A situação política no Brasil está marcada por uma nova tentativa da burguesia de estabelecer uma política de controle sobre o governo Bolsonaro. Aparentemente bem sucedida, as ações do STF e dos governos de São Paulo e Rio de Janeiro contra militantes bolsonaristas e o operador de caixa 2 e miliciano ligado à família Bolsonaro, Fabrício Queiroz, teriam levado Bolsonaro à busca por um trégua contra a direita golpista, a começar com a demissão do ministro da Educação Abraham Weintraub
No meio das desavenças entre duas alas da direita golpista, uma parte da esquerda saiu a parabenizar o STF como o guardião da “democracia” contra o fascismo. Nada poderia ser mais enganoso e no final das contas, as medidas supostamente “em defesa da democracia” tomadas contra a extrema-direita vão se voltar inevitavelmente contra a esquerda.
A política da direita golpista não apenas não procura de fato conter a extrema-direita, como sustenta o bolsonarismo ao encobrir o avanço desse movimento sobre o aparato repressivo do estado ou, ainda, com as diversas denúncias do treinamento de brasileiros pelo governo fascista da Ucrânia. Dois fatos que deveriam causar muita preocupação da esquerda, milhões de vezes mais importantes do que a queda de um peixe pequeno como Weintraub.
Por outro lado, seja Bolsonaro no executivo, sejam o STF e o Congresso Nacional controlados pela direita golpista, uma coisa é absolutamente cristalina. Todos estão irmanados em impor um ataque sem precedentes contra as massas do País em nome da “defesa” da economia em favor, é claro, dos capitalistas. Que os trabalhadores paguem a conta da crise é a ordem dos patrões burgueses aos seus empregados.
Em números oficiais, o País caminha para 1,4 milhão de contaminados e 60 mil mortes. A pandemia graça entre trabalhadores dos Correios, trabalhadores em frigoríficos, petroleiros, enfim no meio do movimento operário. Mais da metade da população economicamente ativa está desempregada e os poderes da República não param de aprovar leis que retiram mais ainda os direitos dos trabalhadores. Apenas nos últimos dias, o Congresso aprovou ou encaminhou a aprovação em uma das casas a privatização da água e a lei da fake news, o STF referendou a MP 927, que põe em prática a reforma trabalhista, a começar pela negociação direta entre patrões e empregados e Bolsonaro avança em todos os sentidos com a privatização da Petrobras, para ficar apenas em alguns exemplos.
Tamanho ataque à população trabalhadora tem provocado uma insatisfação profunda entre as massas e tem se expressado no fundamental pelo anseio popular pelo Fora Bolsonaro. A tendência à mobilização é um realidade entre os trabalhadores e a juventude. Não é por outro motivo, que a direita utiliza setores da própria esquerda para promover confusão e dispersar as tendências crescentes da população em ir às ruas pelo fim do governo fascista, por meio da política da frente ampla.
Ao invés de dar vazão a vontade popular de varrer com os fascistas das ruas, o que ocorre são atos desmarcados, acordos com os bolsonaristas para compartilhar espaços públicos em dias alternados, tentativa de impedir que a esquerda levante suas bandeiras, enfim, uma política para evitar a todo custo o desenvolvimento da luta pelo fora Bolsonaro. É uma política de tipo eleitoral que no final das contas visa garantir Bolsonaro até 2022.
Essa política calhorda da frente ampla tem de ser duramente combatida por todos os setores que se reivindicam defensores dos trabalhadores e explorados do País, a começar pela Central Única dos Trabalhadores. Nesse sentido é imperativo que a CUT convoque os seus sindicatos às ruas. Está absolutamente na contramão dos interesses dos trabalhadores que estão expostos à contaminação, ao rebaixamento de trabalho e a demissões que suas entidades construídas na luta permaneçam fechadas.
As pequenas manifestações, chamadas de atos simbólicos, ocorridas na semana que passou em diversas capitais do País convocadas pela CUT refletem, sem sombras de dúvidas, os ataques sofridos pelos trabalhadores, mas, também, à própria pressão de parcela da CUT e dos sindicatos para que a CUT supere seu imobilismo e volte às ruas.
A entrada em cena da maior central sindicato da América Latina, com mais de 4 mil sindicatos em sua base, é uma questão chave do ponto de vista do desenvolvimento da luta de classes no Brasil na próxima etapa política.