Na última semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, informou que o governo destinará R$ 51 bilhões para pagamento da complementação de salários dos trabalhadores que tiverem redução de jornada pela empresa.
Segundo ele, “são R$ 51 bilhões do nosso programa trabalhista que dão às empresas várias possibilidades, como reduzir jornada em 20%, 25%, 30% e o governo cobre essa diferença de salário. Se a empresa está com dificuldade e quiser reduzir [a jornada e os salários] 20%, 25%, 30%, o governo paga. Estamos pagando às empresas pra manterem os empregos”.
O ministro ainda acrescentou destacou outra medida, já anunciada, que estabelece uma linha de crédito (com 85% de garantia do Tesouro Nacional) de até R$ 40 bilhões para as empresas pagarem os salários dos funcionários.
Cinicamente o ministro afirmou na oportunidade: “está sem dinheiro para pagar os outros 70% [dos salários dos trabalhadores]? Damos crédito para manter o emprego. Tanto o programa trabalhista de complementação salarial quanto o de crédito para financiamento da folha estão sendo segurados. O total é de R$ 200 bilhões, 2,6% do PIB para manutenção da saúde, preservação de vida e manutenção de empregos” (Valor Econômico, 2/4/20).
As declarações do próprio ministro não encobrem que longe de um “programa trabalhista”, o que temos aqui é mais um programa de financiamento dos capitalistas em crise, a pretexto de socorrer os trabalhadores.
De fato, o que vai acontecer é que com o dinheiro dos impostos pagos pelos trabalhadores, o governo vai assumir o pagamento de parte da folha de pagamentos para assegurar os ganhos dos patrões. Os patrões economizam, rebaixam o salário real dos trabalhadores e, passados alguns meses, demitem os trabalhadores ou impõem que estes – a pretexto da crise – aceitem o pagamento dos salários com valores reduzidos, sem a subvenção governamental.
Trata-se de uma política de expropriação em que os trabalhadores só perdem: com a subvenção dada aos patrões, o governo vai alegar que dispõem de menos recursos para atender outras demandas populares, como o financiamento de serviços públicos essenciais à população trabalhadora.
A burguesia, por sua vez, ganha na entrada e na saída: reduz os salários, gasta menos com a folha de pagamento e, depois, impõe um redução salarial aos que não forem demitidos durante o aprofundamento da crise.
É a continuidade da política neoliberal que levou o País ao abismo, a distribuição de dinheiro para os capitalistas que tem como maiores beneficiário os bancos que estão recebendo benefícios da ordem de R$ 1,2 trilhão, conforme já anunciados pelo governo.
Pela política desses genocidas, os trabalhadores ainda terão que pagar a conta, depois, para arcar com o déficit público que está sendo gerado para financiar os patrões, com aumento de impostos e outras medidas que, se depender, do regime golpista, por certo, virão.
A intervenção de todos os governos de direita vai no mesmo sentido. Não há medidas reais para combater as consequências da crise, como a matança de centenas de milhares de pessoas, o desemprego em massa, o aumento da fome etc. Uma pequena parcela dos recursos é destinada a encobrir a operação genocida, enquanto o grosso dos recursos vai para financiar os capitalistas, principalmente os grandes monopólios.
Diante dessa política criminosa, a orientação da maioria da esquerda burguesa e pequeno burguesa é apoiar a direita e implorar que ela adote medidas que resolvam a situação ou tecer críticas pontuais às suas medidas e propor uma “negociação”, no Congresso Nacional, dominado pela direita golpista, para fazer pequenas alterações, que não alteram o caráter fundamental das medidas. Como parte dessa orientação da esquerda, a maioria dos sindicatos estão fechados e a burocracia das centrais sindicais publicou nota, propondo negociar com políticos da direita, como o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), apontado pro Bolsonaro como o “general da reforma da Previdência” que, apoia Guedes e seu “chefe” em todos os ataques contra os trabalhadores.
É preciso denunciar o caráter reacionário dessa orientação e reivindicar que a CUT convoque uma Plenária Nacional das entidades de luta dos explorados e da esquerda para debater um programa próprio dos explorados diante da crise e uma mobilização nacional contra os ataques do governo e pelo “Fora Bolsonaro”.