O ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, do Partido dos Trabalhadores concedeu uma entrevista ao sítio UOL alguns dias antes da comemoração dos 40 anos do PT para explicar o porquê da sua ausência nas festividades e sua visão sobre o partido atualmente.
A entrevista foi publicada com destaque pela imprensa burguesa, pois Tarso Genro fez críticas ao que o PT se transformou, não no sentido de se tornar um partido representante dos trabalhadores e que está em luta contra o golpe e a direita que tomou de assalto o poder e derrubou o próprio PT.
Separamos duas frases que são esclarecedoras para o nosso debate e que chamam a atenção para uma ala que quer a transformação, para a direita, do PT.
“Nós, da esquerda, precisamos determinar nossos compromissos e buscar convergências com outros campos políticos. Avaliarmos as condições das alianças e decidirmos unir (ou não) forças sociais, dependendo de cada situação concreta”, disse.
Acho que a frente ampla do Uruguai é uma inspiração. É uma aliança composta por organizações sociais, partidos e personalidades”, afirmou e que o PT deveria rever sua posição de hegemonia dentro da esquerda.
Tarso Genro, na sua entrevista diz que o PT não seja hegemônico dentro da esquerda, o que é absurdo devido a sua influência entre os trabalhadores e sua dimensão, incluindo que até candidaturas como a de Lula, deveriam ser consideradas. Ou seja, sugere que o PT deveria abdicar de seu papel dirigente no interior da esquerda nacional e ir a reboque de outros partidos sem expressão nenhuma dentro dos movimentos sociais e dos trabalhadores.
Com um vocabulário esquerdista, Tarso Genro reproduz a mesma posição que a direita em defender o isolamento do PT com a cara de Lula, para o surgimento de novas forças políticas de esquerda que seja aceitável para setores da burguesia nacional. Isso porque o PT com a cara de Lula e com Lula candidato é inaceitável e deve ser mudado devido a nova situação política.
A primeira afirmação é uma clara defesa da frente ampla, colocada em marcha pelo PCdoB e uma ala direita do PT, e ainda cita um exemplo revelador: o Uruguai. A frente ampla do Uruguai, formada por diversos partidos da esquerda, se manteve no governo e não incomodou o imperialismo pois era muito moderada e em nenhum momento se posicionou de maneira contrária aos interesses da burguesia imperialista. A aparente calma da situação política no Uruguai é porque era um governo muito direitista. Na sua crítica, o modelo proposto por Tarso Genro é muito direitista e de aproximação com a burguesia golpista, como no Uruguai, e não os modelos “errados” como Bolívia ou Venezuela.
Essa afirmação fica evidente quando vemos a interferência do imperialismo e da direita nos golpes no Paraguai, Bolívia, Argentina, Brasil e Venezuela, onde ficou evidente que houve golpes ou tentativas devido a choque de interesses com o imperialismo.
Esses são alguns pontos que devem ser entendidos da ala direita do PT. As propostas apresentadas por Tarso Genro representam um setor do PT, que buscar alianças com setores da direita, na qual a ala ligada a Lula e o próprio Lula rejeitam e são um empecilho para a implementação dessa política.
Uma esquerda aceitável para a direita tradicional não poderia ter a frente uma figura como Lula, figura central do partido e com grande prestígio com sua base, fato que coloca essa ala direita com pouca influência e que se choca constantemente com a base, como o caso do governador Rui Costa da Bahia.