O programa Innovative Medicines Initiative (IMI) foi criado em 2008 unindo burocratas da Comissão Europeia e lobistas da poderosa Federação Europeia de Associações das Indústrias Farmacêuticas (EFPIA, na sigla em inglês) para financiar “necessidades médicas ou sociais não conhecidas”. Com um orçamento de €5,3 bilhões (US$5,8 bilhões), o IMI deveria deixar a União Europeia preparada para enfrentar epidemias como o coronavírus , em uma parceria público-privada que, na prática, revelou-se um esquema muito típico do capitalismo.
Conforme denúncia divulgada pelo sítio Corporte Observatore Europe, as empresas usaram a fortuna conseguida pelo acesso privilegiado aos cofres públicos da Europa para pesquisar drogas destinadas ao diabetes e doenças relacionadas ao Alzheimer e câncer, um gigantesco desvio da premissa básica do programa, dado que medicamentos para estas doenças já contam com boa cobertura de pesquisas, e não por acaso mas devido à lucratividade que estas enfermidades trazem às farmacêuticas.
Ainda, a emergência do coronavírus demonstra de maneira muito clara que a suposta preparação ao enfrentamento de epidemias fracassou miseravelmente. Com pelo mais de 1,8 milhão de infectados pelo coronavírus, dos quais mais de 169 mil mortos até o último 25 de maio, fica evidente o tamanho do desprezo da indústria pela biosegurança pretendida mas não podemos esquecer outro setor com grande responsabilidade neste verdadeiro crime.
É até uma pergunta óbvia, afinal, os burocratas não viram que as empresas agrupadas pela EFPIA estavam simplesmente embolsando o dinheiro, destinado a preparar a Europa para enfrentar uma epidemia? Quem acredita nisso, acredita em tudo. E se responsabilidades legais podem ser de difícil atribuição, o mesmo não se pode dizer da natureza política do crime cometido pela burguesia.
Sendo a indústria farmacêutica controlada pelos grandes tubarões do capitalismo, os banqueiros das nações imperialistas, o controle da burguesia sobre o aparelho burocrático do Estado se revela de maneira muito cristalina em escândalos como este, ainda mais criminosos quando analisados sob o duplo descaso ocorrido na supostamente civilizada Europa.
O escândalo de corrupção ocorrido no âmbito da União Europeia revela ainda o equívoco em destinar verba pública para abastecer empresas capitalistas, especialmente em um setor de fundamental interesse social, o que implica na necessidade da estatização da indústria farmacêutica, que finalmente, já é financiada com dinheiro público. Para garantir que o interesse social se imponha, estas empresas devem também ser entregues aos trabalhadores, os únicos realmente interessados em orientar a produção farmacêutica às necessidades da população.