Na última quarta-feira (31), na localidade de San Vicente del Caguán, no departamento de Caquetá, foi encontrado o corpo de um ex-combatente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Pablo Ramírez Yate. Com mais essa morte, chegou a 263 o total de ex-combatentes das FARC assassinados desde a assinatura do acordo de paz em 2016. Em 25 de março, outro ex-combatente das FARC foi assassinado no departamento de Putumayo. Com a morte de Pablo Ramírez, só neste ano foram 14 pessoas ligadas às FARC que foram assassinadas. O partido Comunes, sucessor das FARC, tem denunciado o assassinato sistemático de ex-combatentes.
As negociações que conduziram à assinatura do acordo de paz atualmente vigente entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) iniciou-se em 2012 e terminaram em 2016. Sob o acordo, que foi assinado em Cuba, aos agentes do governo envolvidos em assassinatos de camponeses, tortura e outros atos de violência foi garantida imunidade contra persecução penal. Os combatentes das FARC, ao contrário, deveriam ser submetidos a julgamento. O governo deveria realizar uma reforma agrária, o que não foi cumprido. O direito de retorno aos camponeses deslocados e despossuídos pela guerra garantido pelo acordo também não foi implementado. Em 2017 os líderes das FARC concordaram em se desarmar e entregar suas armas unilateralmente. Por sua vez os militares e paramilitares mantiveram suas armas e estabeleceram controle sob as regiões anteriormente dominadas pelas FARC. Já em 2015 quando o acordo ainda estava sendo negociado 122 pessoas, camponeses ou ativistas de direitos humanos foram assassinados pelos grupos paramilitares que continuavam a operar livremente nas áreas controladas pelo exército colombiano.
Embutidos no acordo de paz estavam uma série de atos presidenciais de privatização de recursos minerais e petrolíferos e de conversão de pequenas propriedades rurais em latifúndios comerciais. Por sua vez aos camponeses foram destinados a terras inférteis destituídas de qualquer infraestrutura. Os ex-combatentes que estão sendo assassinados pertencem à base do movimento guerrilheiro. Muitos dos líderes do alto escalão concorreram a cadeiras no legislativo e seguem suas vidas sem serem incomodados. Por outro lado, as FARC perderam a guerra da propaganda porque dela se descuidaram ao permitir que predominasse a campanha de que seriam um grupo perigoso, responsável por mais de 200.000 mortes quando é sabido que o grande responsável por mortes e todo o tipo de violência é o governo colombiano, fantoche do imperialismo norte-americano.
É óbvio que a política de conciliação adotada pela liderança das FARC foi um rotundo fracasso. A ilusão de que a burguesia do seu país estaria disposta a conciliar não tinha qualquer base factual. Há mais de quarenta anos que ela tem entabulado diversas negociações de paz e se aproveita d desmobilização por elas causado para atacar impiedosamente a oposição. Também o imperialismo que domina com desenvoltura a cena política colombiana tem uma longa folha corrida de acordos que não são cumpridos como está a demonstrar os casos do Irã, da Ucrânia, Síria, Palestina e muitos outros. Os acontecimentos na Colômbia podem servir de guia a todos que estão na luta pela transformação social no sentido de que as políticas de conciliação com o imperialismo estão fadadas ao fracasso.