Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central em entrevista ao Valor Econômico disse: “Vamos ter uma recessão profunda, infelizmente. Contas preliminares que tenho feito com colegas sugerem que o PIB pode cair 6%, até 8% este ano. Isso é recorde, não há registro histórico de uma queda tão grande. A única esperança é que, na medida em que a saúde volte, a recuperação ocorra num espaço não muito longo de tempo”. O Presidente do Santander Sergio Rial em entrevista ao também Valor Econômico pede cautela aos investidores e diz que o Estado foi fundamental para conter a crise.
Tanto é verdade que com as verbas recebidas do Banco Central os bancos ficaram com capacidade de passar pela crise. Já o povo em geral, os trabalhadores, não se pode dizer o mesmo. Céu de brigadeiro para os de um lado e tormentas raivosas para o outro lado. É assim que iremos passar pela crise que está em seu estágio inicial apenas.
Não podemos perder de vista que a crise que o mundo todo passa é fruto das políticas neoliberais que vêm sendo aplicadas desde a crise de 1974, em maior ou menor grau conforme a luta do povo ia contendo os avanços dessas políticas. Privatizações, corte de benefícios sociais, redução do salário, sucateamento da saúde e educação, são de longe o sonho de consumo das elites imperialistas, que não cansam de procurar aumentar seus lucros.
Quando um ganha o outro perde, é o que é possível acontecer numa sociedade dividida em classes com interesses antagônicos. Não esqueçamos que salários são custos para as empresas, e quanto maiores forem menores os lucros, pura matemática. Não dá para esperar por milagres, a vida prática acontece como pode acontecer, ao sabor das incertezas, de acordo com o jogo político. Tudo vai depender de como os agentes econômicos, as famílias de trabalhadores de um lado e as empresas do outro e o governo.
Este último já demonstrou a política que adotou, liberou trilhões de reais aos bancos, e uma esmola aos trabalhadores, que sem lideranças, assistem às perdas sem esboçar qualquer reação, aumentando a ferocidade da elite em reduções de renda dos trabalhadores. Pouco ou nada fez, ou está fazendo para conter a proliferação do vírus, ou amenizar as perdas econômicas para os trabalhadores.
As empresas estão numa política de redução de salários, demissões em massa e forçando aos empregados cumprirem a jornada de trabalho, se deslocando através de transportes superlotados, arriscando se contaminarem. Para ajudar nesse confronto contam com a ajuda prestimosa do Estado nacional, com seus os repressores da população e dos meios de comunicação que escondem as notícias que possam causar a ira do povo e mentem descaradamente nas notícias com o mesmo objetivo.
Se o PIB cair nessas proporções, dito não por órgãos da esquerda, mas dos próprios defensores desse sistema altamente prejudicial aos trabalhadores no seu conjunto, o cenário que podemos visualizar é o de uma guerra sem precedentes na história do país.
As crises anteriores, que não foram pequenas, com hiperinflação e arrocho salarial, aumentando a fome, miséria e as doenças que vêm juntas, vão parecer mamão com açúcar. É preciso criar a organização do povo para o enfrentamento antes que seja tarde. O povo deve cobrar fortemente ações imediatas de suas lideranças, principalmente os sindicatos e partidos políticos, sob pena de arrependerem-se de não ter agido enquanto havia tempo.