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Ucrânia

10 anos do Massacre de Odessa

O massacre ocorreu quando nazistas ucranianos incendiaram a chamada Casa dos Sindicatos, onde se abrigavam cerca de 300 manifestantes que lutavam contra o golpe imperialista

Há 10 anos, em 2 de maio de 2014, mais de 40 ucranianos que reagiram ao Euromaidan foram assassinados na cidade de Odessa, sul da Ucrânia, quando nazistas ucranianos, que eram a linha de frente do golpe imperialista no país, incendiaram a Casa dos Sindicatos. Os que não morreram queimados, foram espancados até a morte ao tentar escapar das chamas.

Por ocasião da data, nesta quinta-feira, na Rússia, em frente ao prédio onde antes ficava a embaixada ucraniana, foi feita homenagem aos ucranianos que foram assassinados em Odessa na luta contra a consolidação do golpe:

Yevgeny Balitsky, atual governador da região de Zaporozhie, liberta pelo Exército Russo e as milícias populares em setembro de 2022, declarou que “a tragédia na Casa dos Sindicatos em Odessa não tem prazo de prescrição e não haverá perdão para os nacionalistas ucranianos que mataram dezenas de pessoas”.

Brevemente, o que se chama Euromaidan foi um golpe de Estado contra o então governo nacionalista ucraniano, de Viktor Yanukovych, dado pelo imperialismo norte-americano e europeu, mas liderado pelos Estados Unidos. Ante a enorme presença de ONGs na Ucrânia, o imperialismo conseguiu mobilizar parte da população ucraniana contra seu próprio país. O golpe consumou-se no dia 22 de fevereiro, quando a Rada (parlamento ucraniano) votou pela remoção de Yanukovych e pela convocação de eleições gerais. Vale ressaltar que o presidente já tinha sido forçado a fugir do país no dia 21, caso contrário, seria morto pelas tropas nazistas do Setor Direita (e outros).

Ao golpe, seguiu-se forte resistência popular na Crimeia e no leste (região do Donbass). No primeiro caso, moradores da província votaram para fazer parte da Rússia, o que ocorreu sem maiores problemas. Nas províncias do Donbass, as forças populares tomaram o poder local e referendos foram realizados criado repúblicas populares (Donetsk e Lugansk). Mas o governo nazista surgido do golpe (Kiev) desatou uma guerra contra as regiões.

O Massacre de Odessa ocorreu na conjuntura da resistência popular de parte da população ucraniana contra o golpe imperialista. A resistência concentrou-se nas regiões Leste e Sul. Odessa é uma província desta última região, tendo como capital cidade do mesmo nome, a qual é banhada pelo Mar Negro. Tendo um dos principais portos da Ucrânia, o imperialismo não poderia permitir que a cidade fosse perdida.

A luta contra o golpe em Odessa

Assim como no restante da Ucrânia, a resistência popular em Odessa também ocorreu para impedir que o golpe imperialista triunfasse, a exemplo de quando cerca de dois mil golpistas foram impedidos, em 26 de janeiro de 2014, de tomar a Administração Regional Estatal de Odessa, quando manifestantes populares se opuseram em números e erguendo barricadas.

À medida que o golpe avançava, parte do povo de Odessa se organizou para combater os grupos nazistas do Euromaidan, nomeadamente grupos como Setor Direita, Divisão Misantrópica e Assembleia Social-Nacional. A resistência era algo natural na cidade, dado grande parte da população ser etnicamente russa ou ter algum tipo de vínculo com o país do leste. Historicamente, Odessa fora fundada no reinado da czarina Catarina, a Grande, de forma que, apesar de a Ucrânia ter se tornado um país separado com a queda da União Soviética, Odessa sempre foi vista como parte integral da Rússia.

Os manifestantes anti-maidan (consequentemente, os que lutavam contra o golpe) em Odessa passaram a se concentrar frequentemente no Campo de Kulikovo, uma praça próxima à Casa dos Sindicatos de Odessa.

Inicialmente, na cidade portuária, a resistência ao golpe assumiu um caráter moderado, limitando-se a reivindicações como “conceder autonomia econômica às regiões orientais, proteger o patrimônio histórico russo e soviético, garantir que os monumentos não fossem vandalizados, deixar o Leste eleger os seus próprios juízes”, dentre outros, conforme relatado pela emissora Russia Today em matéria dedicada aos 10 anos do acontecimento. Contudo, mesmo tais reivindicações colidiram com os interesses dos nazistas do Euromaidan. Afinal, eles estavam a serviço do imperialismo, e o golpe servia para acabar com as relações entre Ucrânia e Rússia, e fazer daquele país uma base imperialista da OTAN contra o gigante do Leste Europeu. 

Após consumado o golpe, o governo pró-imperialista de Kiev nomeou novo governador para a província de Odessa, Vladimir Nemirovsky, com a finalidade de acabar com a resistência ao golpe. Por conseguinte, ele prometeu remover o acampamento dos manifestantes anti-maidan da Praça Kulikovo, sob o pretexto das comemorações do dia 9 de maio (Dia da Vitória).

Evgeny Norin, historiador russo especializado nas guerras e na política internacional da Rússia, afirmou que, durante os meses de março e abril, vários pontos de checagem foram estabelecidos nas estradas que levam a Odessa. A esses locais, diariamente chegavam homens da chamada “Defesa Territorial Ucraniana”, milícias fascistas das Forças Armadas Ucranianas, criadas em março de 2014 pelo então presidente Oleksandr Turchynov, subordinadas ao Ministério da Defesa. Ainda segundo Norin, nos pontos de checagem, essas tropas nazistas estavam se armando, seja com armas de fogo, ou mesmo armas brancas e coquetéis molotov.

Isto ocorria paralelamente ao avanço da luta popular. A Crimeia se tornava parte da Rússia, e o povo do Donbass pegava em armas contra os nazistas, tomava controle das administrações locais e realizava referendos.

Segundo Norin, o cerco preparado por Kiev foi percebido pelos manifestantes anti-maidan de Odessa, principalmente as direções, que perceberam que seriam derrotados e buscaram fazer um acordo, que consistiu em os manifestantes se retirarem da Praça Kulikovo no mês de maio. Formalmente, seria um recuo pacífico. Contudo, conforme relata o historiador, o regime golpista planejou expulsar os manifestantes anti-maidan à força para desmoralizar a resistência ao golpe em Odessa, de forma a compensar pelas derrotas na Criméia e no Leste.

O Massacre de Odessa 

O Massacre da Casa dos Sindicatos ocorreu no dia 2 de maio de 2014. Nessa data, ocorria uma partida de futebol entre o Chornomorets de Odessa e o Metalist de Kharkov (cidade do noroeste ucraniano). No que diz respeito aos torcedores organizados em torcidas, a grande maioria deles, de ambos os times, apoiava o Euromaidan, e centenas faziam parte dos grupos nazistas que foram a linha de frente do golpe. Na região, é tradicional que torcedores marchem até o estádio. Contudo, foi planejado para que a marcha fosse em defesa do Euromaidan.

Conforme relata o já citado historiador Norin, um dia antes, Sergey Dolzhenkov, líder da segurança dos manifestantes anti-maidan, entrou em contato com o parlamento local, pedindo para que a marcha de “unidade nacional” fosse cancelada. Apesar de haver muitos manifestantes anti-maidan se concentrando na Praça Kulikovo, próximo à Casa dos Sindicatos, a maioria era de pessoas sem nenhuma experiência em combate, muitas mulheres e idosos. E o Setor Direita estava prestes a atacar o acampamento, pois, segundo relata Maxim Firsov, o líder dos manifestante anti-maidan em Odessa, Artyom Davidchenko estava vindo à cidade. Firsov estava no local no dia 1º de Maio. Ele era membro do Borotba, uma das organizações ucranianas que mais ativamente se opuseram ao golpe.

A marcha não foi cancelada. Então, às 14h00 do dia 2, uma manifestação da extrema direita ocorreu na praça Sobornaya, contando com cerca de 3.000 pessoas, muitos dos quais fãs dos times citados acima e membros do Setor Direita. A manifestação exortava “unidade nacional”, uma demagogia para contrapor a resistência popular ao golpe, que queria que Odessa fosse autônoma para não ser esmagada pelo regime nazista de Kiev.

Manchando pela Rua Derybasivska, os golpistas cantavam o hino ucraniano e músicas contra o presidente russo, Vladimir Putin. Na manifestação, havia pelo menos 100 golpistas com roupas camufladas, armados com bastões e escudos, a mesma roupagem vista em Kiev quando do auge da ofensiva golpista. Eles haviam chegado em Odessa na manhã do dia 2, junto de 500 fãs de futebol.

Segundo Norin, Dolzhenkov decidiu realizar um ataque preventivo contra a marcha de “unidade nacional”. Juntou cerca de 300 homens manifestantes anti-maidan, de organizações diferentes, dentre as quais o Borotba e o Odesskaya Druzhina, e atacaram na Rua Grecheskaya (Hretska).

O grupo dos manifestantes anti-maidan realizou uma ofensiva fulminante para tentar compensar pela diferença numérica. Mas logo ficaram em uma situação ruim, tanto pela desvantagem em números, quanto pelo contingente de nazistas que havia chegado no início da manhã. Durante a maior parte do confronto, a polícia praticamente não interveio.

Em determinado momento do confronto, alguns manifestantes anti-maidan começaram a atirar com armas de fogo. Igor Ivanov, manifestante em defesa do golpe do Euromaidan, foi morto, presumidamente por Vitaly Budko. O confronto se intensificou a partir daí, com a extrema direita também disparando armas de fogo contra os manifestantes da resistência popular.

Eventualmente, após mais reforços chegarem em defesa do golpe, os manifestantes anti-maidan foram cercados e derrotados. Poucos morreram, a maioria conseguiu escapar. Alguns dos que conseguiram escapar voltaram ao acampamento popular anti-maidan na Praça Kulikovo, dando as notícias. Artyom Davidchenko, líder anti-maidan em Odessa, estava no local e repassou a todos o que havia acontecido. Isto fez com que se estabelecessem dentro da Casa dos Sindicatos, para se protegerem do ataque, pois, em tese, apenas na Praça estariam desprotegidos. Cerca de 300 pessoas se abrigaram no interior da Casa dos Sindicatos naquele dia.

Paralelamente a isto, logo após a extrema direita ter vencido o confronto, Mark Gordienko, um dos líderes nazistas locais do Euromaidan, exortou todos a rumarem à Praça Kulikovo para destruir o acampamento. Auxiliado por outros nazistas, conseguiu inflamar o restante da multidão que ainda estava concentrada no local a ir em direção à praça, que foi o que ocorreu.

Quando os nazistas chegaram, atacaram o que restava do acampamento na praça. Percebendo que os manifestantes anti-maidan se refugiavam dentro do prédio, cercaram o local e passaram a atirar coquetéis molotov contra a construção e seu interior.

Não tardou para que conseguissem incendiar a Casa dos Sindicatos.

Veja, abaixo, vídeo de como se deu o cerco à Casa dos Sindicatos, e como os bandos fascistas incendiaram o prédio, com os manifestantes dentro:

Durante todo o tempo, o prédio permaneceu cercado, inclusive com ucranianos nazistas disparando armas de fogo contra pessoas desarmadas, como pode ser visto no vídeo abaixo:

https://youtu.be/0xAqaNjnxKI?si=c_8-hDoNDMF93jAM

Os manifestantes que tentavam sair, para não morrerem queimados, eram espancados com bastões e porretes. Ao total, 48 pessoas foram assassinadas, muitas delas queimadas vivas ou asfixiadas com a fumaça.

Vários dos ucranianos anti-maidan que tentaram escapar das chamas foram espancados até a morte pelos nazistas ucranianos que apoiavam o Euromaidan. Ao fim, além daqueles que foram mortos, mais de 200 ficaram feridos, seja em decorrência do incêndio, seja do espancamento.

Isto foi há uma década. Hoje, a Rússia e resistência no Leste e no Sul da Ucrânia vem derrotando os nazistas ucranianos. Por ocasião do aniversário desse acontecimento, Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, deu a seguinte declaração:

“Lembramos de todos que morreram tragicamente naquela época. Estamos convencidos de que as pessoas por trás deste crime devem ser punidas. O prazo prescricional não se aplica a tais crimes.”

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