A crise política entre os dirigentes da última greve geral dos transportadores (caminhoneiros) e o governo golpista de Jair Bolsonaro parece ter alcançado um novo nível de desentendimento e caminha para uma possiblidade real de paralisação nacional da categoria.
Recentemente uma das principais lideranças do movimento grevista de 2018, Wallace Landim (Chorão), saiu a público afirmando que Bolsonaro havia traído os trabalhadores do setor o que por foi suficiente para que os golpistas ligassem o sinal de alerta.
Uma das razões para o rompimento seria a intenção do Ministério da Infraestrutura comandado pelo militar Tarcísio de Freitas que estuda ampliar a chamada cabotagem, um modelo de transporte fluvial e marítimo que por utilizar os portos e assemelhados como ponto de distribuição de mercadorias poderia impactar diretamente na demanda pelo serviço rodoviário dos caminhoneiros em todo o país.
Certamente setores da esquerda bem pensante recordarão o fato de que Bolsonaro foi eleito na fraude eleitoral de 2018 com amplo apoio entre os caminheiros. Acontece que o problema atual evidencia o caráter irreconciliável entre os interesses de centenas de milhares de trabalhadores do setor e a política entreguista do governo Bolsonaro. Interesses estes alicerçados na materialidade real das condições de vida destes trabalhadores e que está acima de aspectos ideológicos assumidos equivocadamente pela categoria em um passado recente.
A perseguição aos caminhoneiros ocorre pelo menos desde 2018, quando ocorrera a última greve, a partir daí estes trabalhadores vêm sendo monitorados pelo Estado capitalista constantemente. O Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) que possui dados de 42 órgãos federais pertencentes a diferentes ministérios repassa informações a Polícia Rodoviária Federal e ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para que juntos estes órgãos de repressão controlem de perto qualquer nova iniciativa da categoria que ameace a “institucionalidade”.
Para os golpistas, mesmo após conversas intermináveis junto à Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), o que mais preocupa é justamente uma mobilização entre esta parcela dos caminhoneiros justamente porque estes não possuem vínculo com as grandes empresas monopolistas do setor e atuam por conta própria podendo decidir de forma independente quando parar e quando retornar ao trabalho.
Desta forma é imprescindível que todas as forças progressistas que se identificam como de esquerda saiam do moralismo costumeiro típico da pequena burguesia alienada e defendam amplamente a organização da categoria no sentido de uma mobilização nacional que desemboque numa greve expressiva do setor.
Caso ocorra o contrário, ou seja, ao vacilar diante desta questão que envolve basicamente a solidariedade de classe social, todo a esquerda poderá estar entregando mais uma vez nas mãos da direita golpista a condução política do movimento, o que seria um erro estratégico com consequências desastrosas para a luta contra o golpe de Estado no país.