Na sexta-feira, 22 de maio, o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, divulgou uma “nota à nação brasileira”, na qual diz ser “inconcebível e, até certo ponto, inacreditável” o “pedido de apreensão do celular do presidente da República”.
A nota foi uma resposta a uma ação do ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, que encaminhou para análise da Procuradoria Geral da República queixas-crime apresentadas por um grupo de partidos e parlamentares. Nas queixas-crime, os autores requisitam a apreensão do celular de Bolsonaro, mas será a PGR que determinará se isso ocorrerá ou não.
A isso, o presidente ilegítimo respondeu: “Me desculpe senhor ministro, Celso de Mello. Retira o seu pedido, que meu telefone não será entregue. O que parece que o senhor quer com isso? É que fique cozinhando agora lá a entrega do meu telefone. Ninguém vai pegar o meu telefone”, disse à rádio Jovem Pan, de São Paulo.
Na mesma linha se pronunciou o general Augusto Heleno. Sua nota conclui com uma clara ameaça a todo o País. O general diz que caso haja a apreensão, isso “poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”.
A nota não deve ser subestimada. Na realidade, ela já constitui uma espécie de mini golpe ao se negar a cumprir possíveis ordens judiciais contra o atual presidente, que por sinal também já declarou que se recusaria a cumprir a ordem.
A ameaça não passou despercebida. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse que “ameaça é muito ruim, não é esse o caminho”. A grande imprensa burguesa também condenou a nota, no mesmo sentido do que fizeram em especial na última semana, quando intensificaram uma campanha de pressão sobre o exército na tentativa de demovê-lo do apoio a Bolsonaro.
A nota demonstra claramente que os militares estão alinhados com Jair Bolsonaro e obteve respaldo entre os ministros militares em geral, bem como do alto comando.
Diante disso, não pode ser descartado que as contradições do governo se resolvam no sentido de um golpe dos militares contra as atuais instituições.
Isso não significa que os próprios militares considerem essa a melhor solução possível no momento, mas que é provável que lancem mão desse expediente diante de um colapso da situação. Esse colapso está horizonte, diante do trajeto ascendente do Brasil rumo a se tornar o epicentro da pandemia e da crise econômica, cujas perspectivas são as mais tenebrosas.
No entanto, além dos militares, um setor substancial da burguesia ainda apoia o atual governo e por isso há negociações no Congresso Nacional com vistas a criar um bloco que bloqueie qualquer pedido de impeachment.
Diante dessa situação, é fundamental que as forças de esquerda – os partidos e organizações dos trabalhadores, bem como os movimentos sociais – iniciem uma ampla mobilização capaz de quebrar a iniciativa dos militares, que conduz ao perigo, ainda que não iminente, de um golpe militar.