Na última semana, chegou ao conhecimento de nossa redação uma mensagem do deputado David Miranda (PSOL-RJ) homenageando um agente da Polícia Militar:
A homenagem em questão está relacionada ao assassinato de um policial na cidade de Mesquita, no Rio de Janeiro, enquanto tentava impedir um assalto. Derinaldo Cardoso foi baleado na cabeça e não resistiu aos ferimentos. o PM foi homenageado por policiais militares e civis, que ligaram as sirenes das viaturas, e pelos setores mais direitistas da imprensa golpista.
Homenagem aos assassinos do povo
Ao prestar solidariedade ao policial que morreu em serviço, David Miranda acaba incorrendo em um erro bastante comum entre os setores mais conservadores da esquerda pequeno-burguesa: o de que os policiais militares seriam “trabalhadores” e, por isso, deveriam ser considerados como parte da classe operária.
Isso, contudo, está bastante longe da realidade. O policial militar não produz absolutamente nada de útil para a sociedade: sua única função é de reprimir pela mais bruta violência os trabalhadores. A Polícia Militar é o braço armado do Estado burguês e serve para proteger tão somente a propriedade privada.
Na pandemia de coronavírus, nenhum policial militar foi visto atuando contra os patrões que obrigaram os trabalhadores a trabalhar, nem reprimindo as manifestações da extrema-direita. Muito pelo contrário: a população só reconhece a ação do Estado quando este se volta contra ela: para assassinar a juventude negra nas periferias, para reprimir as greves e atos da esquerda etc. Em todos os momentos em que a classe operária tenta se levantar contra toda a sabotagem da direita contra suas condições de vida, a polícia está sempre do lado oposto: do lado do regime político, da ordem vigente.
O policial militar é, portanto, a face mais extrema da política podre de exploração da burguesia. Política essa que se torna ainda mais podre e explícita com a pandemia de coronavírus.
Combate à criminalidade?
A justificativa da esquerda pequeno-burguesa para apoiar a política genocida da Polícia Militar é a de que seria necessário combater a criminalidade. O caso de Derinaldo Cardoso é bastante emblemático: o agente da repressão teria sido morto tentando combater os “perigosos” assaltantes de Mesquita.
Mas o “combate à criminalidade” é, finalmente, o combate à classe trabalhadora. Trata-se, afinal, do discurso da extrema-direita: “bandido bom é bandido morto”, pois os maiores bandidos políticos do País, que são os representantes do imperialismo, que roubam todo o patrimônio nacional, nunca são combatidos pela polícia.
Os “criminosos” não são uma parte alienígena da sociedade, formada por seres com algum traço biológico específico. O crime é resultado direto de como a sociedade está organizada. Em um País como o Brasil, com 14 milhões de desempregados, não há como o povo não reagir violentamente à profunda desigualdade social promovida pelos golpistas.
Desse modo, o “combate à criminalidade” é o aprofundamento da política da direita golpista: todo tipo de ataque por meio da política neoliberal e repressão àqueles que se rebelam contra essa política.
Demagogia com a extrema-direita
Os elogios à Polícia Militar, além de uma confusão total, são a expressão de uma política completamente equivocada da esquerda pequeno-burguesa: a frente ampla com a direita golpista. Isto é, na medida em que a burguesia aprofunda seus ataques contra o povo, a esquerda, ao invés de responder organizando os trabalhadores para enfrentar seus inimigos, acaba se ajoelhando perante os golpistas para manter algum privilégio dentro do regime político. Uma política que, por um lado, não levará a ganho algum para o povo, e que, por outro, apenas permitirá que a direita avance no regime.
O problema de colaborar com a direita em um processo de golpe de Estado é que a esquerda pequeno-burguesa, para manter seus privilégios, terá de acompanhar a evolução à direita. Ou seja: para se manter na frente ampla, a esquerda terá de acompanhar os métodos cada vez mais fascistas do regime político.
É por isso, portanto, que David Miranda, enquanto membro de um dos principais propagandistas da frente ampla — o PSOL —, ao invés de denunciar o massacre que a Polícia Militar causa nas periferias do Rio de Janeiro, decidiu fazer demagogia com o aparato de repressão de extrema-direita do Estado. Para o PSOL, não se trata de combater as arbitrariedades do regime, mas sim de fazer demagogia com os inimigos da classe trabalhadora.
E David Miranda não está sozinho no PSOL. O principal candidato da legenda nas eleições de 2020 passou a campanha eleitoral inteira fazendo demagogia com a GCM, prometendo fortalecer o seu armamento e o seu contingente. Marcelo Freixo, um dos principais dirigentes da legenda, é um conhecido defensor das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
E não é apenas a defesa de um programa defensivo. Efetivamente, o PSOL, acompanhado dos setores mais direitistas da esquerda nacional, lançou uma série de candidatos da polícia. No Rio de Janeiro, onde a Polícia Militar é a que mais mata no Brasil, o partido lançou, como candidato a vice-prefeito, um coronel! Na Bahia, onde a ala direita do PT sabota o próprio partido, tendo, inclusive, apoiado Ciro Gomes em 2018 e a reforma da Previdência, lançou, como candidata a prefeita de Salvador, uma major da PM!
Dissolver a Polícia Militar
Como visto nos próprios casos da Bahia e do Rio de Janeiro, fazer demagogia com a PM não leva a esquerda a um avanço. Pelo contrário: na medida em que confunde os trabalhadores sobre quem seriam seus inimigos, pavimenta o caminho para que a extrema-direita tome conta do regime. É preciso, portanto, ter uma política diametralmente oposta, que sirva para colocar a classe operária em confronto com o aparato de repressão da burguesia.
A única política para os trabalhadores e para todos os explorados em relação ao aparato de repressão é lutar pela dissolução da Polícia Militar. Todo e qualquer órgão de repressão que fique a serviço do Estado será, inevitavelmente, contrário aos interesses do povo. Ao mesmo tempo, é preciso estabelecer polícias municipais, diretamente controladas pela população, com seus chefes eleitos pelo povo, e que os trabalhadores organizem a sua própria defesa, com direito irrestrito ao armamento.