Como profissional da área da saúde, médico, atuando na periferia de Guarulhos, estando na linha de frente do combate à pandemia de COVID-19, tenho percebido um cenário trágico. Cenário este que já se iniciou, mas que tem como potencializadores o profundo desprezo que os governos de modo geral, sobretudo o federal, possuem para com a população brasileira, principalmente a população pobre e trabalhadora.
A alta cúpula do governo tem tomado ações aparentemente contraditórias internamente, em que ministro contradiz presidente e vice-e-versa. A maior parte do que é dito e divulgado pelo próprio Bolsonaro não possui qualquer embasamento científico ou teórico porém estes aparentes conflitos internos parecem ter como objetivo um desfecho claro e pré-determinado: O genocídio da população brasileira.
Já é escancarada a subnotificação proposital com intuito de esconder o cenário calamitoso do crescimento exponencial de óbitos. O desprezo ocorre de maneira mais evidente nas periferias e comunidades dos grandes centros, onde os protocolos federais, estaduais e municipais praticamente impedem a notificação de casos suspeitos leves, ou mesmo com potencial de gravidade. Isso culmina em um cenário de sobrecarga de UPAs e Hospitais em que as mortes por complicações já estão acontecendo e ainda ocorrerão de forma amplificada. Uma vez sem testagem suficiente, temos óbitos massivos e não computados como COVID-19, pois também há a determinação de nem se autopsiar os cadáveres por risco de contaminação, tampouco constar em atestado de óbito a mais provável causa da morte que seria COVID, já que não se obteve o teste confirmatório. Cabe denunciar que este cenário ocorre em virtude de um sistema de saúde precarizado historicamente e tal precarização é amplificada pelos cortes dos últimos governos golpistas que congelaram e reduziram os gastos com saúde pública, bem como o investimento em ciência e tecnologia.
Somado a isso, temos a demora para o pagamento do Benefício (Esmola) de 600 reais, aos trabalhadores e famílias já precarizados por reformas neoliberais que reforçam suas condições de instabilidade pelo subemprego ou pela demissão endossada pelo governo fascista vigente. Deve se ter bem claro que este atraso ocorre de maneira Intencional, uma vez que Bolsonaro e Paulo Guedes querem forçar os trabalhadores a trabalhar, arriscando suas próprias vidas e de seus familiares, para garantir a alimentação em condição torpe de subsistência, violando assim a quarentena e isolamento social. Tais medidas são consenso no meio científico e experimentadas por outros países como medida mais eficaz no combate à pandemia.
Outra questão totalmente velada, porém não menos intencional para a alta burguesia, sobretudo os agentes do mercado financeiro, é a promoção do genocídio na população idosa. Isso aceleraria de forma macabra o desfecho da reforma previdenciária, de modo que com a diminuição da população idosa, diminuiríam os pagamentos de aposentadoria a estes idosos, fazendo com que a arrecadação aumentasse indiretamente. Isso faria com que os capitalistas deste setor, que pouco se importam com as vidas da população idosa, aumentassem o potencial de ganhos sobre o sistema previdenciário, de modo nunca antes visto numa clara ação fascista e perversa.
Ainda sim, nós, profissionais da saúde temos de lidar com a falta de equipamentos e paramentação adequada, de modo gerar ampla disseminação da infecção destes profissionais. Sem as condições adequadas de trabalho, sem os EPIs necessários, há aumento indiscriminado da exposição ao vírus. Além do que, a não testagem de profissionais de saúde, que quando assintomáticos e oligossintomáticos podem funcionar como verdadeiros potencializadores da infecção por amplificar a progressão exponencial da doença.
Cabe ressaltar que a submissão total aos interesses imperialistas estadunidenses, que simplesmente tratam o Brasil como um expurgo continental, está levando o país ao colapso. Houve recentemente o confisco de aparato (em território estadunidense) que seria destinado ao controle e disseminação da doença no território nacional, determinado pelo próprio governo dos EUA. Isso viola acordos bilaterais e multilaterais inclusive do Brasil com outros países, por pura imposição Imperialista, deixando países mais pobres como o Brasil à míngua. Tal cenário foi reforçado pela diplomacia imebecilizada que ataca um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, a China, que inclusive lidera mundialmente o fornecimento de equipamentos, insumos e testes, ou seja, aparatos essenciais para o controle da Pandemia. Sendo assim, o governo Bolsonaro age de modo suicida para com seu povo, e corta na raíz as poucas chances de cooperação internacional que o Brasil pode ter ao longo da Pandemia.
Por fim, temos uma Esquerda deslumbrada com o “sensato” Ministro Mandetta, que pelo seu retrospecto recente foi um dos apoiadores do golpe sobre a presidenta Dilma Rousseff, foi contra o programa Mais Médicos, agiu de modo a beneficiar Planos de Saúde, em detrimento do fortalecimento do SUS, e pouco parece agir concretamente na resolução dos problemas imediatos. Vale lembrar que o mesmo faz parte do alto escalão deste governo fraudulento, e que poderia, por meio de simples decretos, utilizar recursos no sentido de ampliar testagem, comprar equipamentos, respiradores, paramentação (EPIs) e construção de leitos. Temos na verdade uma figura que fica em disputa verbal e caricata, porém não menos trágica com Bolsonaro, sobre quem determinaria as ações sobre fazer ou não a quarentena ou isolamento social. Sendo asssim urge a palavra de ordem: Fora Bolsonaro. Para que com a mobilização popular, organizada e orientada consigamos que Bolsonaro, Mandetta, militares e os demais golpistas caiam, e que ações concretas do povo e pelo povo sejam instituídas, para que eles não consigam tornar o Brasil um imenso necrotério nas próximas semanas.
