No ano de 1917, um partido de esquerda era fortemente atacado contra suas posições. Mas do que isso, era caluniado por coisas que sequer havia feito. Um de seus líderes, o principal, sofria a acusação de conexões com o Estado maior da Alemanha pré-nazista. O anúncio feito no tribunal da Tauride estupefou os companheiros de primeira viagem. Apenas os mais antigos sabiam que a história era inverossímil. Os acusadores prometeram mais documentos que comprovassem a acusação. O que fazer em uma momento como esses?
A história contada acima é real, a figura caluniada, o próprio Lênin, do partido bolchevique. Meses antes da revolução de outubro, ocorreu o chamado “mês da grande calúnia”. Logo após o retorno do maior líder do partido bolchevique à Rússia, as posições do partido bolchevique se modificaram bruscamente em favor de uma política contrária aos acordos com os partidos burgueses da época. O partido Cadete, um PSDB, estava no poder com as bênção dos mencheviques, dos socialistas revolucionários e, antes da vinda de Lenin, da própria ala russa do partido bolchevique.
A vinda de Lênin causou grande agitação, principalmente pela carona pouco comum tomada de um trem blindado alemão em plena primeira guerra mundial. Na situação, a oposição entre os Estados russo e o alemão já tinha sido origem da intensa campanha contra a Czarina russa, a qual supostamente tinha ligações com a Alemanha. Logo, o acordo de Lênin com o governo alemão seria uma arma ainda mais virulenta da burguesia russa contra os novos bolcheviques.
Importante dizer nesse momento é que o acordo de Lênin com o Estado alemão passou por uma clausula fundamental que dizia: “Vocês me deixam chegar na Rússia, eu faço a revolução proletária e tiro a Rússia da guerra”. A saída da guerra era um dos fundamentos principais dos três pilares que então seriam levantados pelos bolcheviques: “Paz, pão e terra”.
No mês da grande calúnia, o crescimento do partido bolchevique com a sua politica de reforma agrária, saída da guerra e revolução socialista era estrondosa. Nessa situação, os setores da esquerda pequeno-burguesa que haviam prometido a terra aos camponeses na revolução de fevereiro, já estavam desmoralizados perante o campesinato. Fato é que os principais quadros dos soldados russos eram camponeses, os quais também tinham escutado as promessas vãs do fim da guerra com a revolução de fevereiro. A fome, ente interminável da crise, era a mais presente.
Foi nessa situação que o partido bolchevique passou do mês da grande calúnia para o mês da revolução socialista. Os caluniadores, desesperados pela popularidade das posições de Lênin, mal sabiam que o principal da luta politica eram a polêmica rigorosa e a posição intransigente tomada pelo partido que seria o líder da revolução. Nesses termos, o partido saiu de poucas centenas de militantes para diversos milhares.
Mais de cem anos após 1917, em 2021, o partido revolucionário continua sendo alvo de intensas calúnias tanto pela esquerda pequeno-burguesa quanto pela direita. As acusações diversas, nesse sentido, são as das mais variadas. Nos últimos meses, essa campanha vem ganhando uma intensidade sem par para a história do partido.
A defesa da liberdade de expressão, a luta contra o PSDB nos atos, a defesa do voto auditável, a contrariedade a prisão politicas como a de Roberto Jefferson, a defesa da revolução no Afeganistão dirigida pelo Talibã. Tudo isso, causou uma grande discussão tanto na esquerda, quanto na própria imprensa burguesa. Fotos e matérias sobre o PCO foram postados na Folha de S. Paulo, Estadão, G1, Rede TV, dentre outros órgão de imprensa.
A esquerda também produziu uma série de ataques de ataque ao PCO. A publicação de Renato Rovai na revista Fórum, por exemplo, mostrou o tom baixo das calúnias: a acusação foi de furto de celular e de agressão de mulher por parte do Partido. A mesma série baixa de calúnias ocorreram nesse último ato do dia sete de setembro, no qual uma moça do PCdoB acusou o partido de tê-la agredido.
Fato é que, apesar de o Brasil não estar em uma situação revolucionária como se encontrava a Rússia em 1917, a situação está marcada por um deslocamento a direita da esquerda pequeno-burguesa diante de um cenário de crise social e politica muito grande. Nessa situação, o crescimento da polarização politica, com o fortalecimento da extrema-direita e da esquerda revolucionária, marca um período de intensificação dos choques entre a burguesia e o povo.
A posição da esquerda diante de problemas fundamentais como a questão da autodeterminação dos povos no caso do Afeganistão, quando houve setores que afirmaram “ser melhor a dominação dos EUA ao governo do Talibã”. A negação do voto auditável pelo simples fato de o Bolsonaro defende-lo. O apoio as prisões politicas de pessoas por razão de suas declarações, como no caso do Roberto Jefferson. A defesa de Dória e do PSDB nos atos, realizando reuniões na sede tucana, formando blocos com a direita, vestindo o verde-amarelo em detrimento do vermelho.
Tudo isso, mostra o forte atrelamento da esquerda pequeno-burguesa com a própria politica burguesa e imperialista. Atrelação essa que leva a esquerda ligada ao centro politico a mesma crise sofrida pela burguesia dita democrática com a polarização politica. Quer dizer no momento em que há um crescimento dos polos políticos, o centro toma medidas desesperadas para se sustentar.
É preciso colocar, por fim, que, a exemplo da ação do Partido Bolchevique, a ação do PCO sempre será coerente com os seus princípios. Essa é a característica pela qual o crescimento do partido revolucionário do Brasil tem surtido tantos efeitos que não é mais possível ignorá-lo.