Depois de um editorial em que exaltava a responsabilidade do governo dos “imprecionantes” e da imprensa capitalista diante da pandemia do coronavírus, o Estadão resolveu convocar o famoso “especialista” para colocar em evidência a político da direita, que é basicamente a mesma de sempre: a culpa de tudo é toda do povo.
Ao órgão da direita, o especialista escalado afirma que o Ministério da Saúde já vinha encarando o coronavírus como uma pandemia antes da OMS decretar a situação dessa forma. Claro que quem acredita nisso, acredita em tudo. Um dia antes de apresentar a suspeita de ter contraído o covid-19, Jair Bolsonaro, que já começou a semana passada dizendo que a pandemia era uma “fantasia” voltou dos Estados Unidos afirmando que “outras gripes já mataram mais do que essa”. Além das declarações do golpista, nenhuma medida minimamente séria no que diz respeito ao controle dos aeroportos internacionais foi realizada, nem em aglomerações tais quais os massacrantes veículos de transporte público, absolutamente nada foi feito. Nesse sentido, a afirmação tem o mesmo nível de seriedade do palhaço do “pibinho”, como tudo nesse governo.
A entrevista continua com o especialista do Estadão dizendo que “o Ministério da Saúde e as secretarias estão batendo muito na tecla dos cuidados a serem tomados pela população. Então não dá para definir se vamos ter um número ascendente de casos ou não.” Se o quadro todo vai piorar ou não, “tudo vai depender de saber se a população vai aderir”. É quase como dizer, “nós, os sapientes deuses do Olimpo já estamos fazendo muito ao dizer a esses animais para se cuidarem.” E os trabalhadores, que precisam se espremer nessas latas de sardinha motorizadas que são os meios de transporte de massa (onde chegam a passar em média mais de duas horas por dia de trabalho), que não têm acesso a instalações de atendimento dignas de seres humanos, não têm a segurança de leitos hospitalares adequados sequer para atender suas necessidades “rotineiras” (que dirá as emergenciais), que segundo o presidente golpista, precisam se acostumar a ter menos direitos, essa camada é que tem de se virar por que o governo e seus especialistas irão apenas bater “na tecla dos cuidados”.
Em outro momento, o especialista informa que “as autoridades precisam colocar na balança a letalidade do vírus e a situação da epidemia por um lado e, por outro, o impacto de fechar escolas, repartições, teatros, cancelar eventos públicos.” Acontece que isso é exatamente o que todos os governos da Europa, dos EUA e governos capachos como o do Brasil têm feito, e permitiu a explosão da pandemia. Com a crise nos mercados financeiros, a razão para a inércia em tantos governos fica evidente, na medida em que o conjunto do sistema capitalista há muitas décadas não se sustenta mais sob a produção mas sob a especulação gerada em cima da mesma. Com a retomada do colapso financeiro iniciado em 2008 se desenhando, o crescimento da dívida global e a impossibilidade prática do capitalismo em superá-la no curto prazo, parar a economia agora poderia levar o sistema inteiro à mais severa crise de sua história. Por isso, mesmo os governos das nações imperialistas preferem arriscar a vida da classe trabalhadora a fazê-los parar para evitar o contágio e ver a bolha do capitalismo estourar. As autoridades colocaram sim cada aspecto na balança, e o resultado é esse que estamos vendo.
Num momento em que não faltam razões para a população explorada e massacrada pelo regime golpista de Bolsonaro ficar apreensiva, com um governo de moleques que trata os problemas reais da população com palhaçadas desse nível, o que o Estadão e seus especialistas fazem ao promover declarações tão baixas é um escárnio contra a população, um deboche chulo. O povo brasileiro tem razões de sobra para se apavorar, especialmente quando fica claro que mesmo nos países centrais do capitalismo, os interesses que mandam nos governos são justamente o principal problema que levou a uma explosão do contágio e a cenas que remetem à peste negra do final da Idade Média.
Donald Trump deixou a questão muito clara na semana passada, quando disponibilizou US$1,5 trilhão aos capitalistas para não quebrarem e US$50 bilhões ao povo americano para não morrerem doentes. As prioridades políticas sob o capitalismo ficaram publicamente expostas. No Brasil, estamos vendo o governo rasgando dezenas de bilhões de reais, do povo, de segunda a sexta na bolsa de valores, como parte de uma política voltada única e exclusivamente para os tubarões do capitalismo global que sustentam Bolsonaro no poder. À população, verdadeiras armadilhas como antecipação do 13º dos aposentados e, pior, expansão do limite do consignado. O regime golpista deixa claro, pela enésima vez, que não tem consideração alguma pela vida da população. A novidade é que agora, Bolsonaro faz isso diante de uma pandemia global que, levando em conta as estimativas de contágio feitas pela Alemanha, ameaça quase 150 milhões de brasileiros. A direita já deixou claro que não fará nada, e pior, vai responsabilizar, mais uma vez, os trabalhadores. A campanha pelo fora Bolsonaro vira questão de vida ou morte para a ampla maioria da população.