Não é nova a participação da extrema-direita nas mobilizações de rua organizadas pela esquerda. Mesmo em atos pacíficos é conhecida a repressão brutal da PM: dispersar manifestação com uso de violência e a repressão com cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Só neste ano também marcado parcialmente pelo isolamento social elas aconteceram contra manifestantes em atos como os de Recife (29/5) e Rio de Janeiro (13/7) e São Paulo (24/7).
Apesar da repressão brutal, as mobilizações da esquerda avançam e a burguesia intervém procurando conter a crescente polarização política. As tentativas de se evitar o confronto já se deu tanto por parte da esquerda quanto por parte da direita.
Em São Paulo, o principal centro político do país, a interferência de deu já em 2020 sob bandeiras como a da “pluralidade de vozes e ideias“. Ficou acertado o revezamento de um dos principais espaços de manifestações populares com os fascistas: Guilherme Boulos do “Fique em casa” fecha um acordo com a PM de Doria, e pela primeira vez a Avenida Paulista é entregue para os bolsonaristas, desmobilizando um movimento crescente na época que contava com a participação de torcidas organizadas que invadiram as ruas para efetivamente escorraçar os fascistas.
Não conseguindo evitar a polarização do movimento pela esquerda, a burguesia intervém agora pela direita: João Doria assume claramente sua posição direitista favorecendo Bolsonaro. O governador tucano decidiu deixar a Avenida Paulista para os bolsonaristas comemorarem o dia da Independência no 7/9 enquanto proibiu manifestações da esquerda em todo o estado de São Paulo, exceto no dia 12/9 junto às manifestações do MBL “arrependido”.
Mais uma vez a tentativa de reprimir os atos da esquerda e a politica de despolarização fracassam. Com a pressão do movimento, que corretamente não cedeu à chantagem do governador golpista, o juiz Randolfo Ferraz de Campos, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), decidiu que nem a Justiça, nem o governo estadual e nem “qualquer outro órgão público” pode proibir a mobilização convocada pela esquerda. Uma manobra para que Doria não ficasse tão desmoralizado após a esquerda enfrentar sua decisão.
Agora que os atos estão garantidos, a esquerda deve impulsionar suas mobilizações, levando às ruas suas palavras de ordem, contra todos os golpistas, contra a reforma administrativa, pelo fim da PM e, claro, pelo Fora Bolsonaro.
A participação da PM, não como bolsonarista, mas com seu posicionamento político explicito junto aos atos dos bolsonaristas muda o quadro dentro da PM – é perigosa e deve ser devidamente avaliada com maior importância pela esquerda. Diante da ofensiva da extrema-direita nos atos de sete de setembro, a esquerda não pode ficar imóvel e na defensiva, esperando ser massacrada pelos bolsonaristas.
A esquerda precisa discutir muito isso e formar comitês de autodefesa para defender os atos diante dos perigos de agressão. É preciso que todo ato da esquerda tenha um grupo de militantes mais hábeis, mais preparados fisicamente, para proteger os demais manifestantes de ataques de bolsonaristas e das forças de repressão, porque a luta se acirra e o fato de a PM se declarar abertamente bolsonarista mostra que as ameaças à integridade física dos manifestantes podem ocorrer. Mesmo assim, é cada vez mais necessário sair às ruas se manifestando contra a direita.