A eleição mais importante para a história política brasileira, desde a Constituição de 1988, parece ser as eleições de 2022. Esta importância não se dá apenas pela situação calamitosa da economia brasileira, mas pelo fato de vários correntes políticas terem arriscado seu futuro nelas, pelo fato de esta eleição, mais até do que a eleição de 2018, poderá determinar o desfecho do regime imposto pelo golpe de 2016.
Estamos há pouco menos de um ano da votação e para o movimento popular se coloca um debate essencial: qual seria a natureza da candidatura de Lula? Para setores da esquerda imperialista-identitária, Lula nem é alternativa, é um peso a ser carregado por esta esquerda, com o qual eles tem de lidar para avançar eleitoralmente. Para os setores majoritários do PT, a natureza da disputa residiria no esforço de repetir a campanha de 2002, uma campanha onde Lula moderou-se e foi aceito pela burguesia, onde os donos do Brasil decidiram dar ao povo um pequeno respiro.
Para a massa de trabalhadores a questão de Lula tem um significado concreto: ter um governo que seja do povo, que seja uma via para que o Estado ouça os lamúrios de uma enorme classe operária que está cada vez mais depauperada.
O banqueiro André Esteves, em conversa vazada com seus clientes, considera que Lula só seria viável se adotasse um vice empresário, um economista neoliberal e um banco central neoliberal. Se repetisse a política de 2002 com uma margem de manobra, do ponto de vista das finanças públicas, quase inexistente. Em suma, Lula seria “viável” se deixasse de ser o Lula que o povo quer. Ele mesmo aponta Bolsonaro como favorito.
O setor majoritário do PT erra ao pensar que há condição para um acordo com parte que seja da burguesia. Por seus movimentos, parecem não ter compreendido que não estamos em 2002, estamos no regime do golpe de 2016.
Dilma não foi derrubada por corrupção, incompetência, impopularidade ou falta de trato com o Congresso. Sua queda foi causada pelos grandes especuladores internacionais e nacionais, como Esteves. Eles não derrubaram Dilma por ter se recusado a fazer um ajuste fiscal, ela, em seu 2º mandato, efetivamente começou um ajuste fiscal, penoso para o povo. Eles não derrubaram Dilma por ter se radicalizado à esquerda, ela não fez tal coisa. Eles derrubaram Dilma para impor um regime de liquidação contra o povo. O caso das administrações do PSDB nos Estados e municípios mostra isso. Não se gasta nada em lugar algum. Os governos se chocam com professores ao propor reajuste perto de 0. Organizam demissões em massa, cortam recursos, demitem funcionários públicos, confiscam previdências. Na capital paulista, cidade cujo PIB ultrapassa todos os Estados da União (exceto o de SP), há fome, há uma massa de sem tetos crescente, há uma miséria enorme. Os governos do Estado e a prefeitura, ambos tucanos ou aliados deles, assistem a desgraça sem mexer uma palha.
Bolsonaro também da uma amostra da pressão para matar o povo de fome. Ele começou prometendo um novo Bolsa Família com valor de 600 reais. Ele realmente queria entregar isso, não por amor para com o povo, mas por lógica eleitoral, distribuir dinheiro dá voto, obviamente. Ele está se degladiando com seu ministro da Economia para conseguir um auxílio de 400 reais. O mesmo banqueiro em sua conversa vazada deixa claro: esse é o governo que menos gastou desde 1988. Nem a loucura que é o governo Bolsonaro é suficiente para os banqueiros. Bolsonaro, após ceder na questão da Petrobras, está prestes a enfrentar uma greve de uma categoria que o apoiava, os caminhoneiros. Ele não defende gastar o dinheiro público para ajudar o povo, está pedindo aos senhores da Bovespa apenas uma mesada para se reeleger, nem isso querem dar.
Lula não pode dar a eles o que eles querem. Ele pode prometer que fará isso, mas não vão acreditar nele, com razão. Para fazer o que pedem, teria que se matar políticamente. Eduardo Leite, outro carrasco neoliberal, já disse que tem de se viabilizar uma terceira via “para não repetirmos os erros de 2018”, ou seja votar em Bolsonaro. A esquerda precisa acordar, ou arrancamos uma vitória ou perdemos, não haverá acordo algum.