Se para aproximadamente 100 milhões de brasileiros (quase 90% da força de trabalho nacional), o momento atual é de desespero e angústia pela dificuldade em receber uma parcela da esmola destinada a mitigar o sofrimento da população, para os bancos, a gritaria é por lucros menores, seguindo o teor da imprensa capitalista desta terça-feira, 5 de maio.
É preciso esclarecer que os bancos não diminuíram seus lucros, ao contrário do que a propaganda mentirosa divulga. Por exemplo, foi divulgado que o lucro líquido recorrente do Bradesco neste primeiro trimestre, foi de R$3,753 bilhões, o que seria um recuo de 39,8% em relação ao ano passado. Nessa mesma linha, o Itaú divulgou R$3,912 bilhões nos três primeiros meses de 2020, redução de 43,1% ante o mesmo período de 2019.
A malandragem aqui está na manipulação do balanço. Para evitar um clima de pânico, (que também seria ruim para os negócios) junto à explicação sobre a redução nos lucros, a imprensa capitalista tem difundido que estes dois bancos privados, os principais do país, tiveram tal recuo nos lucros por que aumentaram as provisões para devedores duvidosos (PDD), diante da expectativa de inadimplência. Ora, a primeira coisa a ser destacada é que o famigerado spread (margem) bancário já considera a inadimplência nos custos que compõe a elaboração dos juros cobrados pelo banco.
Por exemplo, o mesmo Bradesco que anunciou redução nos lucros de 39,8% aumentou suas provisões em 86,1%, e isto, para compensar um aumento na inadimplência, que saiu de 3,3% em dezembro para 3,7% em março. Da mesma forma, o Itaú, a suposta crise pela queda no lucro de 43% é facilmente desmascarada diante da informação de que o PDD cresceu 147,2%, em função de uma inadimplência que permaneceu na casa de 3% durante o ano de 2019 mas passou pelo forte aumento de 0,1 ponto percentual, atingindo 3,1% em março deste ano.
A segunda é que a inadimplência em questão está justamente no campo da expectativa. Não se cumprindo, o dinheiro alocado a este fim não será queimado, uma obviedade. Não apenas isso mas até lá, o montante continua disponível para o verdadeiro cassino do qual vivem esses parasitas sociais.
A última questão e a mais importante a ser destacada é que o governo golpista de Bolsonaro, demonstrando de maneira muito clara a materialidade da luta de classes, disponibilizou aos bancos um montante de R$1,2 trilhão, supostamente, para que as empresas tomassem emprestado a juros subsidiados e com isso, evitassem a falência durante a crise impulsionada pela pandemia. Os banqueiros, que são tudo menos bobos, fizeram o óbvio: pegaram o dinheiro e aplicaram em títulos da dívida pública. Assim, da metade do orçamento que não está (por lei inclusive) destinada aos banqueiros, uma parte muito expressiva foi parar nas mãos destes banqueiros, que estão utilizando o presente para lucrar em cima dos impostos pagos pelo conjunto da população, especialmente a classe trabalhadora.
Os setores menores da burguesia nacional reclamaram amplamente do fato deste dinheiro não estar chegando aos demais empresários, ao que o governo, na pessoa do ministro da Economia, Paulo Guedes, respondeu com um plano que prevê novo repasse de R$40 bilhões com juro tabelado pela SELIC, 3,75% ao ano, o que é um verdadeiro escárnio. Primeiro por ser mais um roubo descarado contra os trabalhadores. Segundo por provar que a esmola dada pelo governo aos miseráveis do país poderia, com muita tranquilidade, ser de pelo menos o dobro do valor destinado. Pelo menos.
Casos assim comprovam o caráter do governo federal, inimigo da população por estar ligado a interesses que pretendem monopolizar o produto social (a riqueza) disponível. Não falta dinheiro ao país para fornecer uma segurança sanitária e financeira digna do povo trabalhador, o que falta é um regime político dedicado a isto, o que coloca a urgência do “Fora Bolsonaro” e da luta pelo poder político no plano mais destacado da atual conjuntura política.