Cerca de US$ 850 bilhões direto do banco central dos Estados Unidos, o Fed, se somaram a mais de US$ 750 bilhões da União Europeia (480 bilhões de euros), na maior injeção de liquidez da história do capitalismo. Ao leitor que achou a informação confusa, uma contextualização se faz necessária: o ano em questão é 2008. A soma dos resgates, corrigidos pela inflação da moeda estadunidense no período de 2008 a 2019, de 18,74%, apontam que o bailout seria equivalente a 1,9 trilhões de dólares nos dias atuais.
Parece muito mas é 15% menor do que o resgate aprovado pela burocracia política dos Estados Unidos, de 2,2 trilhões de dólares, o que somado com a União Europeia, que anunciou mais 750 bilhões de euros (US$ 825 bilhões), resultam numa bondade dos governos imperialistas quase 60% maior do que o então “maior resgate da história do capitalismo.”
Essa conta ainda desconsidera o resgate realizado pelos países do esquecido G-20, muitos dos quais nações atrasadas, convocadas agora para se solidarizarem com a burguesia das nações imperialistas, e que farão no conjunto uma bondade aos capitalistas da ordem de US$ 5 trilhões (já computados os US$3 trilhões dos EUA e da UE).
Estes não são os únicos casos onde o produto social, a riqueza, precisa ser mobilizado para salvar os parasitas burgueses mas servem para desvendar, com muita concretude, todo o rol de besteiras propagandeadas pelos ideólogos do capitalismo, das quais a fantasmagórica “mão invisível” consegue se destacar entre as mais imbecis. Isto por que as sucessivas crises do capitalismo (crescentes também em devastação econômica) deixam claro as condições ideias de funcionamento dos mercados, como não poderia deixar de ser, não passam de idealismo barato. Se já era assim no período da livre concorrência, na etapa do imperialismo, “mão invisível” não passa de um vocábulo, risível como conceito econômico mas interessado em seu aspecto político, especialmente por lembrar que o capitalismo em sua etapa atual, não existiria sem a mão muito visível do Estado.
O aspecto da luta de classes é ainda mais importante quando observamos a dialética entre a abstração da “mão invisível” e concretude da “mão muito visível” e sua aplicação no Brasil. Conforme estudo produzido pelo sindicato dos Procuradores da Fazenda, 55% da arrecadação de impostos no país vem da tributação sobre o consumo da população e 25% sobre o trabalho regulamentado. Em condições normais, essa é a fonte dos repasses trilionários dados aos tubarões do capitalismo na forma de rolagem da dívida. Além desta fortuna, o consumo da população e o emprego dos trabalhadores, especialmente a classe operária, irá pagar também mais R$ 1,2 trilhão a título de “bailout.”
“Bailout” virou a palavra da moda. Consulta ao Google Trends mostra um interesse em ascensão, especialmente nos Estados Unidos, onde pesquisas sobre o termo aparecem associadas a “coronavirus”. No Brasil, o Distrito Federal aparece como a unidade federativa mais interessada no vocábulo, seguido pelos Estados da região sudeste e sul. A tradução livre para o português seria “resgate” porém a luta de classes permite um rigor maior para o conceito, no sentido de politizá-lo: assalto.
Claro que a imprensa capitalista jamais vai entrar nos detalhes mas uma lição legada pelo uso cada vez maior do anglicanismo, é que roubo cometido em favor da classe burguesa sempre virá com um nome pomposo. Este é o único exemplo de que a “mão invisível” funciona, embora, como sempre, contra os trabalhadores.