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Eleições emunicipais

Após histeria e chantagem, o “boa sorte” à direita

A "luta contra o bolsonarismo" por meio das eleições se mostrou, afinal, uma farsa completa

A eleição municipal de 2020, a segunda após o golpe de Estado de 2016, foi mais um desastre retumbante para a esquerda parlamentar. Os partidos tradicionais da direita que domina o País, como DEM, PSDB, MDB, PP e PSD, que já comandavam a maior parte dos municípios, saíram como grandes vencedores. O PT, maior partido de esquerda da América Latina, obteve 75 prefeituras a menos que em 2016, e 451 a menos que em 2012. O PCdoB, segundo partido de esquerda com mais prefeituras no País, elegeu 36 prefeitos a menos que em 2016 — uma queda de 45%. Os partidos burgueses pseudo-esquerdistas, como PDT e do PSB, aliados frequentes da esquerda pequeno-burguesa, também tiveram um retrocesso: perderam, respectivamente, 5% e 33% do total de prefeituras.

O resultado não marca, de maneira alguma, um deslocamento do eleitorado — isto é, da população — à direita. Apenas demonstra que a burguesia foi bem sucedida, até certo ponto, em suas manobras para impedir que a revolta dos trabalhadores contra o governo Bolsonaro se convertesse em uma votação contrária aos interesses dos golpistas. E, se a operação foi bem sucedida, é preciso, então ter claro: a burguesia conseguiu levar até o fim as suas manobras porque não encontrou uma resistência organizada contra a fraude eleitoral.

O número de abstenções e votos nulos nas eleições deste ano foi muito grande, o que demonstra que a população não estava tão empolgada assim com a fraude das eleições. No entanto, a maior barreira que os trabalhadores encontraram para transformar essa insatisfação em uma reação organizada foi justamente a política capituladora e direitista dos partidos da esquerda pequeno-burguesa.

Imitação barata da direita

Mesmo com todo o circo montado para uma derrota humilhante, PT, PCdoB, PSOL, PCB e UP decidiram entrar de cabeça nas eleições como se houvesse alguma chance real de vitória. Até mesmo o PSTU, que não se coligou oficialmente com outro partido, nem tinha condição de eleger um único vereador, acompanhou a fantasia das demais legendas e seus candidatos começaram a prometer mundos e fundos “se forem eleitos” ou “no primeiro dia do mandato”.

De uma maneira geral, os candidatos da esquerda parlamentar, que estiveram ausentes na maior parte dos eventos relacionados à luta contra o golpe, compareceram às eleições como uma face esquerdista da política falida da burguesia para os municípios. Se a direita prometia “deixar as contas em dia” e aumentar o aparato de repressão, os candidatos dessa esquerda, ansiosos para conseguir um emprego bem remunerado às custas do povo, prometiam o mesmo.  Por mais que copiasse as promessas dos políticos burgueses à classe média e à burguesia, a esquerda pequeno-burguesa não percebeu que não dispõe dos mesmos recursos que seus adversários. Ou seja, mesmo adotando o mesmo programa da direita, o candidato da esquerda reformista, por não ter o apoio direto da burguesia, não tem condição de ser eleito.

À posição ridícula de defender os interesses da burguesia, sem sequer receber o apoio da burguesia, a esquerda pequeno-burguesa decidiu somar outro método igualmente sujo: a do estelionato e da extorsão política. Para superar o problema de não ter o apoio da classe dominante, os candidatos da esquerda pequeno-burguesa procuraram obter o apoio dos setores mais politizados da classe operária e da classe média se vendendo como os candidatos da luta contra o bolsonarismo e chantageando seus eleitores contra o mal do fascismo.

Por um lado, portanto, a esquerda pequeno-burguesa mentia “pela direita”, prometendo que iria fazer aquilo que a burguesia não quer que nenhum prefeito faça: dar saúde e educação para o povo. Por outro, a esquerda pequeno-burguesa mentia “pela esquerda'”, prometendo que sua vitória significaria o final da extrema-direita do País.

A farsa do “antibolsonarismo” da ala esquerda da Frente Ampla

Os candidatos da esquerda pequeno-burguesa nunca estiveram envolvidos com a luta contra o governo Bolsonaro. Apresentarem-se, como fizeram, como grandes heróis da luta contra o bolsonarismo é uma grande farsa. Guilherme Boulos (PSOL), assim como todos os demais, ficaram contra a palavra de ordem de “Fora Bolsonaro” por mais de um ano. Quando, finalmente, decidiram falar nesse sentido, estimulados pelas contradições entre a burguesia e o governo Bolsonaro, não atuaram no sentido desenvolver a luta pela derrubada do governo, mas sim para utilizar a campanha para barganhar, junto à burguesia, os seus próprios interesses.

Isso ficou claro em São Paulo quando Boulos entregou os atos pelos Fora Bolsonaro ao PSDB e à Polícia Militar. Apesar de o movimento das torcidas organizadas ter adquirido um caráter bastante radical, Boulos atuou abertamente no sentido de dissolver as manifestações, convidando a extrema-direita para dividir a Avenida Paulista, pintando os atos de azul e amarelo e tentando expulsar os partidos políticos.

Esses candidatos não correspondem a uma luta real contra o bolsonarismo porque, finalmente, são candidatos de uma política oposta à da luta para derrubar Bolsonaro e todos os golpistas. São os candidatos da “frente ampla”. Ao mesmo tempo em que Boulos atuou para destruir a mobilização em São Paulo, esteve se reunindo e assinando manifestos junto a Fernando Henrique Cardoso, Demétrio Magnoli, Armínio Fraga e todo tipo de bandido político. Na reta final de sua campanha, conseguiu ainda o apoio direto de Ciro Gomes (PDT) e Márcio França (PSB). Seu correligionário, Edmilson Rodrigues (PSOL), candidato no Pará, recebeu o apoio da juventude do PSDB e da Rede.

“Vote em Boulos para derrotar o fascismo”, “vote em Manuela D’Ávila para acabar com bolsonarismo” ou qualquer outra formulação do tipo, portanto, não passava de uma chantagem contra incautos. Como seria possível lutar contra o bolsonarismo, se a política da esquerda pequeno-burguesa tem sido a de se aliar com os pais do bolsonarismo? A política de “frente ampla”, que foi largamente utilizada nas eleições, é a aliança dos setores mais pequeno-burgueses da esquerda com a direita golpista. Direita essa que derrubou o governo Dilma Rousseff, prendeu o ex-presidente Lula e decidiu colocar Bolsonaro no poder para evitar que o PT ganhasse as eleições de 2018. Tão fraudulento como a clausura de barreira, que impediu a maioria dos partidos de esquerda de ter tempo na televisão e na rádio, é o argumento de que o bolsonarismo seria combatido pelos candidatos com o mesmo programa do bolsonarismo e aliados e promovidos pelos golpistas.

E a fraude foi tão grande que o recurso de votar no candidato “menos ruim” contra o fascismo chegou ao ponto de a esquerda pequeno-burguesa chantagear a população para votar em Eduardo Paes, do DEM!

A reprise do “boa sorte” aos direitistas

Se já era evidente que as candidaturas da esquerda pequeno-burguesa não representavam uma luta pelo Fora Bolsonaro de fato, isso ficou ainda mais escancarado após as eleições. Tanto Guilherme Boulos, como Manuela D’Ávila, desejaram “boa sorte” aos seus adversários, que venceram as eleições.

Disse Guilherme Boulos:

“Eu quero aqui cumprimentar o Bruno Covas [PSDB] e desejar que ele tenha sorte nos próximos quatro anos. E, acima de tudo, governe a cidade sabendo que uma imensa parcela da sociedade quer mudança. Quer que a periferia seja tirada do abandono, tenha vez e voz”.

Já Manuela D’Ávila:

“A sorte e o trabalho dele, serão a sorte da nossa cidade, do nosso povo, das mulheres e homens que vivem em Porto Alegre”.

Se a questão para o povo de São Paulo e de Porto Alegre depende unicamente da “sorte” de seus prefeitos, então toda a luta contra o fascismo deveria ser esquecida. Porque, afinal, o candidato pequeno-burguês não está disposto a um enfrentamento contra o fascismo: o “antibolsonarismo” é apenas um mote para colher votos. Agora, que já não é mais possível ganhar o “emprego dos sonhos” de Boulos e Manuela D’Ávila, decidiram abandonar completamente a população para enfrentar os fascistas sozinhos.

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