Em um novo capítulo da luta política que vem se desenvolvendo há anos, e que ganhou especial intensidade a partir do golpe que derrubou a ex-presidenta Dilma Rousseff, o general Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo do presidente Jair Bolsonaro, fez uma declaração em entrevista à igualmente golpista revista Veja que merece atenção. Disse o general:
Fui instrutor da academia por vários anos e vi várias turmas se formar lá, que me conhecem e eu os conheço até hoje. Esses ex-cadetes atualmente estão comandando unidades no Exército. Ou seja, eles têm tropas nas mãos. Para eles, é ultrajante e ofensivo dizer que as Forças Armadas, em particular o Exército, vão dar golpe, que as Forças Armadas vão quebrar o regime democrático. O próprio presidente nunca pregou o golpe. Agora o outro lado tem de entender também o seguinte: não estica a corda.
Duas considerações precisam ser feitas a esta declaração. A primeira, é a lembrança que o general faz de sua influência sobre ex-cadetes que “têm tropas nas mãos”, numa clara intimidação. A outra, também de natureza intimidatória, é a forma como o general termina a fala, sob o qual caberia um questionamento óbvio, o que aconteceria se “o outro lado” esticasse a corda? Com a palavra, o próprio ministro:
“O Hitler exterminou 6 milhões de judeus. Fora as outras desgraças. Comparar o presidente a Hitler é passar do ponto, e muito.”
Sob a desculpa de que comparar Bolsonaro a Hitler seria “passar do ponto, e muito”, o general efetivamente fez isso.
Ramos não é o único. Em nota conjunta, assinada por Bolsonaro, Mourão e o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, os golpistas, também na linha “indignada” declararam:
“As FFAA do Brasil não cumprem ordens absurdas, como p. ex. a tomada de poder. Também não aceitam tentativas de tomada de poder por outro Poder da República, ao arrepio das leis, ou por conta de julgamentos políticos”
Claro que é absurdo. O que as Forças Armadas mais fizeram ao longo da história brasileira foi justamente cumprir “ordens absurdas, como por exemplo, a tomada de poder.” O que chama atenção na nota, tal qual na declaração do general Ramos, é a afirmação de que o alto escalão das Forças Armadas tampouco “aceitam tentativas de tomada de poder por outro Poder”, algo que não observado quando se tratava de derrubar a petista Dilma Rousseff, operação em que participaram o Legislativo, o Judiciário e as próprias Forças Armadas.
Em meio ao expressivo aprofundamento da crise política, a extrema-direita ainda se sente forte o bastante para ameaçar o “centro” político, numa clara indicação de que a direita tradicional não tem força alguma para nada, muito menos para derrubar Bolsonaro (apenas para “colocá-lo na linha”), o que só pode ser conseguido com mobilizações de massa nas ruas. Qualquer tentativa em contrário é mera tentativa de confundir a população.