala direita dos partidos de esquerda e garantir que seja anunciada sua candidatura o quanto antes.
Lula anunciando que será candidato iria abalar as próprias estruturas do regime golpista devido ao gigantesco apoio popular que receberia. As caravanas, comícios, manifestações públicas em que Lula estiver envolvido, transformar-se-iam em verdadeiros atos de massas, com a capacidade de mobilizar milhões de trabalhadores, camponeses, estudantes. A polarização política, já acentuada, cresceria exponencialmente.
E é justamente esse potencial de mobilização das amplas massas populares que deve servir de motivação para a esquerda apoiar a candidatura de Lula. Nenhum outro político, nenhuma outra liderança do País – quiçá do mundo – tem a capacidade de mobilizar multidões como Lula. Multidões de explorados, de oprimidos, de trabalhadores indignados com a ditadura golpista comandada por Bolsonaro e sustentada pela direita que propõe uma falsa terceira via.
Ferve o seio das massas subjugadas. O País transforma-se rapidamente em uma panela de pressão. E Lula é protagonista nessa estória. Tem não apenas o direito, mas o dever de candidatar-se à presidência da República. E a esquerda, de apoiá-lo.